Pular para o conteúdo principal

Ditadura africana bancou o enredo da escola de samba campeã de 2015 no Rio de Janeiro

Shot 005

Eu sempre digo, e a tese não é minha, mas de alguns renomados sociólogos e escritores nacionais, que o brasileiro tem uma moral seletiva e relativa. O Brasil é um país em que o latifundiário pode até ser a favor de uma reforma agrária, desde que não dividam as terras dele.

Eu, por exemplo, quando do plebiscito para opinar sobre o sistema de governo, disse que até votaria e faria campanha a favor da monarquia, desde que o rei fosse eu.

Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, o sanguinário ditador da Guiné Equatorial, oprime o país há 33 anos. Seu regime, segundo o ranking anual da Freedom House, é o mais fechado de todas as ditaduras e tem nota zero em direitos humanos.

A liberdade de imprensa na Guiné Equatorial é zero e o país, segundo o "US Trafficking in Persons Report", é uma das principais fontes e destino de tráfico de pessoas, principalmente “mulheres e crianças vítimas de trabalho forçado e tráfico de sexo."

A Guiné Equatorial, segundo a ONU, tem o 144º IDH dos 187 países pesquisados no mundo, apenas 30% das pessoas tem acesso à água potável e 20% das crianças morrem antes de completar cinco anos.

Foi das mãos de Teodoro Mbasogo, que mantém esta calamidade com mãos de ferro e tornou-se bilionário com o petróleo que o país produz (a Guiné Equatorial é o terceiro maior produtor de petróleo da África), que a Escola de Samba campeã de 2015 do Rio de Janeiro recebeu R$ 10 milhões para exaltá-lo e, com certeza, 100% dos brincantes e torcedores da escola, reprovam e repudiam os escândalos de corrupção no Brasil.

Shot 006

Ou seja, em um dos lados da moeda da moralidade nacional, está um valor de face que aceita a corrupção e a opressão, desde que o produto seja repartido com eles. Em assim sendo, o ditador ainda tem direito a camarote de luxo para assistir a folia paga com o fruto do seu fuzil.

Shot 007

Mas não chega a ser uma esquizofrenia o comportamento, afinal, no caso do Petrolão, por exemplo, o dinheiro é o nosso e, portanto, urramos. Os dólares do Teodoro Mbasogo são do povo oprimido da Guiné Equatorial, então ele pode roubar à vontade e nós aceitamos ser os receptadores sem maiores julgamentos morais.

Vivas a nós!!

Comentários

  1. Parsifal sou seu critico da união com os Barbalhos mas lhe reconheço a inteligência e cultura. Seu comentário neste caso e perfeito. Brilhante mesmo

    ResponderExcluir
  2. Ismael Moraes19/02/2015, 10:03

    Excelente artigo, Parsifal, observando esse relativismo na permissividade de violações, desde que esteja aderindo a algum benefício para si ou ao grupo de que participa, que passou a fazer parte da "moral" nacional.

    ResponderExcluir
  3. Nobre Deputado,
    Permita-me acrescentar que em 2003, o ditador declarou oficialmente ter conexões permanentes com Deus, o que lhe permitia matar qualquer pessoa que quisesse, sem dar explicações para ninguém – e sem ir para o inferno.
    É mais uma das muitas ironias da vida carnavalesca brasileira, onde tudo, literalmente, acaba em samba.

    ResponderExcluir
  4. A beija flor desfilar patrocionada com o sangue, já é um absurdo, agora esta escola ser campeã, é a consagração da hipocrisia.
    Este Ditador deveria sair preso, e o mesmo saiu do BRASIL, consagrado.
    E o que fez a BEIJA FLOR, abriu a porteira para outros absurdos, pois, se alguma escola resolver homenagear HITLER, quem irá impedir?
    Triste Brasil

    ResponderExcluir
  5. Francisco Márcio19/02/2015, 13:39

    Excelência esta opção da Beija-Flor só mudou a nacionalidade do patrocínio. Pois, o carnaval em tela, sempre foi financiado por quem age à margem da lei, e faz tempo...
    É a internacionalização do patrocínio.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É verdade. Logo abaixo, no comentário das 14:12, há uma transcrição que irá para o frontpage amanhã de manhã.

      Excluir
  6. Bernardo Mello Franco, na Folha de S.Paulo
    Não basta reclamar da Beija-Flor, que levantou o troféu com patrocínio do sanguinário ditador da Guiné Equatorial. Uma conversa a sério sobre o financiamento do Carnaval do Rio precisa discutir os repasses de verba pública às escolas de samba e o controle da festa mais popular do país por uma entidade ligada ao crime, com as bênçãos do Estado e da prefeitura.
    A escola campeã, comandada há décadas por um contraventor de Nilópolis, está longe de ser exceção. A simpática Portela tem como patrono um miliciano, a Mocidade Independente pertence a um capo dos caça-níqueis, a Imperatriz Leopoldinense está nas mãos de um ex-torturador que virou bicheiro.
    Os quatro já estiveram presos e continuam a reinar na Marquês de Sapucaí, onde têm livre acesso aos camarotes e são reverenciados por artistas e políticos. Eles mandam na Liesa, a liga que organiza os desfiles na Marquês de Sapucaí.
    Em 2008, uma CPI da Câmara Municipal do Rio concluiu que a entidade deveria disputar licitação se quisesse continuar à frente do Carnaval. O então prefeito Cesar Maia foi contra. Os postulantes à sua cadeira evitaram o assunto. Eduardo Paes venceu a eleição, e pouca coisa mudou no Sambódromo.
    A prefeitura continuou a injetar dinheiro nas escolas até 2010, quando o Ministério Público mandou suspender os repasses. A verba direta foi substituída por patrocínios a eventos paralelos. Os conselheiros do Tribunal de Contas do Município, que deveriam coibir a farra, assistiam a tudo em quatro camarotes na avenida, depois devolvidos por ordem judicial.
    Paes já ensaiou licitar o desfile, mas desistiu alegando falta de interessados. Em 2012, quando concorria à reeleição, foi cobrado em sabatina do jornal “O Globo” sobre a permanência dos bicheiros. “Chato é, mas vou fazer o quê? Acabar com o Carnaval?”, perguntou o prefeito. Aí está um bom tema para os candidatos à sua sucessão no ano que vem.

    ....

    Jorge alves

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado Jorge, o artigo irá para o frontpage amanhã.

      Excluir
  7. Mais um adendo: o ditador Teodoro Mbasogo não esteve no sambódromo, o que não muda em muita coisa a postagem, exceto na legenda da foto...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Há controvérsias. Já estão perguntando quem era o sósia: o que estava no Camarões ou o que estava na Sapucaí? Na primeira postagem da manhã eu trato disso.

      Excluir
  8. Mas o senhor está bem acompanhado - pelo Wall Street Journal: A photograph in the World news section incorrectly identified one of the guests at this year’s Carnival in Rio de Janeiro as Equatorial Guinea’s leader, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo. (Feb. 17, 2015).

    ResponderExcluir
  9. Não esquecendo que o estado do pará, que detém os piores idh do país, com a nota da educação próxima de zero, saúde em situação calamitosa, segurança inexistente e muito mais mazelas, também já torrou alguns milhões nessa farra.

    ResponderExcluir
  10. É de se lamentar tudo que se vê é ouve nesse país é digno de vergonha. ..o País está doente acredito eu em estado terminal

    ResponderExcluir
  11. engraçado que a apresentadora da globo não fica indignada quando dinheiro da ditadura militar jorrava nos cofres da rede globo.somos e muito hipócritas
    laredo.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Comentários em CAIXA ALTA são convertidos para minúsculas. Há um filtro que glosa termos indevidos, substituindo-os por asteriscos.

Postagens mais visitadas deste blog

Mateus, primeiro os teus

Convalescendo da implantação de um stent , o governador Simão Jatene (PSDB-PA) foi apanhado, ainda no Hospital do Coração (SP), na manhã de ontem (03), por uma desagradável matéria da “Folha de S. Paulo” reportando que “ao menos sete familiares, além da ex-mulher e da ex-cunhada” de Jatene exercem cargos de confiança no Executivo, no Legislativo e no Judiciário do Pará. A reportagem declara que, somados, os salários dos familiares do governador “ultrapassam R$ 100 mil mensais”. > Sem incidência de nepotismo As averiguações já foram matérias em blogs locais. Quando me foi perguntado se feriam a Súmula 13 do STF (nepotismo), opinei que não, o que foi agora ratificado pela reportagem da “Folha” que, ouvindo “especialistas” declarou que os “casos não se enquadram diretamente na súmula vinculante do STF”. Nenhum dos parentes ou afins relacionados pela “Folha” está a cargo de órgãos vinculados ao executivo estadual e a matéria não demonstra a existência de cargos ocupados, no Poder...

O HIV em ação

A equipe do cientista russo Ivan Konstantinov arrebatou o primeiro lugar no “International Science and Engineering Visualization Challenge”, um concurso que premia imagens científicas da forma mais verossímeis e didáticas possíveis. Abaixo, a imagem em 3D do mortal vírus da Aids (HIV), em laranja, atacando uma célula do sistema imunológico, em cinza. A tática do HIV é se estabelecer dentro da célula, sem destruí-la. Na imagem abaixo foi feito um corte para mostrar o HIV já estabelecido no núcleo da célula imunológica, usando-a para se reproduzir, expelindo mais vírus que atacarão mais células imunológicas para torna-las hospedeiras, por isto o sistema imunológico do portador do HIV fica reduzido. As imagens foram retiradas do portal russo Visual Science .

Parsifal

Em uma noite de plenilúnio, às margens do Rio Tocantins, o lavrador pegou a lanterna e saiu correndo de casa à busca da parteira. Sua mãe, uma teúda mameluca, ficou vigiando a esposa que se contorcia com as dores do parto. Quando voltou com a parteira, o menino já chorava ao mundo. Não esperou: simplesmente nasceu. A parteira cortou o cordão umbilical e o jogou ao Rio Tocantins. Após os serviços de praxe de pós parto, a mãe de Ismael o chamou ao quarto para ver o filho. O lavrador entrou no quarto. A lamparina o deixou ver a criança ao peito da mãe: nascera Parsifal, pensou ele orgulhoso. O lavrador pegou uma cartucheira calibre vinte, carregou o cartucho ao cano, armou e saiu à porta. O Tocantins espreitava-lhe manteúdo. Apontou a mira da vinte à Lua e disparou: era assim que os caboclos do baixo Tocantins anunciavam a chegada de um homem à família.