O ditador norte-coreano Kim Jong-un tem 80% de chances de estar blefando ao, de forma contumaz, anunciar aos quatro ventos que possui mísseis capazes de transportar ogivas nucleares. A retórica pode ser um erro como política externa dissuasiva.
Disparar um foguete rumo a um alvo é coisa ginasial hoje em dia. Colocar nele uma ogiva nuclear funcional são outros mil e quinhentos que dificilmente a Coreia do Norte tem, a não ser que a China ou a Rússia tenham resolvido, em um grave lapso de juízo, entregar a encomenda já pronta ao doidivanas de Pyongyang.
Mesmo esta hipótese é altamente improvável, pois, louco como é Baby Kim, qualquer brinquedo negado ao seu capricho impúbere, pela proximidade, é mais fácil acertar o alvo da baladeira em Moscou ou em Pequim do que, pela distância, em Washington.
Por essa brincadeira de dizer o brinquedo que não tem, como forma de dissuasão, foi que, em 2003, os EUA derramaram bombas sobre o a cabeça do então ditador Saddam Hussein, sob a justificativa de que ele possuía arsenal químico e nuclear em franca finalização: a tal guerra de prevenção, que os republicanos estadunidenses adoram lançar mão quando cismam que a segurança doméstica está ameaçada.
O blefe de Saddam Hussein lhe custou, três anos depois de ser arrancado de um buraco em ad-Dawr, onde se escondia desde a queda de Bagdá, as vértebras do pescoço, condenado que foi, em um tribunal iraquiano de autos marcados, à forca.
É certo que a posição peninsular da Coreia do Norte, como faixa lindeira do Mar da China e do Japão, à curta olhada dos binóculos de Moscou, empresta ao país uma posição geopolítica estratégica extremamente favorável à Pyongyang: esse é o verdadeiro míssil intercontinental que Kim possui.
Essa geografia acautela os senhores da guerra estadunidenses a contarem até cinco antes de aconselharem Donald Trump a deflagrar a invasão da Coreia do Norte, principalmente porque, antes que os EUA estacionem uma frota no Mar do Japão, ou mesmo no Mar das Filipinas, Kim Jong-un já teria dado conta de atormentar Seul, na Coreia do Sul, aliada dos EUA, a meros 195 quilômetros de Pyongyang.
Mas não se deve desatentar que o presidente dos EUA, Donald Trump, é tão desmiolado quanto o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un. E como para conter um doido tem que ter um doido e meio, o perigo que Kim deveria considerar, para não virar um Saddam Hussein, é que essa metade a mais que Trump precisa pode aparecer em meros segundos de contemplação daquele óleo que retrata George Washington, pendurado em frente à "Mesa do Resolute", onde senta para despachar, no Salão Oval, o homem mais poderoso do mundo.
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