Em 2012 o deputado federal Rubens Bueno (PPS-SP) foi à tribuna da Câmara denunciar “um esquema criminoso de fiscais do Ministério da Agricultura” no estado do Paraná.
Bueno protocolou na Mesa Diretora um requerimento endereçado ao então ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho, alçado ao cargo na cota do PMDB, no qual repetia a denúncia, pedia apuração e dava nome aos bois: a suposta “quadrilha” era liderada pelo então superintendente regional do Paraná do Ministério de Agricultura, Daniel Goncalves Filho.
O requerimento dormiu durante os cinco anos que se passaram desde então e, quiçá, em sendo agora despertado, reproduza ipso facto o relatório do inquérito conduzido pela PF que culminou com a Operação Carne Fraca, deflagrada ontem (17.
Para demonstrar isso basta constatar que um dos mais importantes presos na referida operação é justamente o agora ex-superintendente do Ministério da Agricultura do Paraná, Daniel Gonçalves Filho, acusado pela PF de “comandar o esquema que vendia carne vencida no Brasil e no exterior”.
“Leis são como salsichas. É melhor não ver como elas são feitas”. Eu já esgotei as minhas leituras sobre Otto von Bismarck, o político e diplomata prussiano, também conhecido como “Napoleão da Alemanha”, e não li em nenhuma delas algo que demonstre ter sido ele o autor da frase que inicia o parágrafo, mas atribuiu-se a ele o dito.
Tenha ou não tenha sido ele, a frase mais do que nunca é verdadeira no Brasil, pois o relatório da PF decupa diálogos entre executivos de frigoríficos que comprovam a porcaria que o consumidor pode estar ingerindo há mais de uma década, em forma de embutidos.
A cena do papelão, embora repercutida de maneira equivocada, pois no diálogo se sugeria o material para embalagem e não para composição, acabou sendo a mais perfeita tradução do desfazimento moral a que chegamos, à medida que os maiores empresários do ramo alimentício do Brasil conjugam-se com fiscais sanitários, visando auferir como quociente do conluio, aqueles o lucro e esses a propina.
Ambos gingando os ombros ao consumidor e ameaçando a quebra dos pratos da balança comercial do Brasil, o segundo maior exportador de carne bovina do mundo, atrás apenas dos EUA. E não há dúvida de que o episódio vai ameaçar a nossa posição.
Sustenta a PF, no meio da bordoada que sova setor (as empresas apanhadas pela Carne Fraca, listadas na Bolsa, perderam R$ 5,9 bilhões em valor de mercado desde ontem), que parte das propinas que sangravam as carnes era dirigida ao PMDB e ao PP, o que, mais uma vez, demonstra a contumácia da digital do sistema político na cobrança de salário ao crime.
A afirmação seria mais apurada se mais específica fosse e nominasse quem do PMDB e do PP participava do banquete, pois a metonímia, em casos símiles, acaba sendo um tropo inadequado.
A observação, todavia, não elide a participação das siglas no crime. Pelo que mais não seja, demonstra um viés da prática de ocupar cargos de livre indicação na estrutura orgânica da administração pública, não para embarcar o programa partidário, mas com o mero intuito de usufruir, criminosamente, do espaço adquirido.
Infelizmente, a prática exposta pela Carne Fraca, há muito, está impregnada em toda a República e não apenas nos estados onde a PF agiu. Mas pelo menos a operação trouxe à luz o problema.
E atentai, pois essa turma tem estoque de ácido sórbico suficiente para se conservar por mais algum tempo.
O País está se tornando a cada dia que passa um intestino a céu aberto...e nós não nos estarrecendo com mais nada..onde chegaremos?
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