Enquanto Donald Trump tenta pautar a sua agenda de barreiras comerciais a um Congresso que resiste, a Organização Mundial do Comércio (OMC) vota hoje (21), já com dois terços dos membros garantidos, a entrada em vigor do acordo de desburocratização do livre comércio mundial assinado em 2013, inclusive pelos EUA, que se traduz na medida de maior repercussão no comércio global em 20 anos.
No Brasil, signatário do acordo, afirma a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a entrada em vigor teria expansão comercial tão, ou mais, significativa quanto foi a criação do Mercosul, nos anos 1990.
As medidas de desburocratização de exportações e importações visam diminuir custos, suprimir emolumentos e reduzir impostos. A consequência poderá vir na formalização de parte de um fluxo de bens contrabandeados entre as nações que têm valor estimado em US$ 8 trilhões (!), quase a metade do PIB dos EUA, o maior do mundo.
A OMC estima que, “no médio prazo”, a medida trará ganhos de US$ 1 trilhão para a economia mundial. É o que eu sempre digo: o desafio da genialidade é usar todo o conhecimento científico para fazer coisas simples.
A providência foi tirada da prateleira como um recado do mercado a Donald Trump e também funciona como um reforço ao discurso dos democratas e parte dos republicanos, nos EUA, que começam a resistir às investidas de uma pauta isolacionista.
Trump sabe que os EUA não suportam a sua pauta, pois a economia doméstica mundial é extremamente dependente das trocas, novo na mesa política, joga o truco que está vezeiro em fazer nas suas próprias empresas, no qual, aliás, só tem apresentado blefes quando a adversário paga para ver.
É que a teoria política na prática é diferente.
Mas para o Brasil, embora signatário e eleitor da implantação, o fato se difere em muito da narrativa, pois não fizemos o dever de casa desde 2013: assinamos e esquecemos de providenciar as mudanças na estrutura legal interna que recepcionariam as regras que nos comprometemos a seguir na política de mercado externa.
Por isso, a CNI corre atrás do prejuízo que, com certeza, a indústria local terá com um comércio exterior desregulamentado e a legislação doméstica sem ferramentas que possam estabelecer a nova linha de montagem que a resolução terá na ordem mundial.
Mais uma vez, portanto, se não formos céleres, estaremos em uma festa do século XXI vestidos com trajes do século XVIII. E a festa não é de fantasia, mas traje a rigor mesmo.
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