O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, chegou ao Brasil com a carteira recheada de dólares, bilhões de dólares.
Embora a presidente Dilma aproveite a visita politicamente, Li Keqiang atravessou o mundo para fazer negócios: é a macroeconomia chinesa lançando os dados na América Latina, onde tem significativos interesses estratégicos.
Confiante na recuperação econômica do Brasil e sabendo que uma alavancagem do PIB nacional nos próximos cinco anos significará pesados investimentos em infraestrutura, a China quer se instalar no camarote antes do show começar.
Quer ainda a China, com a decisão de transferir entre US$ 80 e US$ 100 bilhões para o Brasil, criar condições para preencher o fosso empresarial na construção pesada, causado pela derrocada das principais empreiteiras nacionais no furacão da Lava Jato.
O Governo Federal faz bafo insinuando que o aporte chinês é uma compensação ao corte orçamentário de cerca de R$ 80 bilhões, em 2015: a presidência tirou com uma mão, mas cuidou para que a China desse com outra. Isso não resiste a um fato: os bilhões da China não chegarão em 2015, mas o corte orçamentário já chegou.
Li Keqiang doura a pílula: "Além de exportar, gostaríamos de instalar fábricas e bases para produzir, gerando empregos locais". Palmas! Mas o clap-clap é protocolar: a China precisa de mercados externos, pois o seu consumo interno engrola na expansão da sua planificação econômica.
Há, por outro lado, uma irreplegível pressão comercial para que o dragão cuspa parte do fogo no pasto onde busca estoque para a fornalha, ou as barreiras buscarão nivelar os preços Made in China através dos impostos de importação, como forma de proteger a indústria doméstica.
E como a China contornaria a pressão? Produzindo localmente, e aí se explica a bondade de Li Keqiang em gerar “empregos locais”. Captaram? Só mesmo os que acreditam que Simão Jatene trouxe o grupo Cevital ao Pará é que acreditam que uma economia de 10 mil anos meteria prego sem estopa em uma embarcação derivada.
E prosseguiu Li Keqiang, referindo-se a um salamaleque do governador do Rio de Janeiro: "O governador falou sobre como as pessoas estavam satisfeitas com os trens do metrô que fornecemos, de alta qualidade".
Somos uns cínicos, mesmo (refiro-me a nós, políticos): os usuários ficam satisfeitos com um metrô que preste bons e eficientes serviços, não importando serem os trens e os trilhos da China ou do Iraque.
A visita fechou-se com um trilho de ouro: a sonhada ferrovia transoceânica, ligando o Atlântico ao Pacífico, rasgando o continente do Brasil ao Peru.
Outra bondade chinesa? Não, outra conveniência estratégica e um espetacular valor agregado na logística chinesa instalada a 17 mil quilômetros de Pequim (isso é que é um país que sabe o que quer: 10 mil anos de história, lembram?).
Com a transoceânica a China não mais precisará contornar o continente, pelo norte ou pelo sul para transportar as montanhas de minérios que estamos vendendo para ela.
Principalmente ao norte, onde se obrigam os panamax a esgueirar pelo Canal do Panamá, debaixo do nariz dos EUA, com quem a China, desde sempre, mantém uma Pax Armada.
Livres do dito canal, os chineses poderão romper os limites dos panamax e construir leviatãs marítimos para transportar o triplo do que fazem hoje por unidade, cortando na mesma proporção o custo do transporte.
Tudo bem, a ferrovia, que só sairá do papel se a escatológica legislação nacional não atrapalhar – a neurologia chinesa pode desistir quando terminar de ler o primeiro parágrafo dos tomos que regem o licenciamento ambiental – trará benefícios logísticos ao Brasil, também. Mas vamos deixar os chineses fazerem tamanha festa por meros US$ 100 bilhões em investimentos?
Claro que como o santo é de terracota, devemos cuidar do andor, pois as barbas de Confúcio não se derramam apenas no Brasil e na América do Sul, mas em igual voracidade na África Oriental. Todavia, é hora do Brasil devolver valor à política externa e não tratar temas desta envergadura com o amadorismo de quem vai tomar café na Argélia.
Ou tratamos de empinar a espinha dorsal da política externa com gabarito, ou não vamos nos curar da escoliose que nos acomete desde que enterramos o Barão do Rio Branco, afinal, como ensinou o Confúcio “não são as ervas más que afogam a boa semente, e sim a negligência do lavrador.”
Texto0 completo. Erudito e simples ao mesmo tempo.Parabéns Deputado
ResponderExcluirParabéns pelo texto.
ResponderExcluirFrase do dia
ResponderExcluirSe governo do PT, em seus 13 anos, tivesse trabalhado mais parcerias com China e EUA, ao invés de Venezuela e Sudão, o Brasil estaria próspero e não falido”
Deputado Arthur Virgílio Bisneto, PSDB-AM
O Brasil não está falido. É a sétima maior economia do mundo, com PIB praticamente similar à da Russia e Alemanha, a sexta e quinta maior do mundo respectivamente, e todas as projeções indicam que assim devemos permanecer até 2020, quando poderemos passar a Rússia.
ExcluirO comentário do anônimo acima deve servir como exemplo sobre a viagem do governador Simão Jatene (PSDB) à Argélia. Vale lembrar que o Maranhão nosso vizinho, poderá receber investimentos para implantação de uma siderúrgica vindos de empresários chineses.Vai funcionar com minérios extraídos da Serra dos Carajás, no Pará.
Excluirhttp://exame.abril.com.br/negocios/noticias/vinci-vende-fatia-na-equatorial-por-r-700-milhoes
ResponderExcluirA metralhadora está girando, girando... acertou o pescador (ops!) governador, a presidente(a), Renan... O que me admira é a lealdade, ou seria andolatria, ao seu chefe, sobre esse, nem com tortura chinesa saí um pio... Falta assunto do chefe? Fale sobre a prescrição, dos setenta anos... É só uma sugestão...
ResponderExcluirJá lhe disse. Se elogios não puder fazer aos meus amigos, mal jamais falarei deles, pois os poucos que tenho não tenho a menor intenção de perder e não tenho mais idade para fazer novos, dado o tempo que exijo para aceitá-los no meu restrito clube.
ExcluirParsifal, excelente análise das "bondades da China". Para quem tem a mão de obra mais barata do mundo é um grande negócio aplicar em infra estrutura em um país como o Brasil, sobretudo na parte ferroviária O " capitalismo de mercado aberto" que está fazendo Marx e Engels tremerem em seus túmulos, precisa alocar a sua mão de obras em países continentais como o nosso.Como nós temos leis trabalhista que presrvam a dignidade dessa força laborial, temo que em futuro próximo, a China não conseguindo trazer o seu excesso populacional, comece a criar dificuldades nos acordos alinhavados. De nossa parte temos de rezar para que no trajeto das ferrovias, não sejam encontrados machados ou similares de índios, nem pererecas em extinção.
ResponderExcluirÉ meu amigo Ronaldo. Os nossos amigos de olhos puxados precisam matar dois dragões por dia para sobreviverem, mesmo na maior economia do mundo, mas com um per capita e uma distribuição de renda sofríveis. Precisam encontrar dragões para matar alhures e facilitar o transporte da carne do bicho para casa.
Excluiruma brincadeirinha:
ResponderExcluircliente de restaurante na china: garçon, caiu uma mosca na minha sopa
garçon: pode comer, não vou lhe cobrar, fica como cortesia da casa.
tenho lido que os chineses querem fazer obras usando 100% mão de obra chinesa, passando por cima de uma lei que exige 2/3 de mão de obra brasileira para todas as empresas.
penso que o brasil não deveria ceder muito nesse aspecto.
para construir rodovias, ferrovias, pontes, deveriam utilizar mais o exercito, inclusive convocando as multidões de militares reformados, se a lei permite.
roberto
Creio que poderíamos pensar na relação comercial China x Brasil. Quaisquer números apontam de forma bastante acentuada a diferença atual sobre este item. A nossa exportação para a China é bastante elevada no que diz respeito às commodities, ou seja , produtos que não agregam valores, apenas produtos primários como soja e minérios, com preços baixíssimos. Os números de nossos produtos manufaturados que agregam valores que exportamos para aquele país são quase zero. Enquanto isto o contrário é verdadeiro importamos em grande número produtos industrializado e quase zero de commodities. Isto lembra as relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos nos anos 50 e 60. Quanto a Marx e Engels, que fiquem por lá e que nos tragam a filosofia de Confúcio ainda exercitada em grande parte daquele país. Poderemos estar trocando Tio Sam pelos Dragões.
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