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Era fazer isso ou ficar sem serviço…

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Publicou hoje (19), a Folha de S. Paulo, uma entrevista com um dos sócios da Engevix, Cristiano Kok, presidente do conselho de administração da empresa.

Vivi a construção da Hidrelétrica de Tucuruí, a primeira grande obra de hidroeletricidade na Amazônia. Através da minha banca, sediada na cidade, convivi com a maioria das empresas que tomavam parte da construção.

A ditadura militar fazia como queria e dava a obra a quem queria: era absoluta. Todas as grandes empreiteiras de hoje adquiriram a prática, que agora se desnuda, à época da ditadura. O equívoco foi ter dado continuidade ao costume na democracia, onde se pode esconder mal feitos por muito tempo, mas não por todo o tempo.

O consórcio Engevix-Themag fazia a engenharia consultiva da obra e Cristiano Kok era funcionário da Engevix, cujo dono era João Rossi, que hoje preside a Rossi Residencial, uma das maiores incorporadoras do Brasil.

Creio que pelos idos de 1997, Cristiano Kok, Gerson Almada e José Antunes Sobrinho, funcionários da Engevix, propuseram a compra da empresa à Rossi, que queria se dedicar exclusivamente ao ramo imobiliário.

Eu acompanhava a negociação através de um amigo comum que faleceu de um câncer há três anos, em São Paulo, que dirigia o consórcio Engevix-Themag em Tucuruí.

Quando a trinca comprou a Engevix ela era uma empresa meramente consultiva e eles conseguiram, em seis anos, alavancar um faturamento anual de R$ 100 milhões para cerca de R$ 1 bilhão.

Os três sempre foram muito trabalhadores e dá-me angústia ver a situação em que se encontra hoje a empresa, por conta do relacionamento com a Petrobras, às voltas com a Lava Jato.

Gerson Almada, um dos diretores, está preso em Curitiba. Kok e Antunes, cá fora, tentam salvar a Engevix, que ameaça falir por estar à beira de um abismo que cavou com os próprios pés, ao ter aceitado entrar no conluio empresarial com o poder público no Brasil, o qual Kok desvela na entrevista à Folha.

Eu sempre afirmo que a nossa vida depende das nossas escolhas, mas algumas vezes forço-me a concordar com Schopenhauer quando ele tenta demonstrar em “O Livre Arbítrio”, que esse não passa de uma construção teológica e que o ser humano é tangido ao tronco pela conjuntura que o cerca.

Na entrevista, Kok afirma que “era fazer isso ou ficar sem serviço”. É lícito opinar que aí, obviamente, há uma escolha, mas uma empresa que acabou tendo 80% das suas atividades ligadas ao setor público, poderia fazer escolha diversa? Isso talvez seja aquela escolha que o suicida faz entre tirar a própria vida ou viver: na esmagadora maioria das vezes, viver é o fado escolhido.

Podem haver escolhas que, de fato, não dependam do seu arbítrio, mas das suas circunstâncias, isso, todavia, não descriminaliza o ato porque o direito penal não proíbe ninguém de fazer coisa alguma, “tão somente” tipifica a atitude e lhe comina a pena.

Para ler a entrevista de Kok, clique aqui.

Comentários

  1. Anos atrás, a Engevix fez os Planos Diretores dos município banhados pelo lago da hidrelétrica de Tucuruí. Se procurar aleivosia, acha.

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  2. a palavra extorsão está mal empregada..é obvio que era um acordo de "CAVALHEIROS" e quem pagava o excesso no valor da obra era e somos nós...o acordo se trnaformou em extorsão porque foi descoberto isso é o "mundo real"

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  3. O fundo do poço já chegou, agora não dá só pra chorar e dizer que sempre foi assim, se o sempre foi assim a Petrobras já tinha quebrado antes do Lulinha Nãosedenada chegar na presidência. Foram só dez anos (2004 / 2014) e a \Petrobras ainda tinha capital, e muito, em 2004. FORA PT E PMDB!

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  4. É difícil acreditar que os colossos, do Brasil, no ramo da infraestrutura e construção foram TODOS JUNTOS subjugados e "forçados" a pagar o pedágio da avenida Petrobrás. Não devemos esquecer que as empresas se organizavam e determinavam quais contratos caberia a cada uma delas e os "achacadores" só queriam a parte que lhes cabia independente de quem pagasse.

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  5. SERGIO DONIZETTI SIQUEIRA30 março 2015 09:45
    TRABALHEI 12 ANOS DESDE O INICIO DE DA ENGEVIX SAO PAULO,
    FICO MUITO
    TRISTE COM ESTA SITUAÇÃO

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