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Thomas Piketty com “O Capital do Século XXI”, é igual Leopoldo em “Para Roma com Amor”

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A esquerda que degusta cappuccino à la crème fraîche nas mesas do circuito Elizabeth Arden tem um novo Friedrich Engels. Trata-se de Thomas Piketty, um jovem economista francês (43 anos) que precocemente laureou-se na espécie, depois de ter conquistado, aos 22 anos, um doutorado em filosofia com uma tese sobre redistribuição de riqueza.

O prodígio escreveu o “revolucionário” best-seller “O Capital no Século XXI”, e no circuito capital versus trabalho, quem não quiser ficar na base do hum-rum nas mesas eruditas, está obrigado a ler o tijolo de 700 páginas.

Quando eu vou ao cinema e não gosto do filme, não levanto: vou até o final, pois, não mais que de repente, o negócio pode engrenar. Com livros é a mesma coisa. Por isso, a priori, pensei em dar os ombros a Piketty, desconfiando que ele não reinventara a roda.

Mas a pressão foi tanta que cedi: foi um martírio. “O Capital no Século XXI" é mais do mesmíssimo. Devo estar senil em plenos 55 anos, pois não consegui ver onde está a genialidade do tema e a originalidade das letras que 10 em cada 10 articulistas pregam.

São investidas 700 páginas para imprimir dados encontrados de graça nos relatórios anuais de centenas de órgãos supranacionais que medem a riqueza do globo e a distribuição dela, para ao final concluir o ululante: o atual modelo econômico é concentrador de renda e “a taxa de acumulação de renda é maior do que as taxas de crescimento econômico”. 

O cartunista brasileiro, Angeli precisou de apenas uma charge para dizer, em 2005, o que Piketty gastou 700 páginas para dizer em 2014: 

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Mas se a peroração é óbvia, é com o corolário do livro que os neomarxistas fazem sexo selvagem e têm orgasmos múltiplos: Piketty sugere que a única forma de estancar a concentração da renda é um imposto sobre as grandes fortunas.

Nada de novo: taxar grandes fortunas é sugestão oferecida por fiscalistas desde que Quéops começou a erguer a maior das pirâmides de Gizé. E naquela época a riqueza era bem mais concentrada: só o faraó detinha tudo.

O único mérito do livro é que enquanto os escritos sobre o tema costumam rebuscar os parágrafos com cabalas matemáticas para formatar erudição econômica, Piketty apela para o coloquial: talvez daí venha o sucesso da sua empreitada literária.

Mas o que mais eu acho graça é que todos os artigos que já li sobre o livro procuram rebuscar as letras, ruminando teorias que vão do dueto Marx-Engels até Paul Krugman. Resultado: os artigos desfilam esnobismos que o autor do livro quis evitar.

Isso me lembra “Para Roma com Amor”, de Woody Allen, no qual, em um dos episódios, Leopoldo (Roberto Benigni), um homem comum, é repentinamente confundido por toda a imprensa com alguém famoso, e isso lhe tira o sossego. Mas quando ele começava a gostar, a imprensa o esquece completamente ao confundir outro homem comum com alguém famoso de novo: toda fama repentina é fugaz.

Destarte os seus méritos acadêmicos, Thomas Piketty, no que concerne a “O Capital no Século XXI”, não passa de um Leopoldo e, embora o livro tenha vendido o suficiente para o seu autor frequentar o circuito Elizabeth Arden na business class, não vale os R$ 42,66 que lhe cobra a Saraiva.

Comentários

  1. Parsifal, tive a mesma reação que tiveste ao ler o livro do Thomas Piketty, e tenho
    certeza, que após ser incensado pela mídia, servirá apenas, como peso para papel
    O receituário, como demonstras, data de bem antes de Cristo. Que bom que o comparaste com o Leopoldo de "Para Roma com Amor" A diferença é que "Leopoldo é um ingênuo burlesco, enquanto o Piketty, com fumaças de "grande" futurólogo," já está colhendo os dólares e euros que os néscios como nós, pagamos a SARAIVA.Por fim, já leste o livro do Leonardo Padura, "O Homem que amava os Cachorros? Como HISTÓRIA, considero um primor.

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    Respostas
    1. Olá meu amigo Ronaldo. E não é com o dinheiro dos néscios que essa turma faz fortuna? O que seria deles se não fossemos nós? Eis a questão: livros e filmes você tem que pagar antes e se não gostar não tem direito a estorno, como acontece com os programas da Play Store do Google.
      Ainda não li "O Homem que amava os Cachorros", mas como a recomendação é sua, vou comprar e ler.

      Excluir

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