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Dilma Rousseff na ONU: discurso bom, ação zero

Em um duro discurso ontem (24) na ONU, a presidente Dilma falou mais para o Brasil do que para o mundo. Ótimo: ela refletiu a indignação com a descarada espionagem dos EUA. Mas e daí?

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> Marco civil da internet

Depois da reprimenda à Obama, Dilma deu a receita para acabar com isso: o Brasil vai propor “um marco civil multilateral para a governança e uso da internet”.

Não avisaram ao redator da presidente, que se marcos civis já são ignorados internamente, quando a coisa é multilateral o rabo torce a porca. Principalmente quando o objeto é a rede mundial: incontrolável.

> A rede é incontrolável

É ingenuidade da inteligência cibernética brasileira, se é que tem alguma, achar que os EUA parariam de espiar quando um marco multilateral vigesse: os EUA estão anos luz à frente nessa guerra e só tem um jeito de lhes fazer engasgar de vez em quando: aparecer, de vez em quando, um Edward Snowden.

Idem, não é apenas os EUA que espiam. A China, a Rússia, a Inglaterra, a França, e todos os países com interesses globais, também o fazem.

> O problema é nosso

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"Na ausência do direito à privacidade, não pode haver verdadeira liberdade de expressão e opinião e, portanto, nenhuma democracia efetiva", afirmou a presidente Dilma no seu discurso.

Correto, mas cabe ao Brasil garantir aos brasileiros o direito à privacidade. Marcos regulatórios não resolvem e sim investimento em tecnologia da informação, ou há quem acredite que estamos seguros, quando o software que usamos é escrito nos EUA, já com a porta dos fundos instalada? Somos tão ruins nisso que não conseguimos construir muros nem com engenharia reversa. A culpa disso é da NSA? Claro que não: é nossa.

> Discurso certo, ação zero

Dilma Rousseff foi correta na estocada em Obama, mas à guisa disto, agiu como um time que leva um gol e o técnico corre para esculhambar o técnico adversário ao invés de providenciar reforço na própria defesa.

A espionagem internacional existe desde a Segunda Grande Guerra e ninguém vai abrir mão dela.

O Brasil, e os países frágeis nesse gramado, que entendam que informação é a commodity mais cara da atualidade. Gerá-la, adquiri-la e guardá-la, é mais caro ainda, mas é melhor blindá-la com eficácia do que ficar choramingado porque o sistema foi invadido por um adolescente que brincava de hacker em um cybercafé da esquina.

Comentários

  1. O Obama tem motivos de sobra para espionar o Brasil. Vejamos:
    1. A presidente é uma ex-terrorista (usou vários codinomes como Estela, Luísa, Maria Lúcia, Marina, Patrícia e Wanda);
    2. Nomeou como consultor o senhor Franklin Martins (codinome Valdir) sequestrador de um embaixador americano em 1969 (em 2007 foi ministro da Comunicação do governo Lula);
    3. O governo brasileiro é amigo dos inimigos dos EUA (Cuba, Venezuela, Equador, Bolívia, Irã);
    4. Sob a batuta do ex-presidente Lula, o Ministério das Relações Exteriores inaugurou 62 representações diplomáticas e consulares pelo mundo. À época o país contava com 212 postos no exterior. Muitos deles não têm qualquer relevância no cenário político e econômico internacional. Mas fazem parte de uma estratégia do governo petista, que tem priorizado as relações com nações africanas e emergentes. Seria a Agenda Oculta do governo do petista?
    Só para mencionar alguns motivos de conhecimento público.
    Ah, sim, sobre a Agenda Oculta, só quem a conhece são pouquíssimos petistas e, é claro, o Obama.

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    Respostas
    1. Se você acha mesmo que os EUA estão interessados na história da ditadura militar e da resistência a ela, permita-me opinar que a sua visão multilateral está estacionada na linha de tempo anterior à Guerra Fria. A doutrina externa dos países do eixo do Conselho de Segurança passa longe disso, pois a divisão do mundo nessa lógica sepultou-se há muito, e no que tange à cruzada contra o terrorismo internacional, eles não precisam espionar o Brasil: nós deixamos a CIA entrar e ainda colaboramos com ela para isso.
      A espionagem invasiva internacional (sem colaboração local) no eixo Sul Americano é puramente econômica e política, para compor as posições dos países que espiam.
      A nossa colaboração com os não alinhados, iniciada por Lula, não tem conotação política para os EUA, apenas econômica, pois somos a sétima economia do mundo e o país não quer que pulverizemos nossas trocas com nações não simpáticas a eles.
      Não imagine que existe "amizade" entre países: existem conveniências. As trocas da China com os EUA são mais que o dobro do que com o Brasil e a China é tão "amiga" dos EUA quanto nossa e vice versa.
      Agenda Oculta? Se você sabe ela não é oculta.

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    2. Ao 1. O Obama não precisa espionar o Brasil, já tem você para fazer o trabalho.

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  2. Para os americanos não existem ex-terroristas. Até hoje o Gabeira e o Franklin Martins não podem pisar nos EUA.
    Esses países que invadem fábricas de papel higiênico e tem ditadores são incompreensíveis para a cultura americana. Olho neles!
    Ao 2:com certeza você é um ex. Vestiu a carapuça.

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    Respostas
    1. Dezenas de milhares de pessoas têm os vistos negados pelos EUA todos os anos. Eles não davam visto a Paulo de Tarso, Gabeira e Franklin Martins porque todos estavam envolvidos no sequestro do embaixador dos EUA no Brasil, Charles Elbrick. Mas você está muito atrás no tempo: os EUA revogaram a resolução em 2009, desde quando todos adquiriram o visto.
      Os EUA mantêm ótimas relações com a China, que é uma ditadura, e com mais de 50 ditaduras pelo mundo afora. Eles, como todos os países, se relacionam por conveniência multilateral e não por ideologia.

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