Django livre

Em “Django livre”, Quentin Tarantino cumpre o seu peculiar ritual. Quando eu ouvi os primeiros golpes no banjo e a aveludada voz de Elvis Presley, voltou-me à mente “Django”, a música e película originais com as quais Sergio Corbucci embalou o primeiro “Django”, que eu assisti nos anos 70 com o mais icônico dos atores do gênero, Franco Nero.

Mas o de Tarantino não é uma reedição do original: apenas lhe tem o nome e a música principal.

Foi ótimo ver o próprio Franco Nero “dando uma canja”, de uns dois minutos, lá pelo meio da jornada do Dr. Schultz (o impagável Christoph Waltz) e do Django (Jamie Foxx), durante uma luta de mandigos patrocinada pelo fazendeiro Calvin Candie (Leonardo DiCaprio).

A cena em que Tarantino “tira sarros” com a Ku Klux Klan é um dos pontos altos do fino humor do diretor.

Samuel L. Jackson rouba a cena como Stephen, um negro que detesta negros, principalmente os que ousam “se comportar como brancos”.

“Django livre”, como todo Tarantino, é um sucesso, mas também recebe pesadas críticas. Umas das mais repercutidas foi a do diretor Spike Lee, que pediu boicote ao filme por considera-lo "desrespeitoso com seus ancestrais (os negros)".

Ouso discordar de Spike Lee e opinar que ele não analisou o filme à luz do que ele é. “Django livre” não é um western, não é sobre racismo, não é sobre violência, não é a história de um amor e nem sobre caçadores de recompensas.

“Django livre” é uma excepcional colagem de clichês retrospectivos. Uma revista que se folheia sobre o passado, e por que não, o presente da saga norte-americana.

“Django livre” é, simples e principalmente, um Tarantino.