Dona Marisa, devido ao fenótipo característico, era coloquialmente chamada por Lula de “Galega”.
Discreta e absolutamente avessa aos holofotes, o PT tanto deve a ela quanto a Lula o seu processo de formação partidária.
A democracia brasileira também é devedora dela: quando Lula e outros metalúrgicos foram presos, Dona Marisa abrigou o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC na sala da sua própria casa e organizou um dos mais memoráveis eventos políticos em desafio à ditadura militar, a Marcha das Mulheres.
As mulheres, particularmente, são devedoras dela. Foi ela quem peitou o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC a aceitar mulheres na direção da entidade: um gesto de empoderamento feminino eficaz, quando no Brasil sequer se ouvia falar deste neológico termo.
Foi ela que, à procura de um símbolo que identificasse o recém-criado Partido dos Trabalhadores, em um recorte de tecido vermelho, despretensiosamente costurou uma estrela branca.
Contou, em uma das pouquíssimas entrevistas que deu, que a confecção do símbolo de maior sucesso de marketing do partidarismo nacional, não embarcou nenhuma elaboração psicológica, mas apenas estética: pareceu-lhe bem o branco sobre o vermelho e ela gostava da forma das estrelas.
Dona Marisa foi vendedora ambulante, doméstica e babá. O destino a apresentou à Lula em um procedimento burocrático no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, quando ela foi lá buscar uma chancela para receber a pensão do falecido esposo, morto a tiros em um assalto, deixando-a grávida de 5 meses.
Lula, que despachava no serviço de assistência social do sindicato, foi quem deu a chancela e também estava viúvo. Sua primeira esposa contraiu hepatite na gravidez e veio a falecer.
Os dois viúvos se apaixonaram nessa peculiar circunstância e a paixão se transformou em amor, pois como a paixão é chama, só o amor, que alimenta a chama para que ela não feneça, sustenta um casamento de 42 anos.
E só a morte separou Lula de Dona Marisa, pondo termo a uma bela história de amor, perseverança e sucesso a dois.
Alguns, talvez levados pela faciosidade eventual da morte, acusam o drama imposto a Lula e Dona Marisa pelos rebojos da Lava Jato como a causa da morte dela.
Obviamente não. A causa da morte de Dona Marisa está no laudo: AVC causado por um aneurisma.
Inobstante, é possível sugerir que o estresse, mormente depois do seu indiciamento, acabrunharam-na sobremaneira e qualquer corpo, orgânico ou não, submetido a estresse tende a fissurar pelo seu lado menos saudável.
Mas essa é uma discussão inoportuna e inepta de todo, pois a morte é absolutamente redentora, até mesmo para os efeitos penais: nada se sobrepõe à morte.
Meus sentimentos ao ex-presidente Lula e ao Partido dos Trabalhadores.
Que a terra seja leve à Dona Marisa.
Aprecio a sua compreensão dos fatos e das pessoas...me sinto muito bem sendo seu amigo...a distância!
ResponderExcluirOlá meu amigo Virgílio.Como disse o Gibran, a verdadeira distância é o esquecimento. Qualquer dia tomamos aquele café.
ExcluirAquele que nunca viu a tristeza, nunca reconhecerá a alegria.
ExcluirKhalil Gibran
Urbanidade, civilidade, sensibilidade nesses tempos de cólera, é o que carecemos! E o senhor, novamente, mostra grande discernimento nesses dias de acaloradíssimas paixões. Sou grande admirador de suas posturas republicanas e, para além disso, humanísticas mesmo. Pelo respeito que o senhor reserva a toda gente, deduzo que sua família seja abençoadíssima!! Pêsames ao ex-presidente Lula e família!!!
ResponderExcluirA sabedoria é a única riqueza que os tiranos não podem expropriar.
ResponderExcluirKhalil Gibran
Parsifal;
ResponderExcluirTimidez e discrição não são qualidades restritas aos humildes de berço, nem são pré-requisito para que alguma pessoa seja respeitada. Também não deve ser apenas na crise do final desta existência que o bomsenso e o respeito devam prevalecer.
Morreu uma pessoa que era alvo do ódio de milhões de pessoas. As redes sociais transmitiram milhões de mensagens impiedosas o tempo todo - até na hora do velório comentavam sobre o 'excesso de luxo'. Não eu não vou reagir a tudo isso; não vou polarizar, nem viralizar. Prefiro no recolhimento de meu quarto fazer uma oração ao ser humano que se desligou deste plano, rogando a Deus que lha envolva com paz e conforto na nova vida.
Admiro sua imparcialidade e forma compreensiva com que escreve seus textos. Infelizmente tá faltando consciência da fragmentação do partido e do ser humano.
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