Cauby Peixoto Barros nasceu em Niterói, no estado do Rio de Janeiro, com a música na concepção.
Seu pai, Eliziário, era um exímio tocador de violão. Alice, a mãe, tocava bandolim. O irmão do pai era pianista, um dos irmãos da mãe era o músico Nonô, que popularizou o samba clássico.
Cauby era primo do cantor e compositor Ciro Monteiro, cuja peculiaridade era marcar o compasso do samba em uma caixa de fósforos e foi quem imortalizou o samba de Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins, “Se acaso você chegasse”.
Cauby começou a cantar no coro da igreja do Colégio dos Padres Salesianos de Niterói, onde estudava, e antes de completar 17 anos, na segunda metade da década de 40, começou a participar de programas de calouros nas emissoras de rádio cariocas.
A adolescência de Cauby foi marcada pela morte do seu pai, o que impôs a ele e seus cinco irmãos graves dificuldades financeiras. Só não passaram fome, conta Cauby, por conta da ajuda da “Tia Corina”, irmã do pai falecido, que gozava de conforto financeiro.
Foi quando passou a estudar à noite, para durante o dia trabalhar e ajudar no sustento da família. O seu primeiro empregou foi em uma sapataria e depois em uma perfumaria, e foi exatamente o seu emprego no comércio que lhe alavancou a carreira de cantor.
A Rádio Tupi tinha um programa chamado de "Hora do Comerciário", de grande audiência. Cauby se inscreveu no programa e passou com o louvor da dirigente, a famosa pianista Babi de Oliveira. Era fevereiro de 1949. Ali começava a flamejante carreira de Cauby Peixoto.
A "Hora do Comerciário" projetou Cauby na noite, levando-o a cantar em boates e teatros, no centro nevrálgico da noite carioca de então, a Cinelândia.
Em 1951 Cauby gravou o seu primeiro disco, um 78 rpm chamado “Saia Branca”, uma raridade de colecionadores hoje em dia, que foi a interface que fez o famoso empresário da época, descobridor de artistas, Di Veras, enxergar-lhe o potencial.
Em 1952, Di Veras levou Cauby para São Paulo e começou a trabalhar-lhe a estética, tornando-o no que foi, logo, a sua marca registrada: uma voz potente e aveludada, combinada com roupas finas e elegantes de dia e espalhafatosamente brilhantes no palco, à noite.
Di Veras tornou Cauby um artista conhecido nacionalmente, mas o seu primeiro grande sucesso só veio 3 anos depois, em 1955, com a versão para o português do sucesso de Nat King Cole, Blue Gardenia.
Após Blue Gardenia, Cauby iniciou a sua carreira de ídolo que foi tão meteórica no Brasil quanto internacionalmente, a ponto de três anos depois, em 1958, estar em 1º lugar entre os álbuns mais tocados no Brasil e no 5º lugar nos álbuns mais tocados nos EUA, o que lhe rendeu um convite do maestro Paul Weston para gravar um LP, nos EUA, com a sua orquestra, uma das mais famosas da época.
Nos EUA, Cauby adotou o nome de Ron Coby e as duas maiores revistas estadunidenses de então, Time e Life, fizeram uma matéria com ele o chamando de o “Elvis Presley brasileiro”.
Nos EUA, Cauby participou de filmes em Hollywood, e fez sucesso em Jamboreé, da Warner Brothers. Fez filmes no Brasil também, e foi em um desses filmes, em 1956, “Com Água na Boca”, que ele imortalizou o bolero que se confunde com ele mesmo: Conceição.
Nos EUA, Cauby também realizou um sonho: gravou um clip com um dos ícones da canção romântica mundial, o norte-americano Nat King Cole. A música do clip foi o sucesso “Too Young”
Na década de 70 Cauby viveu o auge do seu sucesso no Brasil, e firmou-se como um ícone da música nacional, apresentando-se na televisão, teatros, casas de shows e em turnês.
Em 1980, para comemorar os seus 25 anos de carreira, ganhou de Caetano Veloso, Chico Buarque, Tom Jobim e Roberto e Erasmo Carlos, composições feitas especialmente para ele. As composições foram o conteúdo do álbum, lançado pela Som Livre, “Cauby, Cauby”, cujo maior sucesso foi a sua segunda marca registrada, depois de “Conceição”, “Bastidores”, de Chico.
Em 1982, no 150 Night Club, um dos mais frequentados pontos da noite paulistana, Cauby lançou o LP “Ângela e Cauby”, com clássicos como “Contigo aprendi”, “Recuerdos de Ipacaray” e uma valsa, “Boa-noite, amor”. Mas o maior sucesso do álbum veio a ser a terceira marca registrada de Cauby, o bolero de Gonzaguinha, “Começaria tudo outra vez”.
A partir de 2000, Cauby se apresentava quase religiosamente, nas noites de segunda-feira, em um dos mais tradicionais recantos da boemia paulistana, o Bar Brahma, na esquina da icônica Avenida Ipiranga com a Avenida São João, em São Paulo, imortalizada pela canção de Caetano, Sampa. A propósito, o “Picadinho Velho Centro” do Bar Brahma, é uma delícia.
Em junho do ano passado (2015), eu e Ann fomos à estreia do documentário “Cauby - Começaria tudo outra vez”, de Nelson Hoineff. A sala não estava lotada, mas a plateia era aficionada. Estranhei ver alguns jovens por lá.
O filme condensa em 90 minutos a trajetória de Cauby, com trechos de suas apresentações e flashes onde ele fala da sua infância, dos seus sucessos, dos seus amores e da sua sexualidade. Abaixo, um teaser do filme:
Na noite de 15 de maio de 2016, aos 85 anos, em São Paulo, Cauby morreu por complicações de uma pneumonia. Naquela noite se foi, quiçá, o último dos moicanos de uma era de ouro dos artistas, pois Cauby tinha uma entrada espetacular e uma presença de palco cativante: ele era o espetáculo.
Parabéns! Eu já sentia saudades dessas postagens sobre artistas que você fazia todos os domingos. Tudo o que está escrito ai sobre o Cauby eu já havia lido em outros lugares, mas você compila de uma maneira peculiar. Eu canto na noite de Belém.
ResponderExcluirObrigado. Eu pouco frequento, hoje em dia, a noite de Belém, mas já frequentei, e a cidade tinha ótimos pontos de boemia. Eu nunca bebi e nunca fumei, mas por isso, talvez, não possa ser considerado um boêmio, apenas um aficionado.
ExcluirTirando esse seu defeito ( a política, ou melhor, fazer política! ), quando eu crescer eu quero ser assim...
ResponderExcluirkkkk