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Sob o signo da hipertensão

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Os primeiros dez dias sob Michel Temer marcaram-se por claudicâncias que, embora tópicas, não ajudam naquilo que governos precisam: confiança doméstica e credibilidade externa.

A perda de confiança foi o mais pesado componente na queda de Dilma Rousseff e se Temer não adquiri-la vai causar mais banzeiro na já revolta política nacional.

Temer precisa do suporte das classes política e empresarial, as quais, independentemente de ranços ideológicos e posições de arquibancadas, são os entes que bancam as grandes decisões nacionais. Sem isso, dificilmente Temer tira o Brasil do estaleiro, e vai ficar calafetando o barco com uma mão e tirando água com a outra.

Nesse raciocínio, Temer deveria ter avaliado melhor a redução dos ministérios, vigiando o que ocorreu quando Dilma tentou fazer e não conseguiu, sabotada pelos interesses territoriais da classe política e empresarial.

Se com Dilma deu errado, Temer não se deveria fiar que, agindo da mesma forma, conseguiria. Alguém precisa dizer a Temer que o fato de não quererem Dilma na presidência, não significa que o querem lá: ele só estava no lugar certo e na hora exata nessa oportunidade do fado, portanto, não terão piedade dele nem por um segundo e o próprio PT já avisou que não lhe dará sossego.

Dez dias após a recalcitrância da classe artística empresarial, Temer retrocedeu na extinção do Ministério da Cultura. Nesse evento ele errou três vezes: na hora que extinguiu, não ter recuado imediatamente após  ter verificado a reação, e ter recuado depois que o movimento tomou corpo, mormente porque é sabido que a classe artística, no evento, faz parte do jogo do PT de não lhe dar sossego. 

Isso lança ao observador um aceno de fraqueza, incentivando outras organizações a arrocharem o torniquete a qualquer contrariedade pois o Brasil é aquele país no qual o latifundiário concorda até com a reforma agrária, desde que essa não atinja a propriedade dele.

Temer precisa convencer os laudabilíssimos senhores da República de que será capaz de aprovar medidas que implicam em gastos públicos menores e até em impostos maiores, e quando isso começar a ocorrer muita gente vai reclamar e fazer pressão para abortar o tento, como ocorreu todas as vezes que Dilma Rousseff ousou.

Portanto, repito, se Temer se colocar a fazer mais do mesmo, acabará seus dias como uma mera Dilma Rousseff de paletó e gravata, com a única diferença de que ela é rude e ele é formal.

Comentários

  1. Parsifal;

    O Brasil precisa de uma reforma política para definir se vai seguir um modelo capitalista, socialista ou comunista. Isso sim é urgente.

    1) Se capitalista, acabar com tudo o que o governo promete (e não faz) de graça para a população; nesse caso é plausível implantar o estado mínimo.

    2) Se socialista, então começar a ampliar os tributos e torná-los principalmente mais justos, atingindo os mais ricos; com o que os programas sociais poderão reunir gratuidade e qualidade.

    3) Se comunista, dependendo do tipo de orientação, estatizar tudo e deixar as coisas niveladas do meio para baixo.

    O atual modelo de governo O uma trapaça construida pelo PSDB, DEM, PT e pelo PMDB. É um cenário onde só se dão bem as velhas raposas e suas raposinhas (herdeiros políticos).

    A saúde e a educação públicas e gratuitas são inviáveis para qualquer país do mundo não comunista. Então as raposas surrupiam as verbas para as suas tocas e depois argumentam - com cara de pau - que tanto a política salarial (no caso os servidores públicos) quanto a previdenciária 'vão quebrar o país'.

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    1. Sim, venho há muito tempo batendo nessa tecla de que o Brasil precisa definir seu modelo, pois esse frankenstein não dá certo, como não deu o do livro.

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