A classe média burra

Marilena Chauí é autora de vários livros sobre filosofia política e professora aposentada da USP, com proventos, segundo a página de transparência daquela universidade, no teto constitucional permitido. É da classe média, portanto.

Depois de Chauí, em 2013, mais ninguém do PT declarou ódio à classe média, mas eis que, em entrevista à Folha de S. Paulo, no domingo (10), Jessé Souza, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), órgão ligado diretamente à presidência da República, repetiu a filósofa do proto-proletariado, Marilena Chauí e desancou com os “coxinhas”.

Para Souza, a classe média é capacho dos ricos e vai às ruas “seletivamente” contra a corrupção estatal porque é “tola” e se deixa iludir pela grande imprensa que é cumplice da elite financeira mundial na manutenção do controle das riquezas do planeta.

Quando perguntado sobre a corrupção no governo, Souza respondeu que a corrupção está em todos os governos porque ela é “endêmica ao capitalismo”, ou seja, o Brasil terá que escolher outro sistema econômico (ainda tem algum além do capitalismo?) se quiser acabar com a corrupção.

E Souza continua a sua cruzada contra a burrice da classe média, que paga “impostos escorchantes” para, ao cabo, favorecer a elite financeira mundial, que empresta ao Estado a juros. Ou seja, a idiota classe média, através dos impostos, financia os bilionários.

Quem sabe Souza proponha, através de um estudo do IPEA (eles recebem, todos, muito bem para isso – são todos da classe média) que o Brasil deveria estatizar todos os bancos nacionais e nacionalizar os estrangeiros, ou, melhor, aconselhar a presidente Dilma a decretar que o mundo inteiro, doravante, esteja obrigado a emprestar ao Brasil sem cobrar juros, aí, quem sabe, não precisássemos mais, nós da classe média burra, pagar impostos.

A entrevista à Folha serve para revelar em que geografia se encontra o IPEA, que já foi um dos mais respeitados institutos de estudos do Brasil e começou a descer a ladeira quando o aparelhamento político-ideológico o sequestrou.

Mas a entrevista tem, embora carregada de anacolutos ideológicos, alguns pontos que endossam procedência, principalmente quando Souza declara que a corrupção não é uma exclusividade brasileira e idealizar outros países como se aqui fosse o inferno e alhures o paraíso é um erro que devemos prevenir, para não alimentar o complexo de vira-latas que nos aflige.

Para ler a entrevista, clique aqui.