Por padrão, os dois momentos mais cruciais de um voo são a decolagem e o pouso, quando a aeronave é submetida a um grau alterado de estresse.
Após a decolagem, quando a altitude de cruzeiro é alcançada, aliviam-se as estruturas e, em condições normais, reina a bonança até o início da descida.
O Airbus A320 da Germanwings, subsidiária da Lufthansa e uma das maiores aéreas da categoria lowcost da Europa, decolou de Barcelona para Dusseldorf, ontem (24), em uma viagem curta – não mais que duas horas – com 150 pessoas a bordo: 144 passageiros e 6 tripulantes, em mais uma das milhares de viagens da rota.
Aquelas 150 pessoas despediram-se dos seus amores em terra sem saber que a ceifadora lhes aguardava nos alpes franceses. A morte é temperamental e caprichosa: algumas vezes anuncia-se, noutras surpreende.
Mas quando o voo 4U9525 atingiu a altitude de cruzeiro, ao invés de vir a bonança a tempestade se fez. Um minuto após alcançar 38 mil pés, quando a aeronave descansaria e deslizaria no ar rumo ao seu destino, uma descida desconforme começou.
Dos 12 mil metros do cruzeiro em que o A320 estava, até o chão, foi uma agonia de 8 minutos. A 1,8 mil metros houve o derradeiro contato dos controladores com o comandante, o que indica que a aeronave ainda estava intacta, bem próximo ao solo.
Os alpes franceses têm desfiladeiros que atingem 3 mil metros e, por certo, o comandante não tinha leme para desviar das encostas que lhe ameaçavam a integridade da aeronave. A pulverização dos destroços encontrados indica que o A320 colidiu com as rochas em alta velocidade.
Intrigou-me, ao verificar a rota e ângulos de subida e descida da aeronave, o fato da trágica descida ter sido feita exatamente como se faria no procedimento normal de pouso. Observa-se isso no gráfico abaixo, liberado pelo site Flight Radar, que rastreia voos no mundo inteiro:
A linha mais escura (1) foi a o trajeto percorrido pela tragédia e a linha mais clara (2) é a rota correta. Se pegarmos a linha de descida 1 e a sobrepusermos à linha de descida 2, os ângulos guardarão similitude, como se o comandante pensasse que após um minuto de cruzeiro já fosse hora dos procedimentos de pouso.
Com 6.190 aeronaves em operação desde 1987, quando voou o primeiro A320, e uma taxa de decolagem de 2,7 segundos (a cada 2,7 segundos decola um A320 de algum aeroporto do mundo), o acidente de hoje foi o 17º registrado em 28 anos, o que torna o A320 uma das aeronaves mais seguras do mundo, mas a fatalidade é imponderável: 100% de segurança é uma quimera.
Diferentemente das tragédias aéreas mais recentes, os destroços do A320 foram imediatamente localizados e uma das caixas pretas já foi resgatada, o que possibilitará elucidação mais rápida do que ocorreu com o voo 4U9525.
caramba!!!!!! voce sabe muito de muito..parabéns!
ResponderExcluirNão, meu amigo. Eu sei um pouquinho de cada coisa. Agora eu estudo muito para escrever.
Excluirtambém sei disso...
ExcluirE registre-se, apesar da implicância ( sempre diz que ela não tem olhos para o PSDB), uma das fontes rotineiras atende pelo nome de Folha de SP.
ResponderExcluirFolha e Estadão são, no Brasil, os meus dois preferidos e, a meu ver, estão entre os melhores jornais do mundo. Não é implicância: é constatação.
ExcluirIsso não esta indo bem... eu também sou leitor dos dois... Incluo O GLOBO, e ZERO HORA ( em menor escala )...
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