A noção de tempo e a sua organização em escalas é uma espetacular elaborações do intelecto.
Ainda sob as cavernas começamos a elaborar escalas temporais: valiam-nos os astros. Eram as posições e as formas deles no firmamento que nos determinavam os períodos mais sofisticados para as atividades de subsistência.
Tudo na vida se relaciona com o tempo. A Bíblia, em uma das suas mais belas e poéticas passagens, sentencia, em Eclesiastes:
“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;
Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;
Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.”
É de Shakespeare uma das mais peculiares definições de como o tempo deve ser preciso: “Tão fora do tempo está quem se atrasa quanto quem se adianta”. Sim, podemos salvar ou perder uma vida por atraso, ou adiantamento de um mero segundo.
As mais antigas civilizações já praticavam a marcação do tempo, fosse por motivo religioso ou agrícola.
Os Sumérios já usavam um calendário parecido com o nosso: dividiam o ano em 12 meses de 30 dias. A única diferença era que o dia era dividido em 12 períodos que equivaleriam a duas horas cada período e nós dividimos o dia em 24 períodos de uma hora cada. Simples? Não! Isso foi por volta de 5.300 antes de Cristo, há 7.314 anos! Era o alvorecer da humanidade.
Como eu sou um aficionado por relógios (os mecânicos) senti um frio na espinha na primeira vez que vi Stonehenge, na Inglaterra.
Aqueles enormes blocos de pedra (cerca de 50 toneladas cada um) trazidos, há 5 mil anos, de cerca de 300 quilômetros de distância (é o local mais perto do monumento onde se acham as primeiras rochas), formavam um sofisticado calendário e um pontualíssimo relógio(!) cujos motores estavam muito mais distantes do que as rochas que os saxões arrastaram para aquela colina: o Sol, a Lua, e os solstícios de verão e inverno eram as complicações do relógio. Na Terra, estavam apenas os ponteiros e a marcação fracionária.
Sem perceber, quando perguntamos ou olhamos a hora em um relógio, recebemos como resposta um estoque de conhecimento de 10 mil anos!
A passagem do tempo é tão importante na nossa vida que se tornou um mito arraigado no nosso intelecto mais profundo.
A virada de ano é um desses belíssimos rituais de passagem que os nossos antepassados faziam a seu modo, continuamos fazendo a nosso modo e os nossos descendentes continuarão fazendo aos seus modos, porque não é apenas um dia para outro ou um mês para outro e sim um ano para outro.
O Sol que raiará não mais será o de 2014. É o mesmo Sol, mas é um novo Sol: o Sol de 2015!
Feliz 2015!
Feliz e novos desafios pois os sabes enfrentar...Virgílio
ResponderExcluir*Feliz Ano Novo
ExcluirQue o raiar do SOL de 2015 traga-lhe paz, saúde e propicie muitas realizações.
ResponderExcluirParsifal;
ResponderExcluirPara você, com votos de feliz 2015.
"O Tempo, o Lugar e as Pessoas" - Parte I
Antigamente vivia um rei que após chamar um dervixe lhe disse:
- O Caminho dervixe, através de uma contínua e ininterrupta série de mestres que remontam aos primeiros dias do homem, sempre propiciou a luz que tem sido a causa motivadora dos verdadeiros valores, dos quais meu reino nada mais é que um pálido reflexo.
Ao que o dervixe respondeu:
- Assim é.
- Agora, já que estou instruído de modo a conhecer os fatos precedentes, ansioso e disposto a aprender as verdades que você, com sua superior sabedoria, pode tornar acessíveis, ensine-me!
- Trata-se de uma ordem ou de um pedido? - indagou então o dervixe.
- É o que você queira considerar - retrucou o rei -, já que, se funcionar como uma ordem, aprenderei. E se o fizer bem como atendimento a um pedido, também aprenderei.
E aguardou que o dervixe falasse.
Após alguns minutos, finalmente o dervixe ergueu a cabeça, já que estava em atitude contemplativa, e disse:
- Deve esperar o "momento de transmissão".
Isso confundiu o rei, porque afinal de contas, se queria aprender, achava ter direito a que lhe dissessem ou mostrassem alguma coisa.
O dervixe retirou-se do palácio.
Depois desse fato, dia após dia, o dervixe continuou servindo ao rei. Diariamente eram tratados os assuntos de Estado; o reino conheceu períodos de alegria e de provação, os conselheiros davam seu parecer, a roda do paraíso girava.
" O dervixe vem aqui todos os dias", pensava o rei, cada vez que o via com seu manto de retalhos, "e no entanto nunca se refere àquela nossa conversa sobre a aprendizagem. Na verdade, participa das diversas atividades da corte, conversa e ri, come e, sem dúvida, dorme. Estará aguardando alguma espécie de sinal?"
Porém, por mais que se empenhasse, o rei era incapaz de penetrar nas profundezas daquele mistério.
Por fim, quando a adequada vaga do oculto cobriu as praias da possibilidade, teve lugar uma conversação no palácio. Alguém dizia:
- Daud de Sahil é o melhor cantor do mundo.
E o rei, embora esse tipo de acontecimento geralmente não lhe interessasse, sentiu um grande desejo de ouvir aquele cantor.
- Que o tragam à minha presença - determinou.
O mestre de cerimônias foi enviado à casa do cantor, mas Daud, soberano entre os cantores, simplesmente declarou:
- Vosso rei demonstra conhecer muito pouco os requintes da arte do canto. Se deseja que eu vá apenas para conhecer meu rosto, irei. Mas se quer me ouvir cantar, terá que esperar, como todos fazem, até que meu estado de ânimo seja o mais indicado para tal. Pois é o fato de saber quando se deve cantar e quando não o que me converteu, como converteria qualquer tolo que conhecesse o segredo, em um grande cantor.
Continua.
ResponderExcluir"O Tempo, o Lugar e as Pessoas" - Parte II
Quando essa mensagem foi transmitida ao rei, este refletiu ira e desejo, bradando:
- Será que não há ninguém aqui que obrigue esse homem a cantar para mim? Já que só canta quando está com disposição, eu, por minha vez, quero ouví-lo enquanto tenho vontade.
Foi aí que o dervixe interveio, dizendo:
- Pavão real desta era, acompanhe-me na visita a esse cantor.
Os cortesãos se entreolhavam. Alguns pensaram que o dervixe punha em prática uma hábil manobra, e que buscava uma maneira de fazer com que Daud cantasse. Se tivesse sucesso, o rei certamente o recompensaria. Mas se mantiveram calados, pois temiam um possível desafio.
Sem nada dizer, o rei levantou-se e ordenou que lhe trouxessem uma vestimenta bem modesta. Assim vestido, saiu à rua com o dervixe.
O rei, vestido como um plebeu, e seu guia logo se acharam em frente da casa do cantor. Quando bateram à porta, Daud gritou lá de dentro:
- Hoje não cantarei; assim, que se vão e me deixem em paz.
Ao ouvir tais palavras, o dervixe sentou-se na calçada e começou a cantar. Interpretou a canção favorita de Daud, com justeza e até o fim.
O rei, que não era um grande conhecedor de música, se sentiu emocionado pela canção, e sua atenção foi despertada para a voz maviosa do dervixe. Não sabia, porém, que ele havia cantado aquela peça com uma ligeira variação tonal, com o objetivo de despertar no íntimo do cantor o desejo de corrigí-lo.
- Por favor, por favor, cante essa canção novamente - suplicou o rei.
- Nunca ouvira melodia tão doce.
Mas nesse instante, o próprio Daud começou a cantar. `As primeiras notas o dervixe e o rei ficaram como que em êxtase, e sua atenção se fixou na voz melodiosa do Rouxinol de Sahil.
Quando a canção terminou, o rei enviou um fino presente a Daud. e ao dervixe, disse:
- Homem de sabedoria! Admiro sua sagacidade ao fazer com que o Rouxinol cantasse, e desejaria convertê-lo num de meus conselheiros da corte.
Ao que o dervixe respondeu simplesmente:
- Majestade, poderá escutar a canção que for de seu agrado se houver um cantor, se estiver presente, e houver alguém que aja como um veículo para a execução da melodia. Como acontece com mestres-cantores e monarcas, assim se dá com os dervixes e seus discípulos.
O tempo, o lugar, as pessoas e o talento.
Sayed Imam Ali-Shah
Um feliz pSOL 2015 para todos.
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