Há uma semana a imprensa repisa os anos em que o Brasil viveu uma ditadura. A alusão se dá na esteira do aniversário dos 50 anos do golpe que institui, em 31 de março de 1964, o regime militar, que alguns entusiastas da exceção insistem em chamar de revolução, porque teve apoio de alguns civis.
Todo golpe militar conta com apoio de parte da população civil. Tentar destituir a nomenclatura do golpe de 1964 pelo apoio civil que ele teve é uma falácia tão inútil quanto tentar escrever, ou reescrever, a história daquela época instalando “comissões de verdades”: queremos enganar quem com as verdades dessas comissões?
Delas pode até sair alguma novela romântica, mas a história do que foi a ditadura no Brasil jamais será contada na sua plenitude, antes porque os principais protagonistas vivos se impuseram um obsequioso e conveniente silêncio, e os que já foram queimar no inferno para lá conduziram as ocorrências que todo regime de exceção embarca, desde a supressão das liberdades individuais até a tortura – que, aliás, não é uma ferramenta de Estado exclusiva das ditaduras, mas das democracias também.
De tudo o que li agora - e li tudo o que consegui ver - nada de novo enxerguei: gastou-se tinta com o mesmo do mesmo.
Ainda é cedo para jogar luz sobre o lado escuro da lua. Cinquenta anos para a história é um soslaio de segundo, mas o Brasil sequer fez como a Santa Sé, que na expectativa da infalibilidade temporal, não deitou fogo nos seus pergaminhos, estocando-os com o sugestivo nome de “Arquivos Secretos do Vaticano”, transformando as ocorrências das suas alcovas em um amontoado de agulhas no meio de um galáctico palheiro.
Nas visitas que já fiz ao Vaticano nunca deixei de parar na entrada do enorme corredor que evolui até os escaninhos dos “Arquivos Secretos”. Paro e fico imaginando o que aqueles mausoléus da história encerram em seus túmulos. Talvez a humanidade jamais consiga ler todas aquelas páginas que ditaram a história de grande parte da civilização da Terra, mas é possível ver o palheiro.
As ditaduras contemporâneas, como foi a brasileira, não opinaram pelo zelo dos pontífices. Aqui não restaram palheiros onde se procurar agulhas: tocou-se fogo em tudo e isso nos relega a repetir o que já sabemos sempre que essas datas simbólicas de 10, 20, 50, 100 anos regurgitam.
Mas é bom lembrar, pois se, nesse caso, recordar não é viver, significa que não devemos esquecer, para que não voltemos a sofrer. Alguns acham que a ditadura foi branda: para quem?
E com todos os seus defeitos, vamos continuar construindo a Democracia. Nela, pelo menos, temos a oportunidade de trocar o ditador de quatro em quatro, ou oito em oito anos e, cada vez mais, exercemos a liberdade de até falar mal dele sem sermos suicidados.
Como continuar a construir a democracia? Com esse projeto de poder dos comunistas?
ResponderExcluirO PT nunca foi, e não é, um partido comunista. Mesmo que fosse, a construção da democracia não é antagônica ao comunismo, pois esse é apenas uma ideologia cuja experimentação pode ser exercida por programas dentro do processo democrático.
ExcluirO nosso problema ainda é o poder pelo poder, o aparelhamento do Estado, o patrimonialismo, e isso não é uma mentalidade de partido, mas de pessoas.
Deverias dar graças a Deus por 64! Levantar as mãos aos céus e agradecer os militares!
ResponderExcluirNobre Deputado,
ResponderExcluirPreciso entender, se o PT não é ideologicamente comunista como explicar o foro de São Paulo, o alinhamento e financiamentos, via BNDS, a governos anti-democraticos (Cuba, Venezuela) . Concordo plenamente que a democracia não é antagônica a quaisquer ideologias, mais afirmar o contrário não acho válido. Valho-me ainda de um trecho de Reinaldo Azevedo, articulista da Veja, ..." O que pretendiam os movimentos de extrema-esquerda? É certo que queriam derrotar o regime militar inaugurado em 1964; mas que fique claro: o seu horizonte não era a democracia. Ao contrário. Como costumo lembrar, não há um só texto produzido pelas esquerdas então que defendessem esse regime. Ao contrário: a convicção dos grupos armados era que os fundamentos da democracia eram apenas um engodo para impedir a libertação do povo. Os extremistas de esquerda também queriam uma ditadura — no caso, comunista.
O PT, sequer no seu surgimento, foi de orientação comunista. Lula o fundou como um braço sindical na política de classes e isso lhe deu um quê de orientação marxista-leninista, mais afeito ao socialismo, como uma contraposição à socialdemocracia que tomava o lugar socialismo puro em um processo hibrido com o capitalismo de centro.
ExcluirJá na primeira campanha de Lula, o PT, na famosa “Carta ao Povo Brasileiro”, abandonou programaticamente o marxismo-leninismo e adotou uma política de centro-esquerda, abrindo mão, inclusive, do seu fundamento de partido único (no marxismo-leninismo, como no comunismo, o partido único é um dogma fundamental) e adotando a política de alianças, o que o levou mais para o centro ainda: hoje o PT é um partido de centro e as discussões partidárias que tentam leva-lo de volta à extrema esquerda não passam de retórica, pois a direção nacional e política adota o centro e o capitalismo é a sua política econômica.
A relação do Brasil, sob a presidência do PT, com Cuba e Venezuela, para ficar nos dois que você cita, não são por ideologia, mas por condução de política externa que o Brasil adota desde o governo Sarney, que, com o fim da ditadura, determinou à chancelaria que retomasse as relações políticas e econômicas com os países que a ditatura militar cortara. E é uma posição correta, pois o Brasil pugna pela hegemonia política e econômica do Cone Sul, para não ficar à mercê das resoluções do Cone Norte, que tem os EUA como pais hegemônico.
Jamais entenda relação entre países como ideológicas: elas sempre são de conveniência política e comercial. Os EUA, por exemplo, mantêm pesadíssima relação política e comercial com a China, declaradamente comunista e com várias ditaduras e monarquias do Oriente Médio.
Os extremistas de esquerda e os extremistas de direita sempre vão querer instalar ditaduras nos seus respectivos espectros porque a orientação sistemática das suas bandeiras são o um governo central.
Não precisamos nem de um e nem de outro e quem implantou a ditadura foi a extrema direita com os militares. Os extremistas de esquerda lutavam para derrubar o regime e instalar eleições diretas no Brasil: é falsa a informação que havia orientação ideológica de alcance de poder.
O que ocorreu no processo foi que a presença dos EUA no golpe de 64 acirrou a disputa Leste-Oeste e a então União Soviética, através de Cuba, começou a prover a guerrilha no Brasil.
DEPUTADO, desculpa, mas porque sempre a palavra "NEGRO"???? Na boa, sei que não foi, nem de longe sua intensão, mas por favor, substitua por outra palavra. A "NUVEM NEGRA", o "PASSADO NEGRO", etc...são termos que possuem uma carga extremamente racista e que vêm de um passado escravocrata que, apesar de fazer parte da nossa história, é bom que tentemos alterar alguns vícios.
ResponderExcluirAgradecido pela atenção.
Marcelo.
Olá Marcelo,
ExcluirNão é destituído de verdade o fato de que a origem do termo, significando ruim, vem da sociedade escravocrata. E isso é um ponto comum em todas as línguas de países que praticaram a escravidão. Todavia, hoje, não há tom algum pejorativo no termo e ele passou a fazer parte das expressões idiomáticas dessas línguas, totalmente apartado da conotação racista original.
Fica, todavia, a atenção a sua observação, que é pertinente.
O papel da imprensa golpista que temos até hoje no Brasil, foi fundamental para o ~exito do golpe.
ResponderExcluirAproveitando a retórica, já que Vossa Excelência, já declarou - de forma hilária - que participou de guerrilha em Cuba. Qual dos grupos sua Excelência militou? AP, ALN, VPr, MR8...? Conte nos o que achar conveniente, sobre sua atuação nesse período sombrio.
ResponderExcluirSó um detalhe: sem bravatas!
Eu nunca participei de guerrilha em Cuba: não tive esse prazer. Quando comecei a ir à Cuba a guerra de guerrilha, através da qual El Comandante Fidel tomou o poder, já estava encerrada. As minhas incursões de guerrilheiro, não passaram de aprender a atirar nos canaviais.
ExcluirDepois que a ditadura matou todos os líderes do MR8 – braço da luta armada de guerrilha urbana patrocinado por Cuba. Na verdade pela então União Soviética – e os que sobraram fugiram para o Chile para não morrerem, os que insistiram em permanecer abrigaram-se no então MDB (1972). Em 1975, a juventude do MDB, da qual eu fazia parte, se intitulava como o MR8 e quem nos patrocinava, era Orestes Quércia, que veio a ser governador de São Paulo. Mas a nossa “guerrilha urbana” passou a ser nada mais que fazer confusão nos encontros do partido e uma espécie de black blocs lite nas passeatas contra qualquer coisa.
O Jornal Hora do Povo continua sendo editado, uma vez por semana, pelo MR8 de São Paulo e quando Quércia (proprietário da gráfica que o edita) morreu, para surpresa do movimento, ficou lavrado em seu testamento que o Hora do Povo deveria seguir sendo editado, de graça, como sempre foi, pelo MR8 até que o movimento não mais exista ou desista de edita-lo.
O Hora do Povo é o que resta do MR8 e continua com orientação de extremíssima esquerda e depois que a turma entrega o jornal para impressão na Avenida São Luís, todos seguem para o american bar do chic Hotel Braston, onde Quércia ia às tardes degustar um malte escocês de 24 anos, e depois vão jantar no chiquérrimo Mancini da Avanhadava, no outro lado da rua.
Não mais participo da editoria do Hora do Povo, mas a parte do Braston e da Mancini, sempre que vou a São Paulo, faço questão de participar: esta é a melhor parte do marxismo-leninismo contemporâneo.
Imaginei Vossa Excelência no Araguaia, ao lado do ex-deputado José Genoíno, combatendo o Cel. Curió. Mas Vossa Excelência é um bom vivant, só participou do glamour?
ExcluirÉgua, Dep. muito bacana parabéns, agora entendo quando vc fala dos movimentos tenho a sensação que mexe com seu extinto primitivo, fico a imaginar se o senhor tivesse um filho homem ia fazelo um grande líder, é por isso que vejo a sua satisfação em colaborar como FUTURO GOVERNANDOR HELDER , vc deve sentir a satisfação como seu filho fosse, fico muito feliz em saber que temos um Paraense com pedigree nos representando, linda história de vida, parabéns!!!!!!!!!!
ExcluirMFSJR
A guerrilha do Araguaia foi um glamour curto: durou de 68 a 72 e foi, muito especificamente, um movimento do PC do B, que queria implantar o centralismo do partido único em uma ditadura de extrema esquerda com a qual eu jamais concordei. Eu queria apenas o fim da ditadura e eleições diretas para presidente, pois era isso que o MDB pregava.
ExcluirMas, em 74, fui fazer graça no Araguaia, em um movimento teórico da juventude, e acabei preso, o que foi a minha única participação, indireta, no episódio.
Deputado, o senhor é a favor da revisão na Lei de Anistia? O que pensa a respeito?
ResponderExcluirRevisar o que? Para que? Por quem? Para quem? Em tese sou contrário a uma revisão que vise interromper prescrições constitucionalmente garantidas. Não creio que a nossa democracia precise retroagir tempos jurídicos cessados para se consolidar. Precisamos olhar para trás em busca da nossa história, aprender com ela para não repeti-la no que nos causou tempos de exceção.
ExcluirNão é possível, por exemplo, trazer a tribunais processos penais cujos objetos cessaram há 30, ou mais, anos.
http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/videos/t/edicoes/v/coronel-reformado-confessa-ter-torturado-e-assassinado-presos-politicos-durante-a-ditadura/3239079/
Excluirhttp://oglobo.globo.com/pais/coronel-admite-participacao-em-tortura-morte-nos-poroes-11974900
Esse cara sentou-se numa cadeira, disse o que disse, e depois voltou pra sua casa como quem vai ali na esquina comprar pão. Isso não pode ser normal, deputado
Nobre Deputado,
ResponderExcluirSua argumentação e fundamentação teórica, como sempre, são excelentes. Entretanto, até como um serviço a história, após 34 anos de PT e 10 anos, como diria Paulo Freire,de práxis Petista no governo, que tal reeditarmos aquela missiva ao povo brasileiro, da qual Freire, Leonardo Boof e Frei Beto também foram signatários e estabelecermos um parâmetro do que estava lá escrito e o que foi feito,até o momento, como nunca dantes na istória deste país. Quanto as relações políticas e comercias, mantidas por este governo, se não são de caráter ideológico não deveriam ser confidencias como disse o presidente do BNDES em recente audiência no senado. Ainda sobre o tema um artigo publicado recentemente no Globo pelo jornalista José Casado diz que ..."pelas estimativas mais conservadoras o Brasil já deu U$$ 6 bilhões em créditos públicos (considerados secretos) aos governos de Luanda e Havana, destes supõe-se que a maior fatia (U$$ 5 bilhões) esteja destinada ao financiamento de vendas de bens e serviços para Angola, onde três dezenas de empresas brasileiras mantem operações, o que deixaria o governo angolano na posição de maior beneficiário do fundo para exportações do BNDES. O restante (U$$ 1 bilhão) iria para Cuba, dividido entre exportações (U$$ 600 bilhões) e ajuda alimentar emergencial (U$$ 400 milhões).
Finaliza o repórter dizendo que o governo Dilma Rossef avança entre segredos e embaraços nas relações com tiranos como José Eduardo Santos (Angola), os irmãos Castro (Cuba), Robert Mugabe (Zimbzbwe), Teodoro Obiang (Guiné Equatorial), Denis Sassou Ngesso (Congo-Brazzaville) Ali Bongo Odimba (Gabão) e Omar al Bashir (Sudão)-este, condenado por genocídio e com prisão pedida à interpol pelo Tribunal Penal Internacional
Concordar ou discordar da forma como o Brasil opera a política externa é uma prerrogativa nossa. Eu discordo da forma. Acho que deveríamos facilitar a política comercial, como os EUA fazem com a China e as monarquias ditatoriais do Oriente Médio, e jamais fornecer empréstimos a título de fomentar as políticas. Mas daí a querer usar o procedimento como índice ideológico é um equívoco.
ExcluirAinda, os articulistas citados desconhecem, ou omitem, que o Brasil é signatário do FMI e está obrigado a compor financeiramente o fundo, optando para tal em financiar onde a chancelaria quer ter protagonismo, e não é possível para nós fazermos protagonismo com países de primeiro mundo pois esses se alinham sempre com os blocos econômicos majoritários, nos restando proceder no Cone Sul, o que é óbvio, e na África, o que é eventual.