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É cor de rosa choque

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A violência contra a vagina é disseminada no cotidiano, dentro de casa, no trabalho, no percurso entre a casa e o trabalho, em todos os espaços, mesmo os de lazer. As mulheres estão tão habituadas a ela desde que nascem que já a internalizaram como ‘normal’. Ou reagem muito menos do que deveriam, resignadas por uma vida inteira de agressões tão corriqueiras que fingem não ligar. Que neste contexto ainda consigam ter desejo sexual e prazer com suas vaginas é um tanto impressionante.”

O corte é de uma matéria de Eliane Brum, para a edição brasileira do El País, cujo link me forneceu uma comentarista do blog, na postagem que relatou a pesquisa do IPEA revelando que 65,1% dos brasileiros opinam que “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”.

O homem, atavicamente sujeito e objeto direto das guerras que a insensatez humana trava, ainda carrega consigo a idiotice de achar que a mulher deve ser um predicado ao qual ele não precisa pedir licença para subjugar social e sexualmente. A violência doméstica do homem contra a mulher, em apertada síntese, é uma manifestação fálica do mito da superioridade de gênero.

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A própria teologia submete a mulher: tanto na Bíblia como no Alcorão, do barro Deus fez o homem a Sua imagem e semelhança para domínio sobre a criação terrestre, e como Adão precisava de uma companheira – alguns adãos entendem “companheira” como passar, lavar, cozinhar, e fazer sexo – Deus fez Eva a partir de uma das costelas de Adão.

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O Brasil, portanto, não é uma exceção arcaica da neurologia machista: resultados similares ao que a pesquisa do IPEA encontrou poderão ser obtidos na maioria dos países cuja sociedade é predominantemente patriarcal. Observe-se, ainda, que a neurologia machista não é um predicativo apenas dos homens: contamina um considerável percentual de mulheres.

O núcleo da matéria de Eliane Brum gira em torno do trabalho das artistas Evelyn Ruman, Casey Jenkins e Naomi Wolf, que “questionam a naturalização da violência contra o desejo das mulheres”.

Evelyn desenvolve o seu trabalho com exposições fotográficas de “presidiárias, internas de manicômios judiciários e instituições psiquiátricas comuns, camponesas de origem indígena, meninas com síndrome de Down, soropositivas para o vírus da Aids, ameaçadas por violência doméstica, velhas.”.

O trabalho de Evelyn é premiado e reconhecido internacionalmente e ela nunca teve dificuldades para expor, mas eis que teve a ideia de entrar no universo feminino mais escondido e que, destarte a evolução psicossocial aberta pela afirmação feminina ocidental, ainda é tabu: a menstruação.

Nenhuma galeria aceitou expor a coleção fotográfica que ela produziu colocando em evidência o próprio sangue menstrual. “Para mostrar o rosto de mulheres condenadas à invisibilidade, foi acolhida. Para mostrar seu corpo que sangra pela vagina não havia espaço. Talvez porque, ao expor o que se prefere escondido e envergonhado, a vítima tivesse virado o jogo. Em vez de compaixão, agora provocava medo.”, comenta Eliane Brum na matéria.

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O texto de Brum, sobre o específico trabalho das três mulheres é primoroso à medida que testa a nossa aversão à condição orgânica da mulher e demonstra como a sociedade relega a sexualidade feminina a uma eventualidade extirpada do ser, aceitando-a como um mero objeto do prazer e, de preferência, o prazer submisso, a ponto de, no nosso caso, 65,1% de nós acharmos que se uma mulher exerce a sua liberdade de expressão vestindo-se como lhe apetece o trajar, ela está convidando o homem a estuprá-la, transformando-a de vítima em coautora do crime.

Leia a matéria completa aqui.

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