Compareceram ontem (25) na Comissão de Saúde da Alepa os diretores da Pró-Saúde, o secretário de Saúde Hélio Franco e o coordenador dos Hospitais Regionais do Pará, Arthur Lobo.
Sou tendencioso para tratar de “OSS”. Reputo-as uma perfeita tradução do patrimonialismo: o Estado constrói hospitais, equipa-os e os entrega a uma OSS, ou seja, a conta é do público e o lucro é do privado.
Nada contra serviços privados de saúde, mas quem quiser administrar e ganhar dinheiro com hospitais que faça à moda antiga: construa e equipe o seu e venda os serviços ao Estado correndo os riscos do mercado.
> Excrescências jurídicas
OSS são excrescências jurídicas. Não passam, de fato, de empresas que prestam serviços de administração hospitalar e cobram por isso. Outra excrescência jurídica as enquadra como sem fins lucrativos. Os seus diretores são vegetais: alimentam-se por fotossíntese.
A hipocrisia legislativa nacional é assim: deixa que os fatos se estabeleçam e depois aprova uma lei, escrita por quem já estabeleceu o fato, para quarar a mancha. As empresas de toda espécie sequestraram a democracia e elegem as suas respectivas bancadas para lhes erigir as conveniências.
> Tudo de bom
As supostas irregularidades na execução dos contratos do governo do Pará com a Pró-Saúde vão de não cumprimento das metas até evasão de divisas para São Paulo. Os usuários reclamam da assistência.
A Pró-Saúde contornou essas indagações e ufanou-se: a história da saúde no Pará conta-se antes e depois dela. O depois dela é o agora e o agora vai muito bem, obrigado. Para quem?
A Pró-Saúde alegou-se uma entidade caritativa de clérigos católicos, como se isso fosse anteparo dos seus defeitos. Tomás de Torquemada também era um clérigo e deve estar no inferno. Mas não podemos, é fato, analisar a Igreja Católica pela Inquisição - e nem pela Pró-Saúde -, pois a Sé também teve outro Tomás, o Tomás de Aquino, uma das poucas luzes da Idade da Trevas, que legou ao mundo a magnífica Suma Teológica. Ainda bem que ele não tinha uma OSS.
Pois bem: não há nada de errado com a Pró-Saúde. Avisemos isso aos usuários do sistema para que eles parem de bancar os rebeldes sem causa.
> A saúde vai bem
O secretário de Saúde jogou com a contratada e foi além: não é somente a saúde da Pró-Saúde que é ótima: a do Estado do Pará é similar, só que a um custo muito maior, ou seja, a solução é o cinismo: vamos doar todo o sistema à Pró-Saúde, pois ela entrega mais por muito menos.
Ah! Não temos problemas de leitos, portanto, por favor, parem de me procurar rogando a minha interferência (que não vale coisa nenhuma) por um leito, dizendo que estão esperando há um mês.
O coordenador dos Hospitais Regionais do Pará, Arthur Lobo, selou a reunião com ouro: a saúde do Pará não só é boa como é exemplo para o Brasil, pois profissionais de outros estados que por aqui andam, daqui saem admirados.
O pano caiu e eu estou seriamente inclinado a da próxima vez que precisar de serviços de saúde não fazer como sempre faço e como faz o governador Simão Jatene. Não vou mais para São Paulo: vou para o Hospital Regional de Breves, ora pois.
Somos ou não somos uns boçais?
É de estarrecer o cinismo e a falta de humanidade dessa gente que nos dirige por enquanto, em falar que a saúde no Pará é de excelência. Excelência pra quem, excelências? A saúde no Pará é um caos, senhores. Eu gostaria de ver um familiar desses senhores nas filas madrugada a dentro, para ser atendido por essa saúde de excelência. Os senhores estão brincando com coisa seria. Saúde, antes de tudo, senhores, é prevenção. E nesse quesito, bem, deixa pra lá... Saúde no Pará é um raro caso de excelência desse governo preguiçoso, sob a ótica vesga dessa gente.
ResponderExcluirO Governador quando tem problemas de saúde vai a São Paulo ou quem sabe para o exterior. Ele não confia nem na assistência médica particular do Estado quanto mais na pública. É puro deboche.
ResponderExcluirDeputado, suas palavras estão irretocáveis. Realmente as OSS são o mais novo método de desvio de finalidade$$$. Alegra-me ver suas ponderações. Entristece-me saber que Vossa Excelência pensa: "essa geração esta perdida..." sabendo que sua Excelência - assim como eu - faz parte dela, e é candidato novamente... Para quê? Qual o interesse?
ResponderExcluirA geração que se perdeu foi a minha, mas a política é único meio através do qual a democracia se exerce e devemos aperfeiçoa-la exercendo-a, pois tudo de ruim e tudo de bom devemos ao exercício da democracia.
ExcluirTalvez eu continue pelo egoísta prazer de poder dizer na tribuna o que escrevo aqui, chamando os meus pares para um processo autocrítico.
Não tenho interesse financeiro algum na política pelo simples fato de eu não precisar, por isso posso mandar, a hora que eu achar que devo, governos, ou quem os valha, às tintas. E mais prazer ainda me dá esnobar as ofertas que recebo para voltar à base.
Poder ter dito aos diretores da Pró-Saúde, ontem, tudo o que eu escrevi aqui e mais outras coisas que eu não posso escrever ou seria processado (lá eu tenho a imunidade de pronunciamento. Aqui não), faz-me bem ao estômago.
Mas eu começo a acreditar que sai muito caro para o Estado eu cuidar do meu estômago dessa forma. Posso continuar militando partidariamente, sem precisar ter mandato: sai mais barato.
Entrei cedo na política e fui mais longe do que eu achei que iria. Estou seriamente intuído, já que as meninas estão me enrolando para dar um neto (tenho o compromisso de sair quando o primeiro neto nascer) a abreviar a saída. Se um dia uma reforma política séria mudar a forma eleitoral para algo mais consequente, de repente volto.
São apenas elucubrações para tentar responder a sua pergunta. Falei mais comigo mesmo do que com você. Mas cada vez mais, com maior frequência, tenho dito isso a mim mesmo.
"Falei mais comigo mesmo do que com você". Não tem problema, posso lhe emprestar o ombro. O admiro como pessoa, como blogueiro ( se eu chamar de escritor, já vai além...), só não, como político. Mas aí, acredito que já é provável que seja com o sistema.
ResponderExcluirQuanto ao seu estômago, esse problema é o menor, o problema é explicar para os futuros netos...
Deixo para os curiosos/anônimos:
Francisco Márcio ( sem pseudônimo ).
Não voto no Jatene e nem no Helder.
Não tenho ( infelizmente ) DAS.
Meus netos não serão problema: eles serão a solução. Eu já lhe disse: tem a Araceli, que, aliás, é ótima.
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