Pesquisa publicada em 17.01 revelou que 71% dos paulistanos são contra os “rolezinhos”, número que pode ser espraiado para o Brasil, pois o percentual de pessoas que tolera o esbulho do seu espaço individual e a turba da sua zona de conforto é pequeno em todo o mundo.
Ser contra ou a favor é opinião. Tratar o evento de forma apropriada é a medida da nossa inteligência sociológica e do preparo democrático dos governantes.
> Origem do rolezinho
O “rolezinho” não surgiu no Brasil, mas há 11 anos, nos EUA: são as “flashmobs”, junção idiomática de “flash mobilization”, em tradução livre, “mobilização rápida”, que se expressa por coreografias.
Em 2003, o jornalista Bill Wasik enviou um e-mail a 50 amigos para se encontrarem em frente a Claire’s Acessories, uma loja de bijuterias em Manhattan. A loja soube e acionou a polícia, que impediu a ocorrência.
Wasik não desistiu e convidou 100 pessoas para vários lugares em Manhattan. Em cada ponto teria um coordenador para dizer onde seria o encontro final, só revelado minutos antes: a Macy's, uma das maiores lojas de departamentos dos EUA. Deu certo.
A moda se espalhou e virou cult. Vez em quando tem confusão nas estações de metrô, onde as flashmobs atrapalham a pressa dos nova-iorquinos. Em 26.12.13, uma flashmob causou tumulto em um shopping do Brooklin.
> No Brasil
No primeiro evento do “rolezinho” no Brasil opinei que o tratamento dado era equivocado: não era um caso de polícia.
Embora a reação imediata do poder público tenha sido o batalhão de choque, as autoridades paulistanas, baseadas na experiência norte-americana, flexionaram a tensão e o governo afastou a repressão.
O Poder Judiciário inaugurou o trato com liminares impeditivas, mas pronto dividiu-se: juízes começaram a negar impedimentos, o que tangeu os lojistas à mesa do governo.
As partes reconheceram que dentre os débitos do Brasil com a nação, um deles é com a juventude de baixa renda, que com a mudança do perfil socioeconômico experimentado pelo país e a consolidação da democracia, começa a levantar o nariz em busca de ar e isso incomoda quem não está pronto para dividir o espaço.
> Inteligência aplicada
Surpreendeu-me a rápida, e correta, compreensão do governo Alkmin. Soube que o doutor em antropologia por Yale, e atual professor da matéria na Universidade da Califórnia, James Holston, de quem li “A cidade modernista: uma crítica de Brasília e sua utopia”, (nunca concordei com Brasília, por acha-la de arquitetura desagregadora e desumana), e estudioso da periferia de São Paulo desde os anos 80, que deu assessoria à prefeitura de Nova York sobre como tratar as flashmobs, foi consultado pelo governo Alkmin sobre a abordagem a ser dada ao “rolezinho”.
Isso me deixou satisfeito: é sinal que o poder público nacional começa a valorizar a inteligência aplicada, o que é o estágio final do desenvolvimento de qualquer nação.
Para ler uma rápida entrevista concedida por James Holston, à “Folha”, sobre o “rolezinho”, clique aqui.
Parsifal o que fica cada dia mais claro no Brasil.
ResponderExcluirO aparelho repressor do estado que significa em parte uma forma de pensar da nossa sociedade, está completamente ultrapassada e portanto parte dessa sociedade também. Daí não vejo muitas dificuldades em evoluir para alguma forma de tratamento seja nas escolas, nas famílias ou nas ruas mais civilizada.
Parabens Deputado enfim V.Ex. viu algo de bom de um governante do PSDB
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