O pernambucano Antônio Maria foi um dos mais talentosos letristas da MPB. Além de compositor, foi excepcional cronistas, comentarista esportivo, poeta e, de quebra, escrevia peças teatrais.
Começou, aos 17 anos, a apresentar programas na Rádio Clube Pernambuco. Quando se mudou para o Rio de Janeiro, na década de 40, pronto encontrou ocupação como locutor esportivo na Rádio Ipanema.
Após voltar ao Recife, onde casou e, sempre como apresentador de rádio, ter passado por Fortaleza e Salvador, em 1951 retornou definitivamente ao Rio, como diretor de produção da TV Tupi, recém inaugurada.
As crônicas de Maria, publicadas em “O Globo”, eram retratos do cotidiano, que iam de futebol a política, passando pelas páginas policiais: ele fazia uma espécie de reportagem literária. Não relatava cruamente os fatos: fazia novelas com eles e a leitura era agradabilíssima.
"Rio, Eu Gosto de Você", com Ary Barroso; “Menino Grande”, com Nora Ney; "Valsa de uma cidade" e "Canção da Volta", com Ismael Neto; as belíssimas "Manhã de Carnaval" e "Samba do Orfeu", com Luís Bonfá; "O Amor e a Rosa", "As Suas mãos" (Maysa cantou isso com arte); e "Se eu Morresse Amanhã" são as músicas mais conhecidas de Maria, mas ele escreveu mais de 60 canções.
Acometido de uma deficiência cardíaca, quando perguntavam o que ele tinha, respondia: "cardisplicência", termo que ele inventou para definir a sua displicência com a saúde. Os amigos o chamavam, então, de cardiopliscente.
Na madrugada de 15 de outubro de 1964, Maria chegou ao seu apartamento em Copacabana e, antes de se fazer ao sono, um enfarte tirou-lhe a vida na juventude dos seus 43 anos.
Na década de 50, Sargentelli tinha um programa de entrevistas, o “Preto no branco”. Antônio Maria era um dos entrevistadores. Numa noite, a convidada era a deputada Sandra Cavalcanti, de difícil trato. Antônio Maria disparou: “a senhora é mal mal-amada?
Sandra retrucou: “Posso até ser, senhor Maria, mas não fui eu que fiz aquela música 'Ninguém me ama'".
Ela se referia ao samba-choro "Ninguém me Ama", que Antônio Maria escreveu e Fernando Lobo musicou. O sucesso, para mim, é a melhor composição de Maria, e foi gravado, inclusive, por Nat King Cole, em um LP de coletânea de músicas latinas, que você ouve abaixo:
“Ninguém me ama, ninguém me quer
Ninguém me chama de meu amor
A vida passa, e eu sem ninguém
E quem me abraça não me quer bemVim pela noite tão longa de fracasso em fracasso
E hoje descrente de tudo me resta o cansaço
Cansaço da vida, cansaço de mim
Velhice chegando e eu chegando ao fim”
Grande Antônio Maria! Grande Nat K. Cole! Grande Parsifal! Eu já espero essas coisas domingo de noite.
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