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Vinícius de Moraes, o poetinha camarada

Batizado Marcus Vinicius de Moraes, e mundialmente conhecido como Vinícius de Moraes, foi um dos maiores poetas da língua portuguesa. Eu não disse do Brasil e sim da língua portuguesa: isso inclui, por óbvio, Portugal e todos os países que se comunicam através, com a licença de Bilac, da “última flor do Lácio, inculta e bela.”

É de Vinícius um dos mais belos sonetos líricos da língua portuguesa. Um diamante sem jaças. Métrica perfeita e imagens virtuosas. Nenhuma palavra fora do lugar:

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Vinícius foi, sozinho ou em parceria com outros monstros sagrados, um dos maiores letristas da MPB, e passeou com desenvoltura na dramaturgia e no jornalismo nacional.

> Boêmio inveterado

Fumava todos os maços e bebia todas as garrafas. Um mulherengo fementido: não conseguia manter um relacionamento duradouro com as mulheres, pois desejava possuir todas.

Teve 9 esposas, separou-se 9 vezes, comprou 9 apartamentos e ao fim dos relacionamentos saia com um único objeto.

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Contam os amigos que quando o viam com um quadro debaixo do braço, que era o seu próprio retrato pintado por Portinari, era sinal de que mais um casamento se desfizera: a pintura era a única coisa que ele fazia questão de levar.

> O poetinha camarada

O apelido foi posto por Tom Jobim. Vinícius era extremamente solicito e era preciso ter cuidado ao desejar algo em voz alta perto dele: ele queria realizar.

Conta Toquinho, seu parceiro inseparável, que certo dia, depois de um show em Paris que tinha sido uma glória de sucesso, Vinícius saiu com amigos para jantar.

O restaurante estava cheio, mas em se tratando de Vinícius o gerente pediu a alguns clientes que apertassem para caber mais uma mesa e o sentou. Lá pelo meio do jantar Vinícius chamou o gerente e disse que avisasse a cada cliente que a conta, naquela noite, era dele.

Costumava também convidar os zeladores do prédio em que morava, no Rio de Janeiro, para almoçar.

> Diplomata

Vinícius começou a carreira profissional como diplomata: foi aprovado na seleção do Instituto Rio Branco em 1943. Assumiu, em 1946, o posto de vice-cônsul do Brasil em Los Angeles. Nos anos 50, atuou em Paris, e foi a partir dali que começou a escrever poesias, músicas e peças de teatro.

Em 1956 a fama se consolidou com a peça "Orfeu da Conceição", feita em parceira com Tom Jobim e cujo cenário foi assinado por Oscar Niemeyer.

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Em 1968, por “simpatias com os comunistas” foi aposentado compulsoriamente pelo famigerado AI-5. A causa oficial da aposentadoria foi que o “comportamento boêmio” o impedia de cumprir as suas funções.

A consagração de Vinícius veio na década de 1970, quando os maiores cantores da MPB gravaram suas composições e ele, junto  com Toquinho, apresentava-se no Brasil e no mundo, com sucesso certo.

O mais conhecido sucesso de Vinícius foi "Garota de Ipanema", que guarda o recorde de ter sido a canção mais gravada no mundo, mas me encanta o singelíssimo "Samba da Volta", gravado em parceria com Toquinho. É a imagem mais perfeita que um poeta já escreveu sobre a alegria da volta desejada: "quando a porta abriu você me olhou, você sorriu, ah, você se derreteu..."

"Você voltou, meu amor
Alegria que me deu
Quando a porta abriu você me olhou
Você sorriu, ah, você se derreteu
E se atirou, me envolveu, nem brincou
Conferiu o que era seu
É verdade eu reconheço
Eu tantas fiz, mas agora tanto faz
O perdão pediu seu preço, meu amor
Eu te Amo e Deus é mais."

Na tarde de 9 de julho de 1980, Vinícius fechava com Toquinho os detalhes do lançamento do álbum "Arca de Noé", quando alegou cansaço e disse que ia tomar um banho. Toquinho foi deitar e foi acordado pela empregada da casa, alegando que Vinícius estava na banheira, com dificuldades para respirar.

Toquinho e Gilda, a nona e última esposa do poeta, levaram-no para o hospital, mas antes de finda a manhã de 10 de julho de 1980, aos 67 anos, o poeta calou.

A sua produção foi espantosa: 7 peças de teatro, 23 álbuns e mais de 300 canções, sozinho ou com parcerias.

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