Pedras à tona

par

O correspondente em Genebra do “Estado de S. Paulo”, Jamil Chade, acessou documentos liberados pelo Conselho Mundial de Igrejas, que revelam ações da Igreja Católica à época da ditadura.

Os documentos, entregues em 14.06.11 ao governo brasileiro, pontuam a luta do então arcebispo de São Paulo, cardeal D. Paulo Evaristo Arns, que “liderou um lobby internacional, coletou fundos de forma sigilosa e manteve encontros com líderes no exterior para alertar sobre as violações aos direitos humanos no Brasil.”.

Há várias correspondências trocadas por D. Paulo Arns e por Charles Harper, à época encarregado pelo departamento de Direitos Humanos na América Latina do Conselho Mundial de Igrejas, com autoridades internacionais, inclusive com o então presidente dos EUA, Jimmy Carter.

Chamou-me atenção uma destas cartas, assinada por Harper, enviada a Genebra, na qual ele relata duas manifestações contra o governo militar, ocorridas em São Paulo: a da Igreja da Penha, que reuniu cerca de 6 mil pessoas, e a da PUC-SP, que culminou com a prisão de mais de mil universitários.

O ano era 1977. O presidente era Ernesto Geisel. Eu cursava engenharia mecânica na Universidade de Mogi das Cruzes-SP, e participei dos dois movimentos, que se deram no mês de setembro. Não lembro as datas exatas. A manifestação da Penha foi uns dois ou três dias antes da PUC.

No dia da Penha, o trem e as linhas de ônibus que faziam o percurso Mogi-São Paulo (cerca de 60 km), foram interrompidos. Eu e mais três colegas da universidade pegamos carona na basculante de uma caçamba que carregava pedras. Mas isto é outra história que um dia eu conto.

Uma passagem pitoresca narrada nos documentos foi a audiência que o presidente dos EUA, Jimmy Carter, concedeu a D. Arns, em 1978, durante a sua visita ao Brasil.

O regime militar exigiu que Carter não recebesse D. Arns a sós, e “colou” nele mais cinco arcebispos, escolhendo quem, dentre eles, era simpático ao regime, para fazer o contra ponto.

No encontro, D. Arns permaneceu calado, pois já estava em curso uma operação montada por Cyrus Vance, então secretário de Estado norte-americano, que consistia em, no deslocamento de Carter para o aeroporto do Galeão, introduzir D. Paulo na limusine presidencial, o que foi feito, driblando a segurança brasileira.

Comentários

  1. São esses heróis que o BRASIL precisa ter conhecimento, e não uns que divulgam terem sido o salvadores da nação, quando a verdade milita no sentido contrário.
    Por essa razão, que o sigilo eterno dos fatos históricos é um equívoco, pois, esconderá a verdade, e ficaremos refém das mentiras contadas por esses falsos guerrilheiros e hipócritas democratas.

    ResponderExcluir
  2. D. Paulo é irmão de Zilda Arns, que fundou a Pastoral da Criança.

    ResponderExcluir
  3. Foi um dos maiores lutadores pela democracia e ainda é porque ainda está vivo.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Comentários em CAIXA ALTA são convertidos para minúsculas. Há um filtro que glosa termos indevidos, substituindo-os por asteriscos.

Popular Posts

Mateus, primeiro os teus

Ninho de galáxias

O HIV em ação