“CPI sempre é instrumento de oposição. O papel da situação é impedir que elas ocorram, portanto, a bola está com vocês”. Eu ouvi isto há 60 dias, quando ponderava a um deputado a inconveniência política de uma CPI cujo principal pano de fundo, longe da ribalta do discurso ético, asseverava a oportunidade do investimento político, turbinado pela gratuita exposição midiática.
“Acho que isto é problema interno da Assembleia e lá deve ser resolvido”. Foi o que ouvi de um membro do governo, quando ponderei que estava coberto de razão o interlocutor da oposição.
Os chefes de todos os poderes da República, na restritiva similitude de seus cargos e obliquidades das suas funções, assemelham-se a porteiros do inferno: guardam os sete pecados capitais e, não rogados, deparam-se com mais alguns que o engenho humano engendra no cotidiano do exercício político.
A situação equivocou-se na avaliação de que a proposta da CPI, carenada por uma disputa externa entre dois grupos de comunicação, não resvalaria para a sua seara. Nestas ocasiões não se bate somente, tão pouco apenas se apanha: há distribuição aleatória de bordoadas e o governo, ainda tateando uma equipe, embora não esteja diretamente ligado aos banzeiros, sofre os esguichos na linha da água.
Neste fado que ainda cantará por mais uns dias, a Assembleia Legislativa seguirá trôpega até reencontrar rumo: o Poder Legislativo é o mais permeável às crises institucionais porque é o menos difícil de ser acessado e o mais fácil de receber as pedradas da opinião pública.
Isto não é um mal. Faz bem e abre oportunidades para desconstituição de grupos de poder que se instalam muito além de parlamentares: na Assembleia Legislativa do Pará há grupos de poder montados há 20 anos, que resistiram a duas graves crises anteriores e estão sendo agora defenestrados.
Não se trata de eximir os parlamentares de culpabilidade. Somos os maiores culpados. Uns por ação objetiva, outros por omissão conveniente, todos por manutenção de prerrogativas que nos parece indispensável ao exercício do mandato, mas, para os olhos de quem nos entregou a representação, não passam de odiosos privilégios. Se privilégios são, muito mais difícil se faz arrosta-los porta afora a não ser que, vez por outra, quando pesa demais a cavalgadura, sacuda-se o alazão para derrubar a carga.
Como todo instrumento político, CPIs são combinadas: quando não se fatora um consenso elas fenecem e, em quaisquer circunstâncias, elas se procedem na exata correlação de forças desenvolvidas no parlamento, ou trotam na conveniência dos governos.
Quando um governo quer uma CPI, e acha que pode controla-la, ela se instala. Quando quem a instalou percebe que ela fugiu dos arreios, ela deita. O resultado é sempre um relatório que dormirá, para sempre, nos escaninhos empoeirados dos destinatários a quem foi enviada.
A minha posição na Assembleia Legislativa concede-me a responsabilidade política de saber que não sou repórter e por isto mesmo não esperem de mim furos de reportagens por conta das informações privilegiadas que tenho, por viver o dia a dia do parlamento paraense.
Os bastidores de toda esta crise está sendo minunciosamente anotado em uma prosa que só será publicada quando se transformar em história: não esperem de mim o buchicho das paredes, o esgueiro das fechaduras ou as versões das colunas.
Esta crise tem mais personagens do que aqueles que aparecem nos créditos, menos fatos do que estes que surgem nas versões, causas mais diversas do que aquelas que contam as linhas que sobre ela se versam e interesses mais escusos do que aqueles que arrotam lições de moral e ética. Os efeitos imediatos eu não preciso comentar: estão nas manchetes.
Ela cessará. Não por haver, ou não haver, CPI. Mas, porque os interesses que a abanaram serão compelidos. Haverá aqueles que, culpados ou não, serão os escolhidos para imolar: por isto a carreira dos cordeiros para longe da pedra do sacrifício, ou a tentativa desesperada de não ir sozinho.
Quando o mar serenar eu explico tudo o que alguns podem não ter entendido no texto. Por enquanto, procurem quem da fonte bebe e não se apoquentem: no covil do corcel negro os lobos não choram.
Belo texto, dep.Parcifal.
ResponderExcluirEu não só "não espero do senhor" tudo que V.Excelência escreveu, como de nenhum outro político. Eu sou maduro o suficiente para saber que quando a ditatura dos milicos caiu, outra surgiria, infelizemente eu comprovo isso no dia-a-dia. Estamos à mercê dos politiqueiros, justiceiros (aqui referente à falta de justiça) e de policiais que contaminam o sistema. Ainda não endureci e acredito em flores, mesmo sem grandes motivos.
ResponderExcluirParsifal, não acredito do forma alguma que voce trabalhando na Alepa voce não tivesse conhecimento ou tenha tenha nunca ouvido um borburinho sobre estas traquinagens. Parsifal, se voce não tem nada com isto o que falta para voce assinar esta CPI? Que tal uma limpeza completa na ALEPA?
ResponderExcluirParte de um excelente comentario da Jornalista Franssinete Floresano.
ResponderExcluirDizer que a CPI prolongaria uma crise que exige respostas imediatas e paralisaria a agenda da Alepa, que não haveria isenção e serviria a alguns poucos deputados aparecerem na mídia pode comprometer futuras proposições de CPIs, contra as quais estariam passíveis de serem usadas as mesmíssimas alegações. Sob tal ótica, todas as CPIs seriam natimortas. E a Legislatura está só começando...
Belo e elucidativo
ResponderExcluirDeputado, desculpas pra boi dormir nós estamos cansado, a verdade é, já se fez CPI pra tudo neste mundo, o senhor mesmo já defendeu outras, o importante é que, não tem vontade politica pra instalar uma CPI, dizer antecipado que não serviria pra nada, é apenas uma desculpa que escamoteia a verdade, se não daria em nada, assine junto com sues parceiros do PMDB e prove o contrario, mais não me venha com as desculpas furadas.
ResponderExcluirDesvio é pra ser apurado, e o que houve na AL foi desvios, e o legislativo é pra fiscalizar, o faz o seu papel, ou alguém vai fazer no lugar e desmoralizar os deputados, alias, nem se fala em moral neste filme.
abraços
Robson
"...por isto a carreira dos cordeiros para longe da pedra do sacrifício, ou a tentativa desesperada de não ir sozinho".
ResponderExcluirNão adianta, meu caro, não tem como convencer que a sua posição é a CORRETA! Com toda certeza os seus inimigos irão usar essa episódio para detornar vc. nas próximas eleições!
Já até imagino: PARSIFAL? AH, JÁ SEI! AQUELE Q. FOI CONTRA A INSTAURAÇÃO DA CPI DO ESTELIONATO NA ALEPA!
É isso q. será dito! E os seus eleitores NAO vão entender. A cada ano q. passa os eleitores crescem, amadurecem, ficam mais politizados. Não queira PAGAR para VER.
Pra que fazer uma CPI de compadres?!!!
ResponderExcluirDeixa o Ministerio Público resolver isso, é um órgão com maior isenção.
A CPI só vai gastar mais dinheiro público para não se ter nenhum resultado prático.
O ex-Deputado e ex-Presidente da Assembleia, DOMINGOS JUVENIL, deveria seguir o exemplo da MÔNICA PINTO e fazer uso da delação premiada e colaborar com a justiça na elucidação dos nomes dos Deputados envolvidos no escândalo da sua gestão, que está sendo investigado pelo MPE; MPT; MPF; RECEITA FEDERAL; POLÍCIA CIVIL E POLÍCIA FEDERAL, especialmente nos favorecimentos objetos de desvios resultantes de distorções nos processos licitatórios, que - em escândalos similares ao da Assembleia - obrigam empresas a desviar importâncias cada vez maiores para obter novos contratos.
ResponderExcluirOlá Robson,
ResponderExcluirVocê está absolutamente equivocado ao afirmar que já defendi outras CPIs. Mesmo como oposição ferrenha contra o governo Ana Júlia me recusei a assinar 4 CPIs que foram propostas contra ela. Eu nunca assinei uma CPI porque não acredito nelas como intrumento de apuração consequente e, ao meu conceito, elas não passam de instrumento politico eventual. Para estribar o meu argumento peço-lhe que busque todas as CPIs que já ocorreram na República e me demonstre o que teve de resultado de uma só delas. Em CPIs se fazem negócios, acordos, chantagens, e todo tipo de irregularidades, as vezes, e quase sempre, piores do aquilo que elas deveriam apurar e são ótimas como instrumento de oposição.
Esclareço-lhe que o que coloco não é uma desculpa furada e sim uma posição que sempre assumi: é o que eu penso e não posso deixar de dizer o que eu penso apenas por conveniência eleitoral, pois o meu eleitor precisa saber o que eu penso para concluir se vota ou não em mim.
10:06:00,
ResponderExcluirA minha obrigação como político é mostrar a minha posição. Se ele é correta ou não só o tempo dirá. Se os eleitores concordam ou não é dito imediatamente, como é o seu caso, que declara não concordar e isto não quer dizer que o pensamento correto é o seu, como não posso esperar que seja, necessariamente o meu.
A exposição de mim mesmo é o exercício democrático: você tem a oportunidade de dizer para um deputado o que você pensa, dizer que ele está errado, e chamá-lo atenção para que se corrija, mas, isto é o seu ponto de vista e não a verdade absoluta.
Em meio a isto você vai formando a sua opinião sobre mim e saberá exatamente os meus conceitos políticos e pessoais: é este tipo de eleitor que poderá, um dia, fortalecer a democracia e é por isto que pratico isto aqui, embora fosse mais conveniente para mim não me expor e ficar calado, ou, só dizer o que os leitores querem ouvir.
Se eu vou me eleger ou não com esta atitude o futuro dirá, mas, é o tipo de exercício democrático que considero acertado.
Não dou cestas básicas, não arrumo empregos, não compro votos, não tenho esquemas eleitorais. Só tenho votos de opinião. Se eu não tiver opiniões favoráveis suficientes não me elegerei, mas, não pretendo fingir o que não sou e nem falsificar o que eu penso à cata de votos.
Penso, todavia, que devo merecer algum credito, pelo simples fato de me expor ao debate.
Se os politicos não podem fazer CPI por que não dá em nada. Pergunto: o que mais poderiam fazer então?
ResponderExcluirParece que está cada vez mais vazia a função parlamentar. Será que vivemos uma "democracia" onde quem decide é só o executivo ou uma "ditadura" da maioria do legislativo?
Apure-se, mostre os culpados e livres os inocentes dessa vergonha.
Oi Amigo,
ResponderExcluirNós seus eleitores sabemos da sua coerência e o que esperar de voce, outros, leitores assíduos,deste blog também.
O inesperado seria voce estar a favor desta CPI, por todos os motivos por voce mesmo aqui apontados.
Abraços, Virgílio
Transcreve-se abaixo o teor do comando estabelecido no art. 45, caput, do Regimento Interno da Assembleia, in verbis:
ResponderExcluir"Art. 45. Ao término dos trabalhos, a CPI apresentará relatório circunstanciado, com suas conclusões, que será lido em Plenário, publicado no Diário Oficial da Assembleia e enviado às autoridades pertinentes, para que adotem as providências saneadoras propostas, bem como, se for o caso, as conclusões serão encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores."
O Ministério Público já está à frente das investigações e ao final haverá de propor as medidas judiciais cabíveis.
Diante disto, a instauração de uma CPI não teria perdido o objeto?
DEPUTADO.
ResponderExcluirAFIRMA QUE CPI NÃO DÁ EM NADA, É ASSINAR ATESTADO DE .......
CONVERSA PARA BOI SONHAR....
ASSINA PARSIFAL.
O que eu achei mais lamentável nesse texto foi
ResponderExcluiro cometário:"...isso é um problema interno da ALEPA..." então vcs acreditam que ROUBAR DINHEIRO DO POVO não é problema do povo? acham que podem resolver entre quatro paredes com seus conchavos e querem sair dessa ilesos? estais enganado sr. deputado e pode acreditar que a PRESSÃO DAS RUAS VIRÁ!