Pular para o conteúdo principal

Os ventos do Oeste

manif

Os ventos democráticos que singraram o Mediterrâneo e derrubaram Ben Ali, o ditador da Tunísia, tomaram o rumo Leste e invadiram o delta do Nilo: ontem, mais de dez mil egípcios foram às ruas das cidades do Cairo e Suez, protestar por uma reforma politica que aposente o presidente Hosni Mubarak.

Desde o assassinato de Anwar Al Sadat, em 1981, Hosni Mubarak, que era o vice-presidente, assumiu a presidência e vem se reelegendo: transformou-se em um ditador há 30 anos no poder.

Como se vê, Hugo Chávez não inventou nada, apenas quer importar à Venezuela, a fórmula egípcia de Mubarak de justificar uma ditadura pela manipulação legal do sufrágio.

Um policial e dois civis morreram na manifestação de ontem: é a primeira rufada de muitas que virão com o intuito de devolver a democracia à terra dos faraós.

A propósito, leia aqui um texto que escrevi quando estive, pela primeira vez, no Egito.

Comentários

  1. Parsifal;

    Vejo estes surtos de insurgência política no oriente médio com muita reserva. Dizem que aqui no Brasil o povo só saiu às ruas pedindo para um presidente sair quando a rede Globo atiçou. Creio que no mundo árabe a força populista que move estas manifestações em toda parte seja a mesma: o ala radial xiíta do islã, comandada pelos seus incendiários líderes. A conferir nos próximos anos.

    Se assim for, o mundo estará caminhando a passos largos para uma instabilidade política em escala de 3a. guerra mundial. A "Jihad" não vai se auto-limitar só porque o Hosni Mubarak foi deposto. A guerra fria pode está se reaquecendo, pois uma vez que se torne irreversível o domínio do enriquecimento de urânio e a fabricação de armas nucleares pelos aiatolás do Irã, as quais seriam fatalmente distribuídas por todas as nações xiítas; os Estados Unidos, Israel e a Rússia já estariam correndo em direção da manipulação militar da ionosfera e da energia escalar, através do projeto H.A.A.R.P, com consequências imprevisíveis.

    Ainda acho que Saddam Hussein foi razoável quando cobrou das nações ocidentais e das monarquias sunitas árabes a sua "montanha de ouro" por manter o Irã neutralizado em décadas de bombardeios. Não pagaram, ele ficou maluco, fez desatinos imperdoáveis, deu no que deu, e agora aguentem os persas.

    ResponderExcluir
  2. As suas preocupações são procedentes do ponto de vista geo-político: o Oriente Médio será sempre uma área de instabilidade estratégica e não há absolutamente nada que possa ser feito pelo Ocidente a respeito a não ser esta desgraçada política de dissuasão que os EUA praticam e sempre a praticarão, seja o mandatário eleito ou um ditador.
    O que ocorreu na Tunísia e agora se ensaia no Egito é um movimento interno: não há como uma ditadura, seja ela de esquerda, ou de direita, se sustentar para sempre e chegará um momento em que a fadiga de material racha a sustentação do ditador.
    Acredito que é o que ocorre agora com Mubarak.

    ResponderExcluir
  3. Parsifal;

    Concordo com você sobre o dessastre que é a intervenção extrangeira sobre a região do oriente médio (incluindo o Lula); há mais de 5 mil anos eles tem um interminável contencioso e provavelmente nunca haverão de resolver isto por completo.

    Penso que, em parte pela interferência das superpotências e em outra pela velha divisão do mundo, parece haver entre as várias nações de religião muçulmana uma espécie de "sincretismo político" análogo ao que acontece na europa e no continente americano. Quando o poder está concentrado nas mãos de monarquias, ditadores ou mesmo partidos republicanos fortes (elites capitalistas), geralmente seguem a orientação sunita do islã; quando o poder está nas mãos de revolucionários religiosos e populistas, são os xiítas que controlam.

    Entre estas duas correntes poderosas, existem outras mais moderadas, voltadas para a contemplação mística e virtudes do espírito, que foram por muitos anos perseguidas pelas outras duas (a fio de espada) supostamente por heresias religiosas, inclusive na Tunísia e Líbia.

    Seria muito interessante se nós ocidentais estudássemos mais não só o islã convencional, como também estas correntes místicas, ex: os sufis, e pudessemos extrair grandes sabedorias do oriente. Um bom livro para ler sobre o assunto é "Sabedoria do Deserto", de Neil Douglas-Klotz.

    ResponderExcluir
  4. A cultura islamica é admirável em todos os seus campos de manifestação. Infelizmente a milenar dicotomia que se estabeleceu entre o Leste e o Oeste, impede qualquer disseminação da genialidade do islã, e tudo que é pulverizado deles é o fundamentalismo religioso das diversas correrentes que se estabeleceram.
    O Irã, por exemplo, tem pintores clássicos, e modernos, que nada deixam a dever aos ocidentais, mas, é raro lhes ver uma tela.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Comentários em CAIXA ALTA são convertidos para minúsculas. Há um filtro que glosa termos indevidos, substituindo-os por asteriscos.

Postagens mais visitadas deste blog

Mateus, primeiro os teus

Convalescendo da implantação de um stent , o governador Simão Jatene (PSDB-PA) foi apanhado, ainda no Hospital do Coração (SP), na manhã de ontem (03), por uma desagradável matéria da “Folha de S. Paulo” reportando que “ao menos sete familiares, além da ex-mulher e da ex-cunhada” de Jatene exercem cargos de confiança no Executivo, no Legislativo e no Judiciário do Pará. A reportagem declara que, somados, os salários dos familiares do governador “ultrapassam R$ 100 mil mensais”. > Sem incidência de nepotismo As averiguações já foram matérias em blogs locais. Quando me foi perguntado se feriam a Súmula 13 do STF (nepotismo), opinei que não, o que foi agora ratificado pela reportagem da “Folha” que, ouvindo “especialistas” declarou que os “casos não se enquadram diretamente na súmula vinculante do STF”. Nenhum dos parentes ou afins relacionados pela “Folha” está a cargo de órgãos vinculados ao executivo estadual e a matéria não demonstra a existência de cargos ocupados, no Poder...

O HIV em ação

A equipe do cientista russo Ivan Konstantinov arrebatou o primeiro lugar no “International Science and Engineering Visualization Challenge”, um concurso que premia imagens científicas da forma mais verossímeis e didáticas possíveis. Abaixo, a imagem em 3D do mortal vírus da Aids (HIV), em laranja, atacando uma célula do sistema imunológico, em cinza. A tática do HIV é se estabelecer dentro da célula, sem destruí-la. Na imagem abaixo foi feito um corte para mostrar o HIV já estabelecido no núcleo da célula imunológica, usando-a para se reproduzir, expelindo mais vírus que atacarão mais células imunológicas para torna-las hospedeiras, por isto o sistema imunológico do portador do HIV fica reduzido. As imagens foram retiradas do portal russo Visual Science .

Parsifal

Em uma noite de plenilúnio, às margens do Rio Tocantins, o lavrador pegou a lanterna e saiu correndo de casa à busca da parteira. Sua mãe, uma teúda mameluca, ficou vigiando a esposa que se contorcia com as dores do parto. Quando voltou com a parteira, o menino já chorava ao mundo. Não esperou: simplesmente nasceu. A parteira cortou o cordão umbilical e o jogou ao Rio Tocantins. Após os serviços de praxe de pós parto, a mãe de Ismael o chamou ao quarto para ver o filho. O lavrador entrou no quarto. A lamparina o deixou ver a criança ao peito da mãe: nascera Parsifal, pensou ele orgulhoso. O lavrador pegou uma cartucheira calibre vinte, carregou o cartucho ao cano, armou e saiu à porta. O Tocantins espreitava-lhe manteúdo. Apontou a mira da vinte à Lua e disparou: era assim que os caboclos do baixo Tocantins anunciavam a chegada de um homem à família.