É trabalhoso para um governo manter alianças e arrefecer a saga dos aliados: estes, quase sempre, superestimam o espaço que lhes poderia caber.
Todavia, bem manejado, um governo é capaz de produzir a façanha de manter uma coalizão ao longo do tempo.
O chefe de governo deve ser como um maestro: carece saber se colocar frente à orquestra, conhecer cada músico e o exato momento de apontar a batuta para que ele toque.
Deve ter o ouvido apurado à sinfonia: escutar cada som individualmente e afinar aquele que, porventura, saia do tom.
A percepção deve ser extrema, pois se alguém atravessar a melodia e não acertar o passo a tempo, comprometer-se-á todo o concerto.
Ana Júlia não asseverou a batuta. Percebi, desde logo, que o concerto não soaria a contento e intui que talvez tivesse sido um erro aceitar a ida de Ann para a Paratur.
Sou capaz de manter extrema racionalidade nas situações mais adversas. Atiro-me no olho de um furacão lendo Kant. Todavia, o instinto de proteção para com a minha família é absurdamente forte: chega às raias da insanidade e reside naquela tênue linha que arrebata a virtude e a transforma em defeito.
Ensimesmado com o tratamento que estava sendo dado à Paratur, conclui que qualquer desinteligência meramente administrativa de Ann com o gabinete seria tomado por mim como uma grave ofensa pessoal.
Olhando em retrospectiva, reputo um erro meu não me ter reportado ao deputado Jader Barbalho, que gentilmente convidou-a para assumir a empresa, e explicando-lhe as razões, demandar-lhe a substituição: eu não estava totalmente isento para trabalhar pela manutenção da aliança, com as dificuldades que foram impostas a Ann na Paratur.
Elas não foram voluntárias, pois observei que o governo não enxergava a dimensão da geografia em que se situava: a governadora achava que a manutenção da aliança com o PMDB se resumia aos empregos que ao partido foram destinados.
Cometi o erro de achar que, pelo fato de eu exercer a liderança do PMDB na Assembléia Legislativa, dever-se-ia dar tratamento diferenciado à Paratur: foi a minha parcela de culpa no divórcio.
Talvez, se Ann não estivesse lá, eu pudesse ter tido mais isenção para sublevar as impertinências do governo para com o PMDB e me reportado com mais conseqüência em tentar corrigir os rumos da cisão que se formava.
Este caldo de insatisfação pessoal foi fundamental para eu concluir que se o governo dava ao PMDB, seu principal aliado, tratamento tão evasivo, quando o partido era fundamental na correlação de forças que sustentavam a sua base, era hora de colocar em cheque a manutenção de uma aliança que começava a prejudicar a própria estrutura partidária como um todo.
Para mim e Ann foi um enorme alivio quando o deputado Jader Barbalho atendeu-nos o apelo e instou-a a exonerar-se. Pessoalmente, a governadora Ana Júlia sempre a tratou com total delicadeza e somos gratos por isto. O governo, todavia, a tratou com total inabilidade.
Nesta altura, a saída de Ann da Paratrur, que se tivesse sido mais cedo poderia fazer às vezes de um providencial armistício, foi decidida, ao contrário, como um vigoroso toque de ataque.
Imprimi maior investimento contra a lógica que o governo adotava para não se relacionar com os aliados, mas, o gabinete continuou sem perceber que precisava mudar o tom: sequer notou que alguém estava atravessando a melodia.
Ratifiquei que estávamos lidando com pessoas totalmente despreparadas para articulações políticas complicadas, pois eles não usavam o governo para resolver problemas e sim para criá-los: isto é de uma adolescência política que beira à puberdade.
Continua na Segunda-feira
Permita-me parabeniza-lo pelo conteúdo e pelo estilo.
ResponderExcluirCaro Parsifal.
ResponderExcluirMandei ontem como voce solicitou o meu Email, para eu saber a resposta sobre os 300 DAS existentes na COSANPA na cota do PMDB.
o sr. está oficializando a ruptura do pmdb com o pt?
ResponderExcluirOlá Pacheco,
ResponderExcluirObrigado.
Ao anônimo 08:00:00,
ResponderExcluirRecebi o seu e-mail, mas já estava em SP, onde ainda me encontro, em um evento. Assim que eu retornar envio.
Ao anônimo das 17:10:00,
ResponderExcluirEu não tenho esta prerrogativa, amigo. Apenas, com estas postagens, pretendo dizer o possível, de como eu enxerguei, esta aliança.
Parsifal, se o nosso Partido (PMDB) é o maior, qual o motivo desta possivel coligação com o PT? Comungo do sentimento que devemos ter candidato proprio. A Ana Julia e seus PTralhas não cumprem os acordos que fazem. Os cargos que o PMDB tem neste Governo não pagam o desgaste que temos tido.
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