Turvos ventos velas não sopram - I

O começo -  Anthony Falbo

 

A candidatura da atual governadora Ana Júlia, foi fruto de uma articulação elaborada pelo deputado federal Jader Barbalho que, de posse de dados antes sistematizados, mostrou ao presidente Lula que o nome já escolhido pelo Diretório Regional do PT, Mário Cardoso, não teria a potencialidade de levar a eleição no Pará para o segundo turno .

 

Os detalhes desta articulação eventualmente revelarei, mas, à construção da mesma, se fazia necessário, além de trocar o candidato do PT, que o PMDB disputasse a corrida com uma candidatura consistente.

 

A candidatura do PMDB recaiu sobre o então deputado federal José Priante, que, sem titubear, aceitou a empreitada. À Priante, caso não lograsse êxito, foi prometido espaço político a nível federal e estadual, tanto por Lula quanto por Ana Júlia.

 

O PMDB se fez ao imenso território paraense com um discurso pronto: pedíamos votos para Priante com a ressalva de que "caso não queiram votar em Priante votem em Ana Júlia".

 

O nosso adversário, na verdade, chamava-se Almir Gabriel que, caso não se deixasse dominar pelo pecado da soberba, poderia vencer o embate em primeiro turno se aceitasse a aliança com o PMDB, insistentemente oferecida pelo então senador Luís Otávio Campos.

 

Sob o signo desenhado por Jader Barbalho o PT atravessou o Rubicão e, do outro lado do rio, venceu a eleição.

 

O PMDB, no Pará inteiro, festejou a vitória de Ana Júlia como se sua fora: o nosso objetivo houvera sido alcançado mesmo a despeito de não ter sido um dos nossos aquele que ocuparia a chefia do governo do Pará.

 

Ana Júlia reconheceu a importância que teve José Priante no processo: ele aceitara arriscar um mandato certo de deputado federal, para viabilizar a chave do portão do Palácio dos Despachos ao PT.

 

Em função disto, para que a já governadora demonstrasse gratidão a Priante, ela quebrou o primeiro compromisso lavrado com o PMDB: ignorou o acerto feito na presença das executivas regionais do PT e PMDB, de que os espaços políticos destinados ao PMDB seriam apontados exclusivamente pelo partido, e negociou, direta e isoladamente, com Priante, a Secretaria de Saúde do Estado.

 

Há pessoas que têm este grave defeito de se desfazerem dos compromissos assumidos com se fossem estes meras tergiversações.

 

A quebra, por Ana Júlia, deste compromisso, foi a primeira nota escrita com letra vermelha, sobre ela, na caderneta que Jader Barbalho carrega no mais secreto escaninho da sua memória.

 

Assim funciona a neurologia política de Jader: os débitos dos seus interlocutores vão para o caderno retro mencionado e, eventualmente, podem até ser apagados; os créditos alcançados ele crava no coração, onde jamais abaçanam.

 

Continua na sexta-feira.

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