Em manchetes em caixa alta, a imprensa lavrou ontem (19) mais uma denúncia, a sétima, protocolada em desfavor do ex-presidente Lula. Uma delas, o caso do tríplex do Guarujá, já está julgada procedente pelo juiz Sergio Moro, que o condenou a 9 anos e seis meses de prisão.
A sétima bordoada foi protocolado pelo MPF na 10ª Vara Federal de Brasília.
O MPF acusa Lula et caterva de corrupção passiva por, supostamente, ter participado da “venda” da Medida Provisória 471, de 2009, “que prorrogou os incentivos fiscais para montadoras instalavas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste”.
Esse negócio de “venda de incentivos fiscais” é conversa para vários metros pelas esquinas políticas dos estados brasileiros. Dizem as paredes que é uma das formas mais contumazes de financiamento de campanhas.
Independentemente do mérito das denúncias que apoquentam Lula, está clara uma deliberada articulação eventual para levá-lo ao cadafalso, o que teria duas finalidades:
1. Depauperar-lhe a moral e o moral, no afã de convencer a opinião pública a não votar em um “corrupto contumaz” com tantos processos criminais sobre os costados.
2. Como as denúncias já são protocoladas com o carimbo fático da condenação, a pressa no julgamento – ninguém no Brasil foi denunciado, processado, julgado e condenado, até hoje, tão pronto quanto Lula – poderia suprir a sucumbência do primeiro tento, pois uma condenação confirmada em segunda instância o incorreria Lula na Lei da Ficha Limpa, fulminando-o com a inelegibilidade.
A resenha 2 é a que mais se aproxima da volição dos cruzados do justicialismo nacional, pois a condenação no caso do tríplex já se encontra em grau de recurso e o apelo que, nos padrões, demoraria em média 5 anos para apreciar, já está no prelo para sarrafear. Se assim for, aqueles que creem só haver salvação na pseudo-esquerda e que o seu único profeta é Lula, ficarão órfãos da única opção na qual apostam.
Mas essa análise é referencial, pois, como vivemos um tempo político-institucional disfêmico, não é improvável que o recurso de Lula, não mais que de repente, sofra um embargo de gaveta a tempo de ele conseguir o registro da sua candidatura.
E em conseguindo o registro, as pesquisas mostram que Lula reúne chances de eleição mesmo sobre as bordoadas diuturnamente desferidas sobre a sua arquitetura, pois, como eu já comentei aqui, a turma do Parquet tem exagerado na dose, tornando Lula em um “perseguido”.
E embora o conceito e a definição de moral sejam absolutos em termos científicos, em percepção coloquial cada qual tem a sua e, já comentado aqui, o brasileiro tem uma moral diferente em cada polo das suas circunstâncias, pouco lhe servindo, para convencimento eleitoral, em um daqueles polos, quantos processos tem o candidato que ele escolher.
[e não há julgamento algum no parágrafo: apenas constatação fática]
E uma das ilustrações do fato são as inúmeras pesquisas de opinião que se publicam, sempre trazendo o ex-presidente Lula na liderança da corrida, o que não é corolário de que ele vestirá a faixa presidencial em 2019, mas a demonstração factual de que os votos que ele poderá auferir não são inversamente proporcionais ao número de processos que ele possa responder.
Na mais recente pesquisa de opinião, por exemplo, encomendada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT), a MDA Pesquisas, publicada ontem (19), Lula mantem a liderança das intenções de votos, com o segundo colocado sequer fazendo bafo nos seus calcanhares.
Tanto na espontânea quanto na estimulada, Lula e Bolsonaro aparecem, respectivamente, em primeira e segunda colocação, o que reflete a polarização esquerda-direita, na trigonometria política usual.
Isso não significa que do ponto de vista operacional poderia haver uma mudança radical na rosa dos ventos se um ou presidir o país, antes porque, em uma democracia, não se governa como se quer, mas como se pode.
Nos cenários de segundo turno sem Lula (a partir do 6), Bolsonaro vence em todos e tem um empate técnico, embora perca numericamente, para Marina Silva.
Isso demonstra a encruzilhada em que o Brasil se colocou, a ponto de, grosso modo, ter uma espécie de Trump tupiniquim surfando em suas chances para governar o país.
Destarte, os indecisos e desiludidos, que podem apostar em um nome ainda sem tona, podem salvar a lavoura, mormente quando a rejeição dos principais nomes à superfície são correspondentemente altas:
Não votaria de jeito nenhum:
Aécio Neves: 69,5%
Ciro Gomes: 54,8%
Geraldo Alckmin: 52,3%
Marina Silva: 51,5%
Lula: 50,5%
Jair Bolsonaro: 45,4%
João Doria: 42,9%
Uma das surpresas da pesquisa é a preferência do eleitorado na forma como os candidatos deveriam se eleger:
Como você prefere que os candidatos sejam eleitos?
Por votos obtidos diretamente: 74,0%
Pela soma dos votos do partido: 3,7%
Por uma combinação das duas formas: 15,4%
A modalidade que auferiu os 74,0% é o chamado “Distritão”, contra o qual a maioria dos cientistas políticos tanto das academias quanto dos botequins, repercutidos pelos donos da opinião pública, que são os arautos da imprensa nacional, se posicionaram.
A combinação das duas formas ainda foi proposta, por emenda ao arremedo de reforma política que agoniza no Congresso Nacional, o que vai ao encontro, então, de 89,4% da opinião pública.
Como tanto o Distritão quanto a combinação já foram arredados da reforma que não vingou, a modalidade atual, soma de votos do partido, continuará, mesmo aprovada por apenas 3,7% do eleitorado.
Ou ninguém entendeu coisa alguma, ou coisa nenhuma foi explicada ao distinto público.
Ensimesmo que estamos com a bússola quebrada, por isso vagamos a esmo, tentando achar o Norte. E embora nem todo aquele que vaga esteja perdido, na melhor das hipóteses estamos a perder tempo nesse vagar e por isso, se chegarmos a algum lugar, vamos chegar atrasados.
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