Antes de assumir a eventual interinidade da presidência da República, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) já enfrenta o arrasto daquilo que toma 80% do tempo dos chefes de executivos na República, que é a governabilidade sustentada sobre distribuição de cargos: o mesmo estruturalismo fisiológico que aporrinhou Dilma Rousseff que, por não saber manejá-lo, avia-se em despejá-la do Planalto.
E como Dilma Rousseff, Temer começa, embora veladamente, a enfrentar reações adversas, dentro do seu próprio partido.
O líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Leonardo Picciani (RJ), inobstante, saiu da alcova e comenta aos quatro ventos que “no governo da Dilma, o PMDB estava mais bem posicionado".
O resmungo de Picciani faz-se porque Temer recuou da entrega do Ministério dos Esportes ao PMDB da Câmara Federal (é... tem o PMDB da Câmara, o do Senado e o dos estados. Eu já disse aqui que o PMDB é a maior confederação partidária do Ocidente). E adivinhem que seria o ministro? Picciani, claro.
O fato é que se ter rendido à necessária redução de ministérios, de 32 para 22, deixou Michel Temer com pouca água para saciar minimamente a sede de cargos da base que ele pretende arregimentar, para proceder as reformas que precisa empreitar ao Congresso.
E mais: como o impeachment se tornou rude disputa de votos congressuais entre Dilma e Temer, esse precisa, para alcançar a maioria qualificada que cassa Dilma, carregar água em paneiro, ou corre o risco de permanecer vice ao cabo dos 180 dias que tem para ser presidente.
E não é somente com os senadores que Temer precisa flertar, mas com a população, que o quer fora da presidência tanto quanto deseja que Dilma saia dela.
O tempo, para Temer, é curto: tem que dizer a que veio em 60 dias, para que o contribuinte resolva pensar em dar-lhe confiança, entregando-o legitimidade para continuar em um cargo para o qual não foi votado, em um cenário adverso, pois os movimentos ligados ao PT já avisaram que farão da sua vida um inferno, sem dar-lhe sequer um dia de paz.
O Brasil meteu-se em uma encruzilhada: se Temer não se conseguir acertar com o Congresso e nem se legitimar com as ruas, tanto o Congresso quanto as ruas não se sentirão intuídos a deixar-lhe assumir definitivamente a presidência e nem estarão à vontade para chancelar o retorno de Dilma Rousseff, que perdeu as condições de governar em alguma esquina escura da República.
Aí, restaria como saída a bifurcação do atalho: novas eleições.
A saída é o Parlamentarismo. Nas crises agudas, afasta-se o primeiro-ministro, como fazem ora com Dilma; mas, dissolve-se o Parlamento, o que deveria acontecer,pelo nível dessa Câmara. Aliás, não temos Casa Parlamentar, temos casa pra lamentar.
ResponderExcluirNada me tira da cabeça que a pressa para tirar a Dilma do cargo tem mais a ver com o acesso aos cofres e a possibilidade de fazer repasse aos municípios antes da vedação legal (seis meses antes do pleito) pois não vai ter empreiteira para bancar as eleições como nos anos anteriores.
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