A queda de um monotor, em São Paulo, no sábado (19), quando morreram o ex-presidente da Vale, Roger Agnelli, sua esposa Andrea Agnelli, seus filhos Anna Carolina e João Agnelli, o esposo de Anna, Parris Bittencourt, e Carolina Marques, namorada de João, além do piloto da aeronave, Paulo Bau, foi uma das mais dolentes tragédias que o Brasil assistiu esse ano.
O mundo empresarial e político manifestou pesar em uníssono, coro no qual embarco, antes porque, apesar de frequentes e profundas divergências, convivi com Agnelli por quase metade do tempo em que ele presidiu a Vale, o que coincidiu com o meu último mandato de prefeito.
Não lembro de nenhuma reunião que fiz com Agnelli que não tenhamos discutido asperamente, em função de discordâncias sobre o que a Vale deveria mitigar pela sua atividade no Pará, por isso destoo das vozes que asseveram que Agnelli era um “defensor do Pará”.
Não era e nem tinha porque ser. Ouvi, mais de uma vez dele, que a única coisa que ele defendia era o lucro da Vale (e lucro não é pecado) e o seu único compromisso era com os seus acionistas.
E saiu-se muito bem nisso. Soube manejar, a favor da Vale, o boom das commodities, pois chegou lá quando a atividade mineral, em todo o mundo, singrava com uma ventania na popa.
O mérito de Agnelli foi menos gerencial e mais de oportunidade. A Vale jamais terá um néscio como presidente e qualquer dos escolhidos pelo board naquela ocasião, com as commodities nos píncaros da glória como estavam, teria experimentado o sabor de elevá-la à segunda maior mineradora do mundo, principalmente porque ele não tinha um governo atrapalhando, já que assumiu a presidência da Vale 4 anos após a sua privatização. E sabemos o quanto governos são competentes na arte de atrapalhar.
Já no ocaso do meu segundo mandato, em uma reunião na Fiepa, para variar, Roger Agnelli e eu travamos uma pesada discussão por conta da aplicação do fundo de investimentos da Vale, nos municípios de influência do Projeto Carajás.
Como sempre, ele tentando encolher os valores, no falacioso fundamento de que a empresa já investia bilhões no Estado, e eu tentando esticá-los sob o argumento de que os tais “bilhões” eram investidos “no Pará” e não “para o Pará”. As preposições ainda fazem toda a diferença.
Embora mantendo a compostura, fomos ásperos um com o outro. Ao final, decidindo-se que a reunião continuaria no outro dia em Brasília, mutuamente desgastados, evitamos nos cumprimentar.
Horas depois o meu celular tocou e o seguinte diálogo foi travado.
- Parsifal, é Roger.
- Diga Roger.
- Estou indo agora para Brasília. Há um lugar para você no avião. Não quer aproveitar a carona?
- Obrigado, Roger, mas tenho dinheiro para comprar a passagem. Se chegarmos em Brasília e eu aceitar um acordo seu, vão dizer que você me comprou.
- Sem ressentimentos?
- Sem ressentimentos.
Essa foi a última vez que conversei com Roger Agnelli. Que a terra lhe seja leve. Sem ressentimentos.
Muito antes da "Gentileza" a SINCERIDADE...Grande Empresário ! EXEMPLO !!!
ResponderExcluirParabéns Parsifal....
Parabéns o senhor mostra que sabe separar o homem das suas circunstâncias.
ResponderExcluirAprecio suas perorações sobre os bastidores da relação político x empresário. Mas o "time" da matéria está parecendo o Rubens Barrichello...
ResponderExcluirQue nada. A missa de sétimo dia ainda nem foi rezada.
ExcluirParsifal, eu estava nessa reunião. Estavam também quatro vereadores de Marabá e vários prefeitos. E também o presidente da associação comercial de Marabá. Você foi, como sempre, brilhante. Enquadrou o Agnelli, tanto que o fundo aumentou. A Amat nunca mais foi a mesma depois de você. Deverias voltar.
ResponderExcluirSou funcionária da Amat e sei do que falo.
Parsifal;
ResponderExcluirFica uma pergunta no ar: será que o Barbalho vai sair lucrando com a tragédia aérea do Agnelli?
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Outra pergunta: A qual dos PMDBs você pertence, ao que quer ser oposição hoje, ou daqui a 2 anos? Não engulo o Temer, porém acho mais honesto dar o bote hoje.
Só quem lucra com a morte de alguém é herdeiro se o alguém deixar lucros.
ExcluirSempre defendi uma posição de independência do PMDB.
Quer dizer o PMDB 'bariátrico'?
ExcluirDiálogo difícil de acreditar que tenha acontecido
ResponderExcluiressa grande ambição que o Agneli tinha ele pegou no bradesco.
ResponderExcluirSenão fosse trágico, seria cômico!
ResponderExcluirContar um diálogo depois de morta a pessoa que fez parte, é no mínimo antiético.
Ainda fazer média...
A sua derivação de trágico e cômico é peculiarmente equivocada. O seu conceito de ética é eventualmente distorcido.
ExcluirO encontro e discussão foram públicos e trataram de coisas públicas. O diálogo não deprecia em nada o interlocutor morto. Ao contrário, mostra o seu desprendimento e lhaneza, para demonstrar que não guardava rancor. O mal educado fui eu, que não aceitei o seu convite, para demonstrar o mesmo desprendimento.
Pelo seu entendimento, a literatura está cheio de textos antiéticos, pois toda a história de escreve sobre as palavras dos mortos.