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Não é pelos R$ 7,8 milhões…

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O governo do Pará não consegue sair do rebojo quando o assunto é educação.

Em agosto, a Secretaria de Educação do Pará veio à tona com o escândalo da estapafúrdia contratação, por R$ 180 milhões, da empresa BR7 Editoria e Ensino Ltda., para ministrar aulas de inglês em carretas. A repercussão negativa da leviandade foi tão grande que o contrato foi rescindido antes que um só aluno aprendesse a dizer goodbye.

Quando eu pensava que o pessoal da Seduc se escaldara com a aventura do curso de inglês on the road e, por conseguinte, não ia passar perto de água fria tão cedo, eis que leio essa história de contratar, por R$ 7,8 milhões, duas escolas particulares, o Centro de Ensino Fundamental e Médio Universo, em Belém, e o Colégio São Geraldo, de Ananindeua, para que, por cinco meses, atendam 22 mil alunos em aulas de reforço.

A finalidade das contratações, embora de ética duvidosa, não é má: preparar alunos para os exames do Enem e para a Prova Brasil, que compõe o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb).

Os meios, todavia, não atendem ao interesse público, uma vez que poderia o reforço ser ministrado pelo próprio estoque docente da Seduc, ou um sistema misto com contratações temporárias, o que evitaria a versão de que a Seduc usa o programa para repassar recursos da educação pública para a rede privada.

O programa, quando se tratam de recursos públicos, e visa auferir um índice de avaliação educacional de toda a rede, também pode ser questionado, à medida que, ao diferenciar uma parte através de um reforço que os demais não terão, mascara o resultado obtido, dando ao público inadvertido, caso a empreitada logre êxito, uma falsa imagem do estado em que se encontra o todo.

Nesse raciocínio, pelo que mais não seja, e em que pese possam haver educadores que acreditam na exação da empreitada, é possível afirmar que o erário paga R$ 7,8 milhões para, por cinco meses, oferecer a poucos um padrão de ensino que não presta a muitos.

É lastimável nos entregarmos a malabarismos casuais para desfocar o verdadeiro problema. Não é possível enxugar o chão com a torneira aberta, a não ser que a água jorre até acabar, mas aí, teremos morrido de sede.

Como disse La Rochefoucauld, “é tão fácil enganar-se a si mesmo sem o perceber, como é difícil enganar os outros sem que o percebam”.

Comentários

  1. Um absurdo esse contrato, quando varias escolas estaduais de ensino médio do interior, até hoje não tiveram aulas, em 2015, de várias disciplinas por falta de professor. O pior que a Seduc já mandou avisar que estão todos reprovados. Caramba, se tem dinheiro para dar aos amigos do Jatene, por que não contratam professores para essas escolas?

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  2. Dinheirama que daria para terminar a construção de 05 escolas estadual, não incluo nem as da região sudeste paraense que estão esquecidas à tempos, mas as de entorno metropolitano mesmo, as quais vemos diariamente nos noticiários abandonadas sem terminar.

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  3. Essa semana, por força de lei, foi publicado no DOE e, está disponível no site da SEFA os relatórios da LRF, dentre esses o Demonstração da Execução das Despesas por Função/ Subfunção, na função - 012 EDUCACAO, Subfunção 128 FORMACAO DE RECURSOS HUMANOS, de janeiro a agosto desse ano foram gasrtos com formação de todo o pessoal vinculado à educação apenas R$ 89 mil reais de um total orçado para todo o ano de 2015 de, também apenas quando se trata de educação, R$ 7,2 milhões. Ou seja a valor a ser gasto, R$ 7,8 milhões, com a contratação das duas escolas para o reforço escolar é maior que o orçado para todo o ano com capacitação do professor; e mais, equivale a quase 88 vezes o que até agora foi gasto para esse fim.
    Eta povo bom para administrar e ter compromisso com o R$ público.

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  4. Égua man!o consultei a informação e é verdade. Levantei a mesma informação no mesmo site e vi o seguinte:
    Anos R$ 1,00
    2011 683.000,00
    2012 5.258.000,00
    2013 225.000,00
    2014 179.000,00
    2015 89.000,00
    TOTAL 6.434.000,00
    Ou seja, somando os 4 anos e oito meses do atual governo foi investido somente R$ 6,4 milhões na formação do pessoal do magistério, menor do que os R$ 7,8 milhões para o reforço dos guris. E ainda, segundo o censo escolar de 2013, a rede estadual tem 16.130 professores, o que dá um gasto médio mensal na formação do magistério de menos de R$ 7,00 por professor. Ai meu mano, com esse investimento, tem que ser mesmo o fona na educação no Brasil e preciso contratar reforço para os alunos.

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