De Ann e Parsifal, para Lígia e Ricardo, com amor

Mais uma vez, na mesma semana, ouso falar de coisas pessoais. Desculpem-me, mas, de novo, o motivo é caríssimo para mim.

Hoje (31.01.15), casa a minha caçula. A lili, do trio lalá, lili e lulú. Como as outras duas já voaram, a Pi (é assim que a chamo) é a derradeira que alça voo.

Ao nosso ninho agora, digo a Ann, resta a expectativa dos netos, mas temos que lidar com ele vazio, por um tempo.

Como nessas ocasiões os meus presentes sempre são textos (dizem que é avareza, pois não me custam nada), abaixo reparto com vocês o texto que dediquei aos noivos, que tenho a pretensão de sugerir que serve para todos os casais.

Lígia e Ricardo,

Pi, quando eu e a sua mãe casamos éramos uns lunáticos: nada planejamos; nem cerimonialista tivemos.

O que nos colocava no mundo da lua e fazia arder a chama da nossa união era um forte vento que nos soprava as velas da paixão: o amor.

O amor nos faz enxergar com o coração o coração de quem se ama e isso nos cerra os olhos para quaisquer pretextos que nos afastem do ser amado, por isso dizem que o amor é cego.

Mas o desamor tenta os amantes todos os dias, pois, destarte os bens materiais que pode angariar o casal e em que pesem as conveniências que possam manter o matrimônio, o amor é a única liga que mantém o voto feito aos pés do altar. Mesmo porque a união sem amor já é uma traição àquele juramento.

Não sucumbam às intempéries eventuais que com certeza enfrentarão. A vida é como uma rosa: linda, mas cheia de espinhos. Sempre que um espinho sangrar a aliança jurada no altar, que a sugestão da separação não seja a primeira reação, pois essa é a primeira tentação do desamor.

Nessas horas, lembrem-se das tentações de Cristo, narradas nos sinóticos. Ele resistiu a todas. Em quarenta dias de fome e sede Ele recusou as ofertas do diabo. E o diabo O tentou por que e para que? Porque queria destitui-Lo do amor que veio semear, para que com o desamor que povoaria o Seu coração se cedesse, frustrasse a aliança feita para a nossa própria salvação.

Jesus resistiu. Ele É Filho de Deus. Nós não podemos achar que podemos como Ele, mas temos a obrigação de tentar, pois pelo amor Dele somos filhos do mesmo Pai.

Hoje pela manhã, conversando com um amigo que me narrava o sofrimento de um pai por conta de descaminhos de uma filha, retruquei que eu, apesar de ter três filhas, nunca soube o que é um desgosto de filha, pois todas só me deram alegrias, por isso, às vezes, temo que Ele me possa apresentar uma conta muito alta pela imensa bondade com a qual me tem tratado, até porque não acho que mereço tanto. Ao mesmo tempo, arrefeço o temor ao intuir que seja qual for a intenção Dele, estou pronto para carregar o fardo, pois Ele sempre me deu felicidade.

Pi, seja uma esposa como é a sua mãe: você tem um enorme espelho dentro de casa. Ricardo, entrego-lhe a terça parte do que gerou um eterno amor, mas observe que cada parte desse terço é tão grande quanto o todo, pois não é possível dividir o que é, substancialmente, uno.

Amem, mas amem mesmo, pois, como ensinou Lao-Tsé, “ser profundamente amado por alguém nos dá força e amar alguém profundamente nos dá coragem” e força e coragem são duas coisas essências para viver.

Que Deus vos abençoe a união.

Ann e Parsifal