Em 1999 assisti, em Marrakesh, no Marrocos, o festival dos tuaregs, tribos nômades apátridas que perambulam pelo Saara e, de dois em dois anos, reúnem-se em Marrakesh para eleger o Sheik dos sheiks.
> Peregrinos do deserto
A peregrinação dos tuaregs começa no Marrocos, contorna a Cordilheira do Atlas pela Algéria, margeia o Mediterrâneo pela Tunísia, Líbia e Egito, atravessando o deserto de Sakara, onde estão as pirâmides, até o Sudão.
Do Sudão eles rasgam a Etiópia e entram na Somália até a borda do Oceano Índico, de onde começam o retorno pelo Quênia, Uganda, Zaire, Congo e Gabão, quando margeiam o Atlântico, passando pelos Camarões, Nigéria, Togo, Costa do Marfim, Libéria, Serra Leoa, as duas Guinés, Senegal e Mauritânia, por onde alcançam, novamente, Marrakesh.
Pelo caminho, os “abandonados pelos deuses” - significado de tuareg em Tamasheq, a língua original das tribos - nascem, morrem, namoram, casam, riem e choram. Estima-se que há até 3,5 milhões deles vagando pelos diversos países africanos.
Hoje eles fazem a rota por mercancia, mas já fizeram para assaltar caravanas ou dar segurança a quem os pagava.
> Correr terra
Ainda nutro o desejo de fazer esta rota com eles. É que nas estórias que a minha avó contava, à penumbra da lamparina, os personagens eram “corredores de terra”. Eu não entendia direito o que eram “corredores de terras”, até eu conhecer os tuaregs em Marrakesh.
> Por que eu os apresentei aos tuaregs?
Quando os tuaregs entravam na Líbia eram recebidos com festas por Muammar Kaddhafi: era aos domínios dos tuaregs, no deserto da Líbia, que o ditador executado rumava quando foi interceptado pelos mísseis dos Rafales da OTAN. Os guerreiros que ficaram até o final com o ditador, eram recrutados dos tuaregs.
Leio que aquele que seria o sucessor de Kaddhafi, seu filho Saif al-Islam, 39 anos, estaria em algum lugar do Saara, com os tuaregs, que lhe deram guarida, tentando alcançar o Mali, de onde pretenderia se entregar ao Tribunal Penal Internacional, que já decretou a sua prisão.
A Al Arabiya transmitiu uma mensagem, aos países saarianos, do Sheik tuareg de Agadez, Mouddour Barka, do Níger: “Nós estamos prontos para escondê-lo em qualquer lugar que ele precise. Nós estamos falando à comunidade internacional para ficar longe disso e as nossas próprias autoridades para não entregá-lo, caso contrário nós estamos prontos para ir às ruas.”.
Os tuaregs, ao que parece, ainda não se deram conta, a navegar por mil anos pelo Saara, que agora existem mísseis teleguiados, porta-aviões, e aviões invisíveis, artefatos para os quais não são páreo as suas afiadíssimas cimitarras.
A guerra, meu caro Sheik Barka, deixou, há muito, de ser romântica.
Vc é o meu contador de histórias preferido. Se tivesse sido meu professor de história eu só tirava 10.
ResponderExcluirE por que ele quer se entregar, se pode viver o resto da vida com os tuaregs?
ResponderExcluirEstes tuaregs vem de onde?
ResponderExcluirTá igual o Guerra nas Estrelas do Spielberg.
ResponderExcluirO primeiro montado no camelo, não lembra alguém que conhecemos? Será o próprio?
ResponderExcluirÓtimo deputado,nota dez !
ResponderExcluirConcordo plenamente com o último parágrafo, mas parece até uma estoria de mil e uma noites,abraços