Não está consumado

Desde o texto "Direto ao ponto", concebeu-se uma constatação desagradável: o PMDB teria reatado a aliança com o PT.

 

Recebi os mais diversos comentários: li em todos um misto de revolta e desilusão. Uma leitora até dedicou-me a belíssima poesia de Drumond, "E agora José".

 

Eu não tenho vocação para comercializar ilusões. Ao revelar as minhas convicções políticas, sempre alertei que as lavras não correspondiam às definições partidárias.

 

Preventivamente insistia que embora eu fosse radicalmente contrario a uma aliança com o governo, eu me submeteria à decisão do partido.

 

Não mudei, mas não sou obtuso para não me adaptar às circunstancias quando elas mudam: se enfileirar o PMDB, o governo poderá levar-me a marcha, mas, jamais poderá arrebatar-me a resolução.

 

O Pará merece algo mais consequente, com visão menos eventual do que esta albergada no Palácio dos Despachos, que não conseguiu vislumbrar o tamanho do tecido administrativo a ser elaborado, oferecendo à gestão um tear demasiadamente curto para a tarefa de traça-lo.

 

Falta ao Pará amplitude de lente e grandeza de espírito que permita enxergar o quão pequena ainda é a nossa envergadura política para nos tanger ao verdadeiro desenvolvimento.

 

Quem poderia receber este fado e dele se desencarregar com a consequência requerida? Quisera eu ter a resposta reclamada. Mas, em contraponto a cota interrogada, tenho convicção de que não é o governo que se finda, portanto, eu deveria me bater por outro.

 

Esta é a minha resolução, mas, por defender a instituição partidária até as ultimas consequências por acreditar que a democracia só acontece assim, subjugo a minha vontade às decisões partidárias.

 

Arturo Graf ensinou que "com grande frequência, a política consiste na arte de trair interesses reais e legítimos e de criar outros, imaginários e injustos".

 

Eu não quero tirar dos ombros os meus interesses legítimos e empunhar o peso da imaginação injusta deste governo: eu não tenho mais vigor para me debater neste varejo de dandies que se acham o suprassumo da providencia administrativa.

 

Asseguro que não há decisão partidária alguma tomada até agora. Creiam que estão sendo esgotadas todas as possibilidades de uma candidatura própria do PMDB: lutarei até cair sem fôlego por isto.

 

Caso eu seja vencido pelas circunstancias, e não se esqueçam que Ortega Y Gasset disse que "o homem é o produto das suas circunstancias", ainda assim não significa que eu terei mudado de opinião.

 

Não estou morto, por isto ainda não desesperei. Mas, caso eu morra, ainda me resta demandar permissão para me fazer sozinho Pará afora, em uma campanha solitária.

 

Não desobedecerei ao meu partido, emprestando o meu suor a quem assim não foi decidido, mas desejo reservar-me ao direito de não subir ao palco de quem eu não acredito.

 

Nada está consumado!