A nova-iorquina Camille Paglia, 68 anos, professora, ensaísta e escritora é uma das mais respeitadas e controvertidas intelectuais do feminismo mundial.
Com conceitos feministas paradoxalmente aparentes, consegue ser uma espécie de feministas antifeminista, se considerarmos a tez fundamentalista inaugurada por Betty Friedan nos anos 60 e atualizada por Gloria Steinem nos anos 70, quando a famosa “Guerra dos Sexos” se tornou uma bandeira que se não era empunhada pelas mulheres, ou ela era indigna ou alienada.
Paglia imiscuiu-se nas espinhosas sinuosidades daqueles conceitos e tentou traçar com eles um novo tricô, dando-lhes ares que poderiam ser manejados à quatro mãos: femininas e masculinas.
À Friedan e Steinem, Paglia acrescentou Katharine Hepburn e Amelia Earhart, exemplos de mulheres emancipadas dos anos 20 e 30 que, de uma maneira transversal, afirmavam o sexo feminino, mas não “atacavam os homens, não insultavam os homens e não apontavam os homens como fonte de todos os problemas das mulheres”.
E aconselha que “as mulheres precisam se responsabilizar por suas vidas e parar de culpar os homens por seus problemas, que têm mais a ver com questões e estruturas sociais, e não são fruto de uma conspiração masculina”.
É interessantíssimo - e a violência com que agem não nos permitiu, ainda, analisar a gênese de forma científica – a visão de Paglia sobre a nova onda de jihadismo que assola não só o Oriente Médio, mas todo o mundo: “a epidemia do jihadismo, que é um chamado da masculinidade e está atraindo jovens homens do mundo inteiro. É uma ideia de que ali, finalmente, homens podem ser homens e ter aventuras como homens costumavam ter. A ideologia do jihad emerge numa era de vácuo da masculinidade, graças ao sucesso do mundo das carreiras”.
Ou seja, o homem, e as mulheres, trancados em seus ambientes de trabalho, cada qual com as suas tarefas mecânicas (Matrix), perderam referências atávicas que fizeram a humanidade caminhar em uma aventura atrás da outra.
O Estado Islâmico, sugere Paglia, “usa vídeos para projetar esse romance, esse sonho de que os jovens podem abandonar suas casas, integrar a irmandade e se lançar numa aventura masculina por meses, na qual correm risco de morte. Antes, havia muitas oportunidades de aventuras para homens jovens. Hoje, suas vidas são como as de prisioneiros: presos nos escritórios, sem oportunidade para ação física e aventura”.
Se o assunto lhe interessa, invista 10 minutos do seu cérebro na leitura da entrevista concedida por Camille Paglia à Folha de S. Paulo, que pode ser lida aqui.
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