Pular para o conteúdo principal

Ainda as Cruzadas

Shot002

Em 638 os árabes tomaram Jerusalém. A ocupação não criou problemas para o cristianismo, pois os árabes respeitavam os cristãos e as peregrinações à Terra Santa seguiam permitidas.

Em 1071 a Terra Santa foi capturada pelos otomanos, que não toleravam a presença cristã e começaram a restringir as peregrinações à Jerusalém, o que agravou a crise do feudalismo europeu, pois as peregrinações eram êxodos que afrouxavam a pressão demográfica nos feudos.

Shot003

Quando o papa Urbano II recebeu o apelo do imperador bizantino Alexius I, para ajudá-lo a expulsar os muçulmanos de Jerusalém, os senhores feudais, unindo o sagrado ao conveniente, pegaram em armas para garantir o fluxo das peregrinações: atenderiam a Deus combatendo os infiéis e conquistariam terras e riquezas na guerra.

Em novembro de 1095, no Sínodo de Clermont, Urbano II conclamou os cristãos para uma campanha de retomada dos lugares sagrados e declarou guerra aos “infiéis muçulmanos, que profanavam o solo sagrado de Jerusalém”.

Shot005

O fervor religioso espalhou-se e Urbano II, em nome de Deus, prometeu a todos os que partissem para a guerra contra os “infiéis” a remição dos pecados e a ida direto para o céu após a morte.

Não pensemos, portanto, que a Guerra Santa começou do Oriente para o Ocidente. Não, ela é uma invenção da Igreja Romana.

Os cavaleiros que atenderam ao chamado do papa escolheram como símbolo uma cruz pintada na armadura, ou bordada nas vestes, por isso foram chamados “Cruzados”, os guerreiros da cruz, os defensores do cristianismo contra o Islã: foi a Primeira Cruzada.

Shot006

As Cruzadas alimentaram o ódio e a divisão entre o Islã e os cristãos. Cada um, no afã de impor a sua cultura religiosa, cometeu atrocidades que acirraram a intolerância, gerando o fanatismo.

O desenvolvimento comercial que as cruzadas propiciaram foi fator das transformações que sucumbiram o modo de produção feudal e fizeram raiar o capitalismo. Portanto, o fanatismo religioso que abria as alas das Cruzadas, teve como pano de fundo motivações políticas e comerciais.

Os historiadores listam oito cruzadas, a última delas em 1270, vinte anos antes dos mamelucos tomarem São João D’Acre dos cristãos, o que marcou o fim da presença cristã na Terra Santa.

Mas a saga não terminou. Cristãos e muçulmanos continuam a liça com o mesmo tom: a religião e as diferenças culturais abrem as alas, mas o pano de fundo continua sendo político e comercial.

Por minha conta, listo a Nona Cruzada, já na Idade Contemporânea, com o início da colonização na África, por parte dos Impérios ocidentais e com as incursões dos EUA ao coração do Islã.

Os cruzados contemporâneos despiram-se do apanágio religioso e trocaram a cruz pela geopolítica que norteia os interesses econômicos dos blocos supranacionais.

Obviamente o Islã não aceitaria a dominação Ocidental e a contraofensiva patrocinou organizações terroristas, pois os estados não teriam capacidade bélica para bater de frente com os EUA e as potências alinhadas.

Com o tempo, as organizações terroristas criaram vida política própria e autofinanciamento supranacional, alimentado pela colcha de retalhos que se tornou o Oriente Próximo e Médio com a exploração do petróleo.

As células terroristas são manipuladas com a receita das Cruzadas e fazem a sua própria Guerra Santa, mas o pano de fundo continua sendo o mesmo que fez Urbano II convocar o fluxo.

Essa neurologia histórica pôs a pique as Torres Gêmeas em Nova York e deu ignição ao que ocorreu em Paris na semana passada.

A intolerância e a violência se exerce em nome de Deus, no caso, do Seu profeta, Maomé, mas na verdade a substância do ato é perpetrado em nome dos homens e seus interesses mais do que terrenos.

Comentários

  1. alguma coisa na historia da humanidade matou mais que a religiao?? abraços

    ResponderExcluir
  2. A Terra Santa é um patrimônio dos judeus, isso é histórico. Tenho certeza que se não fosse pelos atentados terroristas, seria até possível judeus e árabes viverem em paz. O problema são os extremistas.

    ResponderExcluir
  3. Os quatrocentos mil judeus e cristãos mortos a caminho da terra santa ninguém conta KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
    As cruzadas foram uma resposta ao Islã depois da matança...
    PQP, história hj em dia é igual a globo, nego conta história e é mais achismo do que fatos... Ó dia contra as religiões são diferentes de acontecimentos reais

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Comentários em CAIXA ALTA são convertidos para minúsculas. Há um filtro que glosa termos indevidos, substituindo-os por asteriscos.

Postagens mais visitadas deste blog

Mateus, primeiro os teus

Convalescendo da implantação de um stent , o governador Simão Jatene (PSDB-PA) foi apanhado, ainda no Hospital do Coração (SP), na manhã de ontem (03), por uma desagradável matéria da “Folha de S. Paulo” reportando que “ao menos sete familiares, além da ex-mulher e da ex-cunhada” de Jatene exercem cargos de confiança no Executivo, no Legislativo e no Judiciário do Pará. A reportagem declara que, somados, os salários dos familiares do governador “ultrapassam R$ 100 mil mensais”. > Sem incidência de nepotismo As averiguações já foram matérias em blogs locais. Quando me foi perguntado se feriam a Súmula 13 do STF (nepotismo), opinei que não, o que foi agora ratificado pela reportagem da “Folha” que, ouvindo “especialistas” declarou que os “casos não se enquadram diretamente na súmula vinculante do STF”. Nenhum dos parentes ou afins relacionados pela “Folha” está a cargo de órgãos vinculados ao executivo estadual e a matéria não demonstra a existência de cargos ocupados, no Poder

O HIV em ação

A equipe do cientista russo Ivan Konstantinov arrebatou o primeiro lugar no “International Science and Engineering Visualization Challenge”, um concurso que premia imagens científicas da forma mais verossímeis e didáticas possíveis. Abaixo, a imagem em 3D do mortal vírus da Aids (HIV), em laranja, atacando uma célula do sistema imunológico, em cinza. A tática do HIV é se estabelecer dentro da célula, sem destruí-la. Na imagem abaixo foi feito um corte para mostrar o HIV já estabelecido no núcleo da célula imunológica, usando-a para se reproduzir, expelindo mais vírus que atacarão mais células imunológicas para torna-las hospedeiras, por isto o sistema imunológico do portador do HIV fica reduzido. As imagens foram retiradas do portal russo Visual Science .

Parsifal

Em uma noite de plenilúnio, às margens do Rio Tocantins, o lavrador pegou a lanterna e saiu correndo de casa à busca da parteira. Sua mãe, uma teúda mameluca, ficou vigiando a esposa que se contorcia com as dores do parto. Quando voltou com a parteira, o menino já chorava ao mundo. Não esperou: simplesmente nasceu. A parteira cortou o cordão umbilical e o jogou ao Rio Tocantins. Após os serviços de praxe de pós parto, a mãe de Ismael o chamou ao quarto para ver o filho. O lavrador entrou no quarto. A lamparina o deixou ver a criança ao peito da mãe: nascera Parsifal, pensou ele orgulhoso. O lavrador pegou uma cartucheira calibre vinte, carregou o cartucho ao cano, armou e saiu à porta. O Tocantins espreitava-lhe manteúdo. Apontou a mira da vinte à Lua e disparou: era assim que os caboclos do baixo Tocantins anunciavam a chegada de um homem à família.