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La Môme Piaf


Édith Gassion, filha de trabalhadores de circo, nasceu na periferia pobre de Paris, em uma noite fria do inverno de 1915.

Finada a I Guerra, perambulou pelo circo com o pai – a mãe a abandonara. Na adolescência, continuou cantado pelas ruas de Paris em troca de esmolas. Alguns biógrafos afirmam que, nessa época, Édith se prostituía.

Das ruas ao palco

Em 1935, Louis Leplée, dono de um cabaré do Pigalle, bairro boêmio de Paris, parou para ouvir Édith e convidou-a à um teste: ela tinha 20 anos e foi um sucesso.

Como ela cantava nas ruas, Louis Leplée a batizou de “La Môme Piaf” (pequeno pardal). Um ano depois ela escolheu o nome artístico de Édith Piaf, quando gravou, para a Polydor, o seu primeiro disco: “Les Mômes de la Cloche”, que se tornou sucesso imediato.

Autodidata

Édith Piaf cantou como ninguém a alma romântica da França. A chanson française alcançou a glória e o mundo com ela, e voltou aos limites da França depois que ela partiu.

Edith era autodidata: aprendeu a tocar piano sozinha e compôs belíssimas baladas. Em 1945 escreveu o que talvez foi o seu maior sucesso: “La Vie em Rose”.

O sucesso potencializou-lhe a vida desregrada das ruas: bebia, fumava, cantava, amava e sofria muito.

O seu maior sofrimento foi a trágica perda do maior amor da sua vida, o campeão mundial de box Marcel Cerdan, com quem protagonizou uma bizarra experiência.


Um hino ao amor

Depois de uma temporada em Nova York, onde conheceu Marcel, Piaf partiu para Paris e de lá insistiu que ele tomasse um avião para visitá-la. Cerdan embarcou em um voo noturno, de Nova York para Paris.

Edith comprou um relógio para presenteá-lo. Pela manhã acordou com um beijo de Cerdan que a abraçava com ternura. Ela saiu do quarto para pegar o relógio. Assessores mudos e apreensivos a viram raiar sorridente à sala. Édith perguntou o que havia. A secretária aproximou-se e, segurando-lhe a mão, confidenciou-lhe que acabara de saber que o avião no qual viajava Cerdan desaparecera sobre o Atlântico. Era 1949.

Alguns creditaram a miragem aos excessos de morfina que Edith se aplicava para não sentir as torturas de uma poliartrite aguda que já lhe deformava as mãos e lhe esmagava o corpo, mas ela afirmou, sempre, que passou pela experiência lúcida.

Desse episódio nasceu a belíssima "Hymne à l'amour", escrita por Edith em memória de Marcel. A propósito, essa canção teve uma bela versão em português, composta por Maysa, mas isso é outra história.



Em meios aos constantes shows e cada vez maiores doses de morfina, o corpo de Édith definhava, mas a voz continuava um colosso, algo como um retrato de Dorian Gray vocal. Em 1963, quando Piaf tinha apenas 47 anos, seu corpo não mais lhe aguentou a voz e se finou.

Ninguém ficou em casa em Paris. Foi a maior aglomeração que a cidade já vira desde o dia da libertação, na II Grande Guerra. O motivo, todavia, era inverso: ali era alegria, aqui era luto.

O mundo não mais teve outra Edith Piaf: quando Deus a fez jogou fora o barro que a moldou.

A última apresentação de Piaf foi uma apoteose e um réquiem a si mesma. Note que as mãos já estão deformadas pela poliartrite.

A melhor canção do derradeiro canto foi “Non, je ne regrette rien” (Não, eu não me arrependo de nada”). Na plateia, astros da chanson française que ela promoveu, como Yves Montand e Charles Aznavour e a sua grande amiga e admiradora, a diva Marlene Dietrich, que a aplaudiram com fervor, sem saber que aquilo era uma despedida.

Non, je ne regrette rien é uma das mais belas cantatas populares já produzidas e Piaf a interpretava com o coração:



Em 2007, a vida de Piaf ganhou as telas em “Piaf – Um Hino ao Amor”, dirigido por Olivier Dahan. Marion Cotillard encarnou Piaf com arte, o que lhe valeu o Oscar de melhor atriz de 2008.

Comentários

  1. Francisco Marcio19/05/2013, 21:25

    Deputado por favor, entenda como um elogio: o senhor é um saudosista. Veio cobrir a lacuna deixada pelo grande JORNALISTA Hélio da Mota Gueiros.
    Deixo uma sugestão para o próximo fim de domingo: What a Wonderful World.

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