O discurso do rei

shot003

Acossado pelo acirramento do horário eleitoral nas campanhas do plebiscito, o governador Simão Jatene publicou o seu édito nos dois maiores jornais do Pará.

O presente horário eleitoral pouco tange decisões: a audiência já tem opinião formada e se recusa a ouvir algo que não consubstancie a sua respectiva posição.

Neste raciocínio, a intenção periférica do texto do governador (abaçanar animosidades) não se efetiva e apenas repete o horário eleitoral: serve de intendência aos que são contra a divisão e acirra os ânimos de quem a defende.

O adjetivo do texto aponta apaziguamento, mas, o substantivo lavrado sobrepõe-se ao adjetivo: o governador Simão Jatene é contra a divisão do Pará e se ressente daqueles que por ela se batem.

Todos já sabiam disto: o povo, que alguns julgam despreparado para tomar decisões, tem uma admirável inteligência emocional, através da qual administra tergiversações. O édito dominical apenas tornou oficial o que era uma certeza coloquial.

Neste ponto abro um parêntese para uma observação:

Não se deve esperar que o povo vote em presidente, governador, deputados, senadores, ou plebiscitos, com base em detalhados e extenuantes relatórios científicos: este argumento apenas perora satisfações acadêmicas. A manifestação da vontade popular tem como único fundamento a inteligência emocional e é exatamente isto que os bons marqueteiros manipulam.

Neste contexto, forço-me a observar que a campanha do “sim” perde a mão quando tenta manipular esta inteligência estampando as dificuldades das regiões Sul e Oeste, quando estas dificuldades são, igualmente, localizadas nas periferias de Belém do Pará.

Fecho o parêntese.

O governador adjetiva a sua posição pelo “não” e fundamenta tal assertiva nas dúvidas que pairam sobre o processo, trepidando pelos mesmos argumentos dos quais laçam mão os que a ele se alinham. Neste ponto, toda a construção do texto não acode substâncias e nem traz novidades, mas, suscita o cuidado de não ferir suscetibilidades.

Este cuidado, todavia, é arredado quando o governador estoca, “alguns políticos” que são a favor da divisão. Neste intervalo, o “alguns”, passa a significar “todos” os que não têm as mesmas dúvidas que ele, ou, fatorando a equação, os que não têm as certezas dele.

Ao cabo, não compartilho do pensamento lateral, que passa a ser nuclear na fala do trono, de que o plebiscito possa ter o condão de potencializar ódios e preconceitos entre os habitantes das diversas regiões do Pará: as diferenças há muito existem, mas, são sempre mitigadas pela providencial tolerância do brasileiro.

O que ocorre é que as diferenças se tornam protuberantes nas campanhas, quando os egos dos respectivos candidatos e marqueteiros deitam etanol no fogo brando, mas, passada a batalha dos egos, todos voltam as suas respectivas significâncias, ou insignificâncias e a brasa retorna ao seu estado de combustão controlada.

Comentários

  1. Parabéns pelo texto. Não tinha lido o editorial.

    Li e voltei para ler seu post novamente. É de uma clareza inegável, além de uma elegância literária e riqueza de palavras que Há muito não vejo nos texto da internet!!!.

    O "SIM" poderia angaria mais votos se falasse das melhorias da divisão, não apenas dos malefícios do tamanho atual do Pará - resumidamente, é tentar ganhar a simpatia do eleitor indeciso xingando o candidato oposto.

    E geralmente não dá certo.

    ResponderExcluir
  2. Pois é. Depois do pelbiscito, o Pará jamais será o mesmo: sairá da refrega inteiramente rachado, divido, desunido. Se não quanto ao território, com certeza quanto ao seu povo. Ou vice-versa. Leomar Quintanilha (PMDB-Tocantins) e Mozarildo Cavalcante (PTB-Roraima), autores das malsinadas e infelizes propostas da cizânia, já estão gargalhando às bandeiras despregadas...

    ResponderExcluir
  3. SIM ou NÃO, a propaganda eleitoral do plebiscito tem um toque de surrealismo que, expõe claramente o afastamento entre realidade e o estado de fantasia.O governador deve eleitoralmente preocupar-se para o pós eleição do plebiscito! caso os separatistas não consigam sucesso na divisão, ainda ficarão sentimentos inconsciente da contradição, entre sonho e realidade e seguirão uma tendencia inconsciente natural de antigovernistas nas futuras eleições.

    ResponderExcluir
  4. Eu não sei quem foi este esprito de porco que aconselhou o jatene a fazer isto, ou se foi o espirito dele mesmo. O certo é que ele perdeu uma otima oportuidade de ficar calado.

    ResponderExcluir
  5. O Pará pequeno ou grande, não vai pra frente enquanto nao morrer estes politicos todos e aparecer outros que prestem.

    ResponderExcluir
  6. Todos nós já sabiamos da posição do gov Jatene. No momento que ele escalou todo seu staf para comandar a campanha do NAO.
    A mim não causou nenhuma surpresa.
    Espero que ele esteja preparado para as consequencias de seu ato.
    O povo já não anda tão desmemoriado como se prega por aí.

    ResponderExcluir
  7. Se o Jatene botar a cara na Tv o SIM, que já está liquidado, pulveriza-se de uma vez por todas.

    ResponderExcluir
  8. É sobretudo, nos momentos de crises, quando os antagonismos não conseguem acomodar-se e degeneram em abusos, que as lideranças políticas, especialmente o governador, devem demonstrar a fortaleza ou fragilidade de sua têmpera: os mais maduros se equilibram; os menos fracassam.

    Na verdade, desde que surgiu entre as muralhas de Atenas, há mais de dois mil e quinhentos anos, até os dias de hoje, num vai-e-vem constante de altos e baixos, de triunfos e derrotas, oscilando entre períodos mais ou menos longos de apogeu e de obscuridade, através de todas as civilizações que um dia nasceram, cresceram, decaíram e morreram, em todas as dimensões espaciais e temporais do mundo histórico, a DEMOCRACIA não só tem sobrevivido a tudo e a todos, reerguendo-se de todas as quedas, recuperando-se de todos os atentados, ressuscitando de todas as mortes, mas também tem continuamente progredido, aprimorando seus princípios, corrigindo seus erros e humanizando seus métodos.

    No Pará se, por outro lado, dentro da sociedade, diferem entre si os indivíduos pela sua melhor ou pior adaptação às necessidades da vida em comum, que haja a prevalência da maturidade social, a maior ou menor capacidade, revelada pelos cidadãos que vivem nesse Estado, de se ajustarem uns aos outros e de obterem razoável consenso, independentemente da mesorregião em que residam, a fim de se superar a perturbadora disparidade dos seus interesses, tendências, opiniões, atitudes e reivindicações.

    Quando observamos a presença ou ausência das instituições políticas nas mesorregiões do nosso imenso e continental Pará, tais diferenças saltam aos olhos de maneira gritante, injusta e excludente, lamentavelmente.

    ResponderExcluir
  9. Três comentários foram moderados por conterem termos ofensivos ao governador. Por favor, refaçam as críticas com educação e serão publicadas.

    ResponderExcluir
  10. Não votei no Governador mas ele estar correto de ser contrário a divisão do Pará pois ele foi eleito para ser GOVERNADOR DO PARÁ e NÂO DO PARAZINHO. Outro político que estou admirando pela luta contrário à divisão do Pará é o ZENALDO pois este é paraense de verdade. É NÃO e NÃO NINGUEM DIVIDE O PARÁ É 55 E 55. Vamos vencer esta luta pois sou Paraense da gema.

    ResponderExcluir
  11. Parsifal, o teu texto é bem escrito como só tu sabes fazer. Concordo contigo que a intolerancia éo que marca este plebiscito e quase todos ja tem opinião formada e os programas só jogam para as suas galeras e o governador não resistiu e resolver jogar para a sua galera também, que é a galera do não. Mais uma vez a capital vai ditar as regras para o interior pois embora eu vote sim eu tenho certeza que vamos perder para os "metropolitanos" metidos a sabe tudo.

    Ana Maria

    ResponderExcluir
  12. O jatene deveria era querer o Pará menor pois deste tamanho ele não dá conta e, depois não teria o trabalho de ir pescar muito longe.

    ResponderExcluir
  13. De que adianta dividir territorialmente se politicamente, vai continuar a mesma coisa, gente despreparada no poder, corrupção e despreparo, 95% da Assembleia Legislativa é Composta de Deputados vindo do Interior, se eles nunca fizeram pq acham q vão fazer depois?
    Atraso humano não se resolve com divisão espacial.
    Parece que quer resolver o problema de dividindo quem está sendo afetado e não combatendo a causa da doença.

    Égua da maneira estupida de resolver problemas.

    Prezado, acho que é mais que problemas de ego, mas de inteligencia mesmo.
    Santo Deus.

    ResponderExcluir
  14. Um lado positivo dessas campanhas de “sim” ou “não” são os números estatísticos (IBGE, IPEA) que revelam a crescente miséria humana e econômica que coroem o Pará e o coloca entre os quatro piores federações em desenvolvimento humano. Números que vieram a tona desmascarando outras estatísticas manipuladas e mentirosas, que mostravam um Pará estável e ordeiro. Por outro lado, o que indigna é o tamanho do cinismo de políticos manjados e canalhas que se revezam no poder há anos e que agora, na maior cara de pau, usam o caos institucionalizado pra apontar soluções e mudanças, que nunca acontecerão enquanto eles, e seus financiadores, estiverem no poder. E por falar em números (maquiados ou não), muito me incomoda é saber da escalada endêmica da violência neste estado, já que os números exibidos pelo governador mostram que a violência diminuiu, mesmo que a população viva a beira da barbárie. Como exemplo disso são os assassinatos de jovens que acontecem quase todos os dias, agravado pelo trafico, educação falida e desemprego, a exemplo do ocorrido ontem em Icoaraci, quando seis meninos foram brutalmente mortos por pistoleiros.

    ResponderExcluir
  15. Lamentavelmente, para o povo do sim, o Pará acabou de eleger seu governador, a gente gosta dele, e os créditos que ele tem com a população ainda estão valendo.

    Por isso, quanto mais falam mal da gente, mais a gente se une e vota NÃO.
    Entenderam?

    ResponderExcluir
  16. Ei 13:59:00,

    Olha no que isto se transformou. Você está adorando o Jatene e o Zenaldo porque eles são NÃO e eu, e 90% do povo do Sul do Pará estamos odiando eles pelo mesmo motivo e adorando o Giovani, Zequinha, Parsifal e etc porque eles são SIM. No final das contas, somos todos juntos uns idiotas tanto do Não quanto do SIM

    ResponderExcluir
  17. É...mas a campanha da reeleição do governador já começou. Como ele vai pedir voto no Tapajós e no carajás?
    Aqui em Santarém, em reuniões (2010) ele dizia com todas as letras que era a favor da criação do Tapajós. E agora vem o tapa na cara....
    É só guardar esses jornais de domingo e potencializar isso em 2014.
    Ou ele não concorrerá à reeleição, como fez em 2006.

    ResponderExcluir
  18. Ei, das 16.01
    Vc tem toda razão. O povo se mata e os políticos sempre se dão bem.

    ResponderExcluir
  19. A campanha do SIM está correta deputado, primeiro mostra as mazelas depois, num segundo momento as vantagens da divisão. A campanha do NÃO ainda não acertou a mão, fica o tempo todo na defensiva e passou a chamar o Pará de Parazinho.
    É fato que os governantes nunca deram muita bola para essas regiões, a naõ ser em época de elição, agora estão colhendo o que plantaram. SIM senhor!

    ResponderExcluir
  20. O que vai acontecer é que o "não" vencerá, o Jatene vai se reeleger, o povo religioso e sem consciência crítica continuará na merda, os mafiosos mais ricos, o Pará continuará mantendo seus índices africanos de desenvolvimento e a impunidade reinará neste Pará das contradições.

    ResponderExcluir
  21. João Farias21/11/2011, 22:06

    O povo paraense de verdade, quer SOMAR E NÃO DIVIDIR O PARÁ. De onde mesmo é o Giovane Queiroz? Paraense? Todos sabemos que quase todos os políticos que estão tentando este absurdo não são do Pará. Parsifal, toma cuidado, pois com a derrota do sim, vocês terão muitas dificuldades em conseguir se eleger novamente.Estamos de olho nos políticos SEPARATISTAS.

    ResponderExcluir
  22. No início, estava certa que o NÃO iria vencer facilmente e que os divisionistas seriam massacrados.
    Hoje, depois de pesquisar sobre o assunto e conversar com as pessoas, já não estou não certa disso.
    É possível que o NÃO vença, mas será, apenas, porque a diferença da população é imensa.
    Certo é que, conseguindo ou não a divisão, os vitoriosos serão os divisionistas, porque realmente conseguiram se unir em torno de um ideal e lutar por ele.
    Quanto aos políticos do não, sequer tentam convencer os contrários, porque, infelizmente, os argumentos para manter o estado como está são realmente muito fraco. Daí, o jeito é apelar para o bairrismo e impedir que as pessoas analisem racionalmente a questão.

    ResponderExcluir
  23. A campanha na televisão é tão ridícula quanto as palavras deste governador.
    Que argumento é este em que se compara o estado do Pará a uma cuia de tacacá, mostrado pela turma do NÃO?
    Que argumento é este em que se supõe uma proporção inversa entre tamanho territorial e desenvolvimento?
    São argumentos para um povo incapaz de olhar um palmo à frente de seu umbigo. Um povo que quando diz que vai ao "interior" é quando vai dar uma voltinha rumo à região do Salgado (Castanhal, Bragança, Salinas e arredores). Um povo que não conhece a realidade de São Geraldo do Araguaia, nunca foi e nem sabe onde fica Jacareacanga e nunca ouviu falar de Brasil Novo.
    O Pará é um estado riquíssimo e esta campanha mais uma vez exibe a gritante má distribuição de renda.

    Na área da saúde, este governador alardeia para os quatro quantos que a fila de espera de pacientes que necessitam de hemodiálise acabou. Que tal ele dar uma voltinha em Tucuruí e verificar que na Clínica Médica do Hospital Regional daquela cidade existem pacientes esperando seu processo de TFD (tratamento fora de domicílio) ser liberado para fazer este tratamento dialítico? Que tal ele verificar no arquivo do Hospital os prontuários de muitos pacientes que neste ano não resistiram a essa espera?

    Concordo com o anônimo 10:26:00 e digo também que este governador perdeu uma excelente oportunidade de ficar calado.

    ResponderExcluir
  24. Correção:
    [...]proporção DIRETA entre tamanho territorial e desenvolvimento[...]

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Comentários em CAIXA ALTA são convertidos para minúsculas. Há um filtro que glosa termos indevidos, substituindo-os por asteriscos.

Popular Posts

Mateus, primeiro os teus

Ninho de galáxias

O HIV em ação