Libelo definitivo

Apoiei a campanha de Ana Julia no segundo turno das eleições de 2006: mais que uma opção partidária, eu acreditava que seria de boa monta interromper o ciclo que o PSDB vertia no Pará.

Eu não tinha divergências substancias com o PSDB, mas, por conceito político, entendia, e ainda acredito, que um mesmo grupo politico não se deve manter por mais de oito anos no poder: a democracia se deve oxigenar por mudanças na estrutura política que a maneja, ou tende ao aparelhamento, transformando-se em uma ditadura eleitoral.

O governo de Ana Júlia, inobstante ter satisfeito o conceito da oxigenação, bastou-se nisto e foi um desastre administrativo: a equipe que a sequestrou no governo mostrou-se incompetente na condução política e desaguou no insucesso do escopo governamental.

Eu adverti, por varias vezes, o governo de que o caminho que este trilhava rumava ao abismo: as secretarias eram feudos de tendências partidárias que se aparelhavam conforme as conveniências estruturais da corrente e não de acordo às necessidades funcionais do órgão.

Certa feita, na presença do então chefe de gabinete Charles Alcântara, eu adverti a governadora que cada bureau da administração estava a serviço exclusivo do seu ocupante e urgia o restabelecimento da engrenagem essencial ao funcionamento do todo que já se comprometia seriamente.

A queda de Charles Alcântara foi a consequência da tomada de poder pela facção do seu substituto, Cláudio Puty, atrelado à invasão neurológica dos irmãos Monteiro aos quais se rebocavam ainda André Farias e Carlos Botelho: este grupo sitiou o Palácio dos Despachos e selou o fim do governo Ana Júlia antes mesmo dele se estabelecer como regularmente consequente.

Ana Júlia jamais conseguiu comando administrativo e nunca entendeu o tamanho da cadeira em que sentava: limitou-se a imitar genericamente programas sociais do lulismo e a apostar nas intervenções do governo federal no Pará como elementos de carenagem da sua avaliação.

As secretarias principais do governo, ocupadas por auxiliares sem envergadura político administrativa, não conseguiram executar os respectivos orçamentos e se perderam em divagações típicas das academias de onde eram egressos: acharam que apresentações de “Power Point”, poderiam fazer as vezes de inversões estruturais de fato.

O relacionamento soberbo com o Parlamento e a total incapacidade de solver compromissos completou a sopa quente que ninguém no governo foi capaz de assoprar ou comer pelas beiradas: o governo de Ana Júlia dissolveu-se em um mar de alta salinidade, onde se tornou impossível qualquer tipo de formação inteligente.

A população paraense, em pouco tempo, sentiu a fraude a qual se submetera e impôs altos índices de rejeição ao governo e à governadora, o que culminou com a sua inviabilidade eleitoral.

Neste domingo dever-se-á selar o melancólico final de um governo que nunca começou: que voltem as suas respectivas insignificâncias os áulicos que na empáfia de achar que eram timoneiros do progresso, afundaram o Pará em quatro anos de atraso.