O comportamento das democracias internacionais sempre foi bipolar no trato das questões domésticas dos países com os quais se relacionam: uma hora apóiam sangrentas ditaduras, outro minuto condenam golpes periféricos sem maiores repercussões nas suas respectivas balanças comerciais.
O Brasil arremeda o mesmo comportamento neste caso de Honduras.
Sem abordar a lateralidade, já exaurida, das circunstâncias em que se desenrolou a deposição de Zelaya, para demonstrar a bipolaridade brasileira, aceitemos - em tese - que há hoje uma ditadura em Honduras.
O mesmo Itamaraty que acalenta Zelaya, tece loas diárias à Líbia, ao Irã, ao Egito – que faz de conta que é uma democracia, mas mantém a ditadura de Hosni Mubarak há exatos 28 anos – e à China, onde crianças trabalham oito horas por dia em fábricas de bugigangas eletrônicas que nós importamos a preço menor que as bananas de Honduras.
Todos os países acima citados, e mais 38 que eu contei, são absolutas ditaduras com as quais o Brasil troca beijos e abraços, al dolce far niente, sem culpa nenhuma.
(Eu não coloquei Cuba na conta, porque morro de amores pelo mais longevo ditador do planeta, Fidel Castro).
O Itamaraty, mês passado, na sua aguda bipolaridade, chegou a retirar apoio de um diplomata brasileiro, apoiando oficialmente o egípcio Farouk Hosni - que faz coro com o lisérgico Presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, na modinha anti-semita de que o holocausto nunca existiu - para o cargo de diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
Vimos o que foi a recente “eleição” iraniana: a mais perfeita tradução do que pode ser uma fraude travestida de democracia. Não obstante, o Brasil deita-se em salamaleques ao fraudador e o convida para vir ao país.
O que é um reino senão uma ditadura dinástica? Não são os países árabes dinastias? E por que o Itamaraty opta por estreitar o relacionamento político comercial com estas ditaduras?
O fato é que o alinhamento se dá em função de interesses comerciais e não por valores democráticos, mas, não deveriam os Estados pautarem a política externa no cinismo, onde a hipocrisia acaba lhes sendo a máscara com a qual se travestem de paladinos institucionais.
A posição do Brasil, neste caso hondurenho, é um desastre diplomático.
Enquanto os EUA e seus alinhados se limitaram a um discurso vestibular sem maiores conseqüências, e a um recuo tático ao constatarem que o jogo de Zelaya teve como técnico o chavismo, o Brasil resolveu dar ao caso uma resolutividade que não poderia emprestar.
Estamos sós na empreitada. Os demais países leram a constituição hondurenha e procuravam uma saída honrosa para a própria precipitação, até o momento em que o Brasil entrou no jogo de Chaves e colocou o bode na própria sala.
Irreparável
ResponderExcluirSeu artigo está correto, mas, acho que tanto o Zelaya quanto o Micheletti são ditadores.
ResponderExcluirComo vc quer condenar o Brasil e tem a mesma atitude elogiando o Fidel Castro?
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