Admirável Mundo Novo

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Cada vez mais o Brasil se vai tornando em algo que os EUA têm de pior: um mercado concentrado nas mãos de grandes corporações, infelizmente uma tendência mundial ditada pela busca cada vez maior de escala.

Ontem (18), o Grupo Abril, que edita a revista Veja, engoliu mais um naco da concorrência: os Civita adquiriram, por R$ 725 milhões, todas as operações da Saraiva no setor de ensino e impressão.

Em 2008, em uma operação de R$ 60 milhões, a Saraiva abocanhou a quase centenária Livraria Siciliano, fundada em 1928 por Pedro Siciliano, e formou a Saraiva e Siciliano S.A.. A Livraria Siciliano, uma das minhas preferidas, sumiu do mapa e ficou apenas a Saraiva.

Agora, com a operação do Grupo Abril, a Saraiva sai definitivamente da área editorial e passa a focar nas suas lojas que cada vez mais diversificam o mix, perdendo o saudoso formato da livraria e entrando de vez na era do varejo.

O Grupo Abril passará, assim que a operação for concluída, a controlar, através da Abril Educação, mais oito selos editoriais: Saraiva, Atual, Formato, Benvirá, Caramelo, Ética, Ática e Agora.

Isso é um desastre, pois cada vez mais vai ficando nas mãos de apenas uma linha editorial o que vai ou não vai ser impresso, pois o fato de o nosso mercado livreiro ser parco (lê-se muito pouco do Brasil) faz com que os editores fiquem muito seletivos.

E, essencialmente, a linha das editoras deveria ser publicar o máximo possível e deixar a seleção com o leitor. Antes por isso, e visando incentivar a disseminação da cultura, herança de uma nação, o Estado, na própria Constituição Federal, concede imunidade tributária aos livros, jornais, revistas e periódicos, e ao papel adquirido para a sua impressão.

Mas isso, longe de encarnar o espírito constitucional, passou a ser apenas decomposição de custos e agregação de lucros.

Como escreveu o Aldous Huxley, em 1932, na sua nostálgica distopia, é o nosso “Admirável Mundo Novo”.

Comentários

  1. por aqui, falta vontade politica para limitar esse processo.
    o CADE quase não existe.
    o banco central é um apoiador fanático da concentração no mercado financeiro.
    Nos estados unidos, já houve casos de cisão forçada de empresas para salvaguardar a concorrencia.
    por aqui, parece os intelectuais preferem dicutir pinturas (Reembrandt, Van gogh) a lutar contra a excessiva concentração.

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    1. Os Estados Unidos é o país com a maior concentração corporativa do mundo. As cisões foram meras divisões de específicos serviços dentro de uma mesma corporação, o que, na prática, não resultou no que queria a legislação.

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  2. desculpa mudar o assunto, mas vi isso agora e achei interessante aqui colocar. É sobre maioridade penal, na Inglaterra seria de 10 anos e na suiça 7 anos.

    http://noticias.terra.com.br/mundo/europa/na-gra-bretanha-maioridade-penal-passou-de-14-para-10-anos,8d60f51b62f148a547b61d5df51a891aex4eRCRD.html

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