De reformas e cateterismos

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O governo federal começa uma semana decisiva para a agenda de reformas que pretende fazer, mas que já fizeram água no decorrer das negociações para torna-las palatáveis aos parlamentares que enfrentam as urnas em 2018.

Contribuiu para abrir mais a fresta no casco da nave a “Greve Geral” do dia 28.04 passado - na verdade um grande protesto contra as reformas trabalhista e previdenciária.

Independentemente da tentativa do governo de relativizar a sexta-feira, os protestos alcançaram o sucesso que perseguiram e acabaram sendo o arremate do que a pesquisa publicada pelo Datafolha mostrou: a maioria do povo brasileiro é contra as reformas hora em apreciação na Câmara Federal, chegando a reforma da previdência a contar com 71% de rejeição.

Uma geografia mais analítica da rejeição apontada na pesquisa demonstra que as reformas são repudiadas mais pela forma e menos pelo conteúdo, pouco, quase nada, debatido com a sociedade que, não as conhecendo, rejeita-as.

O equívoco que causou esse desconhecimento foi do governo, que encaminhou mal as propostas, conduziu mal o debate e defendeu com amadorismo os pontos, apostando mais no discurso da catástrofe fiscal caso eles não sejam adotados, do que na capacidade das pessoas em entenderem o que lhes está sendo administrado goela abaixo.

O ponto da fervura nesse conto é a peça mais importante que falta no quebra-cabeça: credibilidade. O presidente Michel Temer, amargando uma desaprovação de 61%, não embarca confiança popular para ser o comandante de reformas tão delicadas, que embora necessárias, são tratadas em momento inoportuno.

O próprio Temer já declarou aceitar como fato a sua impopularidade crônica e diz que “aproveita isso para tentar fazer avançar uma agenda de reformas de difícil aprovação popular”.

Justamente aí reside o equívoco: presidentes impopulares carecem de legitimidade para romper paradigmas estabelecidos, antes porque a impopularidade é elemento oxidante da base de apoio congressual e uma democracia não faz reformas estruturais sem o Parlamento.

É mérito de Temer, todavia, tentar. Inobstante, aquilo que for parido, se vingar o parto, estará bem distante do que foi concebido e as reformas acabarão por não alcançarem a sinergia requerida para a retomada do crescimento econômico desejado, permanecendo o Brasil a titubear na velha encruzilhada do século 19, feito um pato manco, nesse quê de salazarismo com batatas fritas que nos tem levado a altos índices de colesterol, que teimamos em tratar com cateterismos reincidentes.

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