De gatos e de lebres

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Virou lugar comum na internet proliferarem textos atribuídos a autores famosos, mas que não passam de fakes, termo atribuído a tudo o que não é legítimo circulando na rede.

Nesse final de 2016 recebi de várias pessoas o texto abaixo, como mensagem de final de ano:

“Se usar branco atraísse paz, nenhum médico ficaria em depressão; se usar amarelo atraísse dinheiro, o pessoal dos Correios estava rico; se usar vermelho resolvesse a vida amorosa, nenhum bombeiro se divorciaria.

Dois mil e dezessete se aproxima, e não terá nada de novo e de melhor se nós não tivermos atitudes novas e acertadas.

Que em 2017 possamos ser melhores pais, melhores maridos, melhores esposas, melhores mães, melhores filhos, melhores cristãos.

Que no próximo ano não venhamos a repetir erros de 2016 e de anos anteriores.

Que no Ano Novo possamos abraçar mais, elogiar mais, agradecer mais.

Que hoje e no futuro, Jesus possa estar acima de todos os nossos interesses e no centro de nossos corações. Que a paz, a graça e as misericórdias do nosso Senhor Jesus Cristo nos acompanhe!”

É uma ótima mensagem, deveras. A autoria é creditada ao poeta, tradutor e jornalista gaúcho Mário Quintana, um dos maiores expoentes da literatura nacional.

Bem, poderia ser uma psicografia, afinal, Quintana morreu em 1994, aos 88 anos.

Mas mesmo da hipotética psicografia eu desconfiei, pois o estilo, letras, frases e dialética do texto não estabelecem correspondência alguma com o estilo de Quintana. Essas coisas são como telas de pintores famosos: o talento pode ser replicado até, mas a réplica jamais trará a digital do autor original e os olhos mais atentos, ao esquadrinharem a tela, constatarão a ausência da genialidade.

Mesmo já convencido, desde a primeira frase, de que o texto, definitivamente, não era de Mário Quintana, fui pesquisar e, depois de percorrer toda a resenha da obra, ficou de fora o dito cujo.

Faço isso aqui para incentivar a leitura crítica, pois a palavra é um instrumento de dominação. Jamais acredite piamente no que lê na internet, principalmente se você for repassar a informação e o crédito.

Eu sei que é difícil pegar a ficha de madrugada na porta do Posto de Saúde, mas sempre procure consultar mais de um médico.

Comentários

  1. O texto é a diferença entre o autor e o escritor!

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  2. Quintana deve estar grato a você pelo zelo com a boa Literatura!Vivo nesse combate de desmentir esse tipo de autoria. O país já lê pouco e ainda há desocupados ( ou maliciosos) que se ocupam em desmerecer nossos grandes autores.
    Muito obrigada pelo ótimo esclarecimento!
    Edinalda

    ResponderExcluir

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