Latas de carne a longo prazo

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Quando em criança eu fazia alguma traquinagem, o meu pai pedia explicações e eu começava a inventar estórias, ele cortava a conversa com rispidez: “Rapaz, a melhor desculpa é a verdade! ”.

Como a moral contemporânea ganhou fecho ecler, eu emendaria meu ido pai: “ou ficar calado! ”.

O presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), nessa história das contas na Suíça, resolveu não contar a verdade. Deveria, então, ter ficado calado, pois quanto mais fala mais gagueja, esquecendo que o problema da mentira é que ela exige muita memória e elaboração dialética sofisticada, ou vão caindo os substantivos pelo meio da trama.

Para provar a sua vida de açougueiro, Eduardo Cunha chamou os líderes da Câmara Federal para um almoço ontem (10) e a peça de resistência dos acepipes foi apresentar-lhes cópias dos seus passaportes que, dentre outros, contêm 37 carimbos de entrada em dois países africanos na década de 80, em apenas dois anos (!!) quando, segundo ele, prosperaram os seus talhos de carne enlatada.

Os líderes ficaram encantados com as provas. Pronto! Tudo resolvido, afinal ninguém vai à África 37 vezes, em dois anos, a turismo. Eu já começo a achar que Cunha teve mais uma profissão jamais revelada: comissário de bordo na South African Airways.

Mas há aí uma lacuna não observada, ou convenientemente esquecida: o relatório da Procuradoria da Suíça, estribado em documentos enviados à Procuradoria-Geral da República, afirma que as trustes Kopek, Triumph SP, Orion SP e Netherton, das quais Cunha é o beneficiário direito, receberam, entre 2003 e 2008 depósitos que somam US$ 4.831.711,44 e 1.311.700 francos suíços, o que equivale a R$ 23,8 milhões.

O próximo passo no enredo é Cunha afirmar que entregou carne na África na década de 80, em contratos que estabeleciam os pagamentos 20 anos depois, em contas a serem abertas na Suíça.

Embora eu ainda esteja entalado com carne bovina, se Cunha quiser me vender carne enlatada nessas mesmas condições eu aceito.

Comentários

  1. Cunha estrela a ficção "O Açougueiro Diferenciado"

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  2. Em alguns momentos, os políticos são como mulheres traídas, elas querem, precisam apenas de uma boa desculpa para o perdão, aliás nem precisa ser muito boa.

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  3. Não fossem os Partidos políticos no Brasil um ajuntamento de interesseiros, procurando se dar bem às custas de transações nebulosas, o próprio PMDB, através de suas Comissões Internas poderia dar um fim a essa pantomima. Como os outros, o PMDB é o que é. Os mandões do Partido são Romero Jucá, Rena, Sarney, Jader, Eduardo Cunha e assemelhados. Claro que devem existir algumas exceções, mas se existem, essas exceções ficaram murchas quando o tonto do Ciro Gomes disse que " o PMDB é um ajuntamento de assaltantes " Não concordo com o boquirroto Ciro, mas não consta que o PMDB tenha se manifestado com a veemência necessária para que não pairem dúvidas sobre seus integrantes. Pra piorar, o resto de Suas Excelências na Câmara fica quietinha, em cúmplice silêncio, ou com discurso meia boca, pelo fato de não existirem donzelas no prostíbulo que é o Congresso.

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  4. pmdb - rj e nao pmdb - pa, parsilfal, depois corrija, tenho certeza que voce nao gostaria de te-lo como colega aqui no pará!! abs :)

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