Brasília volta a Washington

Shot001O Brasil voltou os olhos aos EUA quando não goza de boa posição econômica, o que empresta opacidade a nossa envergadura política frente a um mercado que poderia agregar valor mais efetivo que a China a nossa economia doméstica.

A China compra comodities e nos torna dependentes de uma economia planificada, cujo humor não pode ser controlado pelo nosso mercado doméstico. A parceria com a China agrega valor contábil na nossa balança, mas tem peso específico pífio na oxigenação da nossa economia interna.

A equivocada política externa do Brasil, que tentou excluir os interesses geopolíticos do continente americano, capitaneados pelos EUA, longe de afirmar-nos como um desafiante colateral, diminuiu-nos as chances de negociar com quem teria condições de alavancar negócios com dinheiro próprio, pois nos EUA não é com o governo que se negociam investimentos, mas com a iniciativa privada, cujo centro de decisão não depende de Washington, que é mestre de cerimônias nesse jogo.

A viagem de Dilma Rousseff, agora, aos EUA, reinicia um ciclo que pode ser virtuoso se tivermos a clareza de que queremos mais do que dormir na Blair House.

Mas não é possível esperar resultados práticos em curto prazo, porque embora o jantar tenha sido em Washington, o que valeria mesmo seria um suculento almoço em Wall Street, que hoje enxerga o Brasil com desconfiança.

Se o jantar com Obama tivesse sido no início do seu segundo mandato, talvez fosse possível desviar-lhe um pouco a atenção do eixo Ásia-Pacífico, mas a apenas um ano e seis meses do final do seu mandato, dificilmente o presidente dos EUA apostará no plantio de algo que não tem a menor possibilidade de colher e nenhuma repercussão tem na sua política interna.

Até porque os EUA terão que começar uma agenda do zero, pois quando o Brasil abandonou uma agenda minimamente consequente com eles, a Casa Branca, ciente de que isso não teria a menor importância para os seus interesses, riscou o Brasil do seu mapa de prioridades.

Além do mais, quem está acostumado à linguagem corporal dos EUA nas negociações bilaterais, leu no editorial do Washington Post, o recado de democratas e republicanos, um dia antes da presidente ir comer cordeiro grelhado no Blue Room: o estatismo, a burocracia e a insegurança jurídica brasileira são os maiores obstáculos vistos pelos investidores estadunidenses para trazer os seus bilhões para cá, estruturando algo que repercuta na economia doméstica.

Enquanto o Brasil não corrigir o rumo, atraente só o mercado financeiro, onde é possível colocar e retirar bilhões premindo um botão, e demais arriscado é fincar alicerces que demandariam tempo para serem removidos e seriam transportados aos pedaços.

Somos grandes, mas temos que nos comportar como tal, ou alguém aí acha que dinheiro aceita desaforo?

Comentários

  1. Sei que não se trata de exportações. Mas vale para as relações internacionais na economia. Veja um trecho inicial de um texto de recente publicação do economista e jornalista Luis Nassif: “Observador atento e experiente do universo industrial, o economista Antônio Correa de Lacerda sustenta que o Brasil não perdeu atratividade do ponto de vista do investimento produtivo. Sua análise foi desenvolvida em palestra no 60o Forum Brasilianas, sobre a indústria. O fluxo de investimento direto estrangeiro continua muito forte, entre US$ 60 a US$ 65 bi a cada ano. O Brasil permanece um dos cinco maiores absorvedores de investimento”.
    "A questão é: o que esses caras estão vendo que nós não vemos?", indaga ele.
    O último relatório da UNCTAD sobre investimentos globais mostra o Brasil em quarto lugar. Não se trata do passado, mas do futuro. Na pesquisa prospectiva - sobre os países que as multinacionais irão investir nos próximos anos - o Brasil continua em 4o lugar. Para Lacerda, parte dessa visão distorcida se deve à cobertura da imprensa, que reflete muito mais torcida que análise.

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    1. Os argumentos de Nassif, emprestados do professor Lacerda, não servem para análise macroeconômica, mesmo porque Lacerda os proferiu in absoluto, para demonstrar que o país, mesmo com o acirramento da crise, não perdeu o fluxo desses investimentos.
      É verdade que o Brasil se mantem entre os 10 maiores receptores de transferência de capital produtivo, afinal somos uma das 10 maiores economias do planeta. Mas, para ser honesto no argumento, seria preciso informar onde esse capital pousa quando chega, para que então possamos aquilatar o que ele, de fato, contribuiu na expansão da economia doméstica.
      Esses investimentos são os chamados Investimentos Estrangeiros Diretos (IED), que, primeiro, são pífios frente ao PIB: em 2013 foram US$ 64 bilhões, frente a um PIB de US$ 1,9 trilhão.
      Depois, e aí e que está o porquê de não serem suficientes para alavancar a economia doméstica: esses investimentos não aumentam formação de capital fixo, porque a parte relevante deles é para realizar fusões e/ou aquisições de empresas nacionais já existentes, ou seja, não são investimentos novos, que irão gerar mais emprego e mais renda, mas mera transferência patrimonial.
      Isso não quer dizer que o IED não seja importante para a economia doméstica e para a nossa balança de pagamentos. Ele é, pois consolida empresas, atualiza o parque industrial e a entrada de moeda forte fora do mercado especulativo sempre é ótima, mas não serve para agregar valor ao PIB e é isso que o Brasil precisa mais nesse momento.

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    2. Meu amigo, data máxima vênia embora eu não tenha feito nenhuma pergunta, achei interessante a explicação porque me fez lembrar o tucano e ex-presidente Fernando Henrique de não saudosas memórias. Em suas perorações iniciava discordando sobre o assunto e no final concordava. As vezes invertia. Nos meus poucos conhecimentos chego a conclusão que economia não foi feita para ser entendida. Se assim fosse os melhores economistas resolveriam as dificuldades do mundo. Por fim vc diz que os IEDs são pífios e depois o chama de importante para a economia doméstica, para a balança de pagamentos, consolida empresas, atualiza parque industrial e ainda entrada de moeda forte fora do mercado especulativo. Como entender? agora indago.

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    3. Aí não se trata de economia, mas de interpretação de texto: "são pífios frente ao PIB", ou seja, nesse trecho, os IEDs estão sendo tratados especificamente, comparados a uma grandeza também específica, o PIB, e a mera visão dos dois números resulta na veracidade da comparação.
      No parágrafo final, para que o leitor desavisado não ache que os IEDs são absolutamente desimportantes, esclarece-se a que eles se prestam na macroeconomia do país e, portanto, não devem ser desprezados, por serem, em termos comparativos específicos, pífios, porque o fato de ser pequena a grandeza não significa que ela deva ser desprezada, ou você joga fora uma moeda de 5 centavos que recebe de troco junto com uma nota de R$ 100?
      A economia é para ser entendida como uma ciência social que é, e não como uma profecia, pois economista não é vidente e sim um profissional que projeta cenários baseado em dados e o cenário é tanto mais confiável quanto mais apurados são os dados recebidos.
      E os dados econômicos, mesmo se bem colhidos, podem mudar em um dia, pois dependem de muito mais variáveis do que a lei da gravidade.
      Economia é como a sua vida: nem tudo o que você planeja ocorre exatamente como pensado e, não poucas vezes, você precisa mudar os rumos porque você, ou o que está a sua volta, mudou.

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    4. Não é incoerência de pensamento na interpretação do texto quando diz sobre investimentos estrangeiros: ... obstáculos vistos pelos investidores estadunidenses para trazer os seus bilhões para cá, estruturando algo que repercuta na economia doméstica. Afinal de contas quais são então os investimentos que deveriam vir?

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    5. Genericamente investimentos que abrissem novas frentes de produção e geração de empregos e renda, pois isso somaria valor ao PIB e não seria mera transferência patrimonial.
      Mas o mais importante seriam investimentos em logística e principalmente logística de transporte aéreo, fluvial, marítimo, rodoviário e ferroviário. O governo lançou o Plano Nacional de Logística que prevê R$ 200 bilhões de investimentos, mas menos de 40% disso seria implementado até 2018 e o restante a partir de 2019. Imagine se o país reunisse condições de confiabilidade econômica e jurídica suficiente para que os fundos internacionais viessem fazer esses investimentos: o Brasil seria um canteiro de obras e, efetivamente, conseguiríamos alavancar o PIB nos 5% que esse valor significa.

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