Sem conhecimento de causa

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O deputado André Figueiredo sofre de astigmatismo, ou seja, não enxerga direito o que está perto e nem o que está longe.

Desde 1995, no governo FHC, o Brasil rendeu-se definitivamente ao mercado financeiro. O atestado da rendição foi a edição do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional, o famoso PROER, que tungou a patuleia em 2,5% do PIB nacional para evitar que o clube espirrasse. A conta, pelo PIB de hoje, seria de R$ 140 bilhões.

Mas não só o Brasil virou refém dos herdeiros dos templários, que inventaram os bancos como os temos hoje.

Aliás, só quem enfrentou o clube foi Felipe IV, o belo. Não porque os achava avaros, mas para lhes tomar a grana que lhe financiaria a guerra. É certo que Felipe IV exagerou na dose: não tinha porque tocar fogo em Jacques de Molay. Mas isso é outra história. Uma interessante história que depois eu conto.

O PROER do Brasil foi até pequeno se comparado aos cheques entregues por outros serviçais: no Chile, a conta ficou em 19,6% do PIB e na Argentina, em 13%. A Noruega, avessa a essas tungas, depositou na sacolinha do clube 4,5% do PIB e até o Tio Sam recorreu à velha receita financista e tungou os sobrinhos em 5,3% do PIB para entregar ao clube.

Ou seja, FHC perdeu uma ótima oportunidade de, em 1995, colocar ordem na casa e assim como os demais resolveu pagar para continuar como estava para deixar como ficou.

Um arremedo de Felipe IV contemporâneo, que ainda tentou dar um chega pra lá foi François Mitterrand, que ao chegar ao poder na França, em 1981, estatizou os ramos franceses dos bancos, mas errou a mão ao escrever torto por linhas certas, pois não era essa a medida cabível nos tempos da República.

O clube acusou o golpe, mas conspirou até que voltou a pasta para dentro do tubo. Seis anos depois emplacou um primeiro-ministro para chamar de seu na presidência de Miterrand.

Jacques Chirac patrocinou o refluxo, servindo o prato frio: os banqueiros pegaram suas casas de volta e, de quebra, ainda compraram o controle acionário da mais tradicional instituição financeira da França, o Crédit Lyonnais, transformando a saga do mais longevo presidente francês em um quê shakespeariano de “Sonhos de uma noite de verão”.

Aí, vem o senhor deputado André Figueiredo dizer que foi o atual governo quem se rendeu ao mercado financeiro.

O núcleo do objeto direito não é saber quem se rendeu, mas aparecer algum gênio que elabore um método para sairmos do tronco.

A montagem que ilustra a postagem foi feita a partir de nota e ilustração da coluna “Repórter 70”, publicada em “O Liberal”, em 06.06.2015.

Comentários

  1. Francisco Márcio08/06/2015, 10:03

    O que uma espera de nomeação não faz... "Desde 1995, no governo FHC, o Brasil rendeu-se definitivamente ao mercado financeiro." Será que começou em 1995?
    Tenha paciência, os cargos do segundo escalão já estão sendo loteados, já, já, V. Excelência vai abocanhar o seu... Não precisa essa apologia...

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    1. Deus poupou-me dessa coisa chamada pressa, o que é diferente da expediência. E quando se trata disso, a minha paciência equipara-se a de uma lesma sobre o lodo, por um motivo mero: não preciso. E eu adoro não precisar.
      Sim, os grandes bancos, no Brasil, eram servis e controlados pelos governos militares e não tinham maiores influências na economia e isso ultrapassou o fim da ditadura. Chegaram ao início de FHC esfolegados, pois a principal alavanca deles era o estoque inflacionário.
      Quando a calafetagem começou a arrebentar, em 1994, seria a hora do governo dar o golpe de misericórdia e enquadrá-los. Não que eles tivessem que ser liquidados, como foram alguns, seletivamente escolhidos (quem contava bem essa história era o Andrade Vieira, do Bamerindus, um dos escolhidos para quebrar), mas força-los a limites de mercado e distribuir-lhes as carteiras de forma mais pulverizada na economia.
      Mas FHC optou por produzir e dirigir o “filme definitivo", com o PROER, sem nenhuma regra consequente a não ser uma de cunho objetivo, que foi a Resolução 2099 do BC, estabelecendo limites operacionais a serem observados nas operações. Esses limites foram combinados com o clube e plantaram a semente das grandes corporações que se veem hoje.
      A doutrina, que como está dito na postagem não foi exclusiva do Brasil, colocou o controle financeiro do mundo nas mãos de poucas corporações e talvez em 100 anos não tenhamos outra oportunidade de mudar o status, pois perdemos a outra, em 2008.
      E só os românticos de boa fé, como o alentado comentarista da postagem da compra do HSBC pelo Bradesco, acham que é possível arranha-los abrindo tamboretes.

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  2. Interessante e que naquela época onde o Fernando Henrique tungou o povo brasileiro em cerca de 140 bilhões de reais para "presentear" aos bancos, a grande mídia brasileira não se revoltou como se revolta agora em "defesa" da nação. É muita hipocrisia para o meu gosto.

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  3. Deputado faço um pedido para o Senhor antes da sua nomeação para Presidente da CDP, acabe com o estacionamento que fica atraz desta Empresa onde acabaram com a calçada existente e demarcaram a mesma com a colocação de correntes e por cima de tudo com um Guarda particular tomando conta desta arbitrariedade. Vou esperar e cobrar.

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  4. Nota 10 mestre. Volto a dizer: admiro muito suas postagens. Apesar de critica-lo em algumas(como a discussão da regulação da mídia já existente na Inglaterra),todas são de uma inteligencia invejável. Parabéns.

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  5. não é preciso nenhum genio para sairmos desse tranco, basta gente seria no comando do pais. Concordo que essa minha ambição é uma grande ambição, não estou pedindo pouco.
    a alta na selic não é um problema terrivel, terrivel é os juros no credito serem cerca de 10 vezes mais altos que a selic.

    tanto a dilma como o fernando henrique receberam uma herança maldita, com a diferença que a atual herança veio do proprio grupo.

    Um governo e seus aliados devem zelar pelos assuntos comuns e mostrar que seu governo é melhor do que o anterior, não justificar qualquer coisa dizendo que o outro fez igual.



    não vejo uma selic alta como uma rendição aos banqueiros. Eu penso que ela deve mesmo ser alta, em função de uma serie de coisas, mas tem a questão das promessas de campanha, que eram bem diferentes...

    se limpassem o banco central, os juros para as pessoas juridicas e fisicas principalmente baixariam muito mesmo se a selic ficasse igual.

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    1. Gente séria, como gente não séria, tem em toda parte. Para promover mudanças sistemáticas sem cataclismos niilistas, semente os gênios.

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    2. se aceitassemos sua opinião, de que só genios podem promover mudanças sistematicas sem cataclismos niilistas, então o fernando henrique e a turma do plano real são genios.

      eu acho que não são.

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    3. Meu caro, eu não gosto, conceitualmente, da intelligentsia tucana. Adoro falar mal do FHC: era um dos meus esportes preferidos quando ele era presidente, embora o PMDB o apoiasse. Mas querer desconhecer a genialidade do Plano Real, para a específica temática que ele se propunha é querer ignorar a preamar.
      O Plano Real, apesar de críticas da esquerda anti-keynesiana ( e a política econômica atual é puro Keynes), foi uma golpe de gênios (pois não houve apenas um), comandados pela trinca Edmar Bacha, Gustavo Franco e José Roberto Mendonça de Barros, que pegaram tudo o que já tinha sido tentado antes, mas que não perdurou no tempo (inclusive o Plano Cruzado, que só fez água porque faltou o toque da genialidade) e, mudando a posição dos átomos na mesma substância, produziram uma mudança na cultura inflacionária do Brasil que perdura até hoje.
      E esse foi o toque de gênio do Plano Real: ele extrapolou as suas repercussões econômicas e atingiu o status neurológico da sociedade brasileira, impregnando-a definitivamente com a consciência antiinflacionária, mostrando-se, sem sombra de dúvida, porque não houve outro dos muitos que se tentou, no plano de estabilização econômica mais eficaz da história do Brasil.
      Beting, certa feita mostrou uma conta que não é possível esquecer: a moeda havia acumulado, de 65 a 94, uma inflação de 1,1 quatrilhão por cento! O Plano Real interrompeu isso definitivamente, por isso foi o Plano Definitivo e para mim tudo o que é definitivo é genial.
      Mas você tem o direito de acha-lo comum. Eu adoraria ter essa opinião, pois não seria forçado a elogiar o tucanato nem uma vez, mas não posso ser intelectualmente omisso nisso.
      E você me deve isso: fez-me elogiar os tucanos.

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    4. o plano real interrompeu a inflação por um bom tempo, mas nunca poderemos dizer definitivamente porque não conhecemos o futuro.

      mas eles não eram genios, apenas tinham um intenção serie de combater a inflação.

      vou citar uma coisa simples e importante: eles determinaram que para cada real depositado em conta corrente depois do inicio do plano, tinha 100% de deposito compulsorio. Simples, nada de genial. Assim, o banco tinha menos recursos para financiar, e o pessoal não podendo pegar dinheiro emprestado, tinha menos dinheiro para gastar, no periodo de transição.

      O armirio fraga, a seu tempo, adotou medidas simples para coibir alta do cambio, mas fez outras cousas de que não gosto.

      A liberdade para abrir bancos e limpeza do banco central são coisas possiveis e de forte impacto, mas é preciso as lideranças querer melhorar o pais, como queriam o fhc e sua turma do real. Coisas faceis de fazer para a presidente.

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    5. O conceito de “definitivo”, para efeitos dialéticos, em sustentações científicas, é bem diferente desse absoluto que você entendeu. Coloquialmente só Deus é definitivo, e isso se você acreditar Nele.
      Eu sou benevolente com a inteligência humana. Para mim, qualquer coisa que saia do comum é genial, pois o comum está por toda parte.
      O simples é sempre aquilo que depois de feito a gente se pergunta: por que diabos uma criança de dois anos não pensou nisso?
      O Einstein também fez algumas coisas que eu não gosto, mas continuo achando que ele foi um dos maiores gênios da humanidade e deve-se a isso a uma coisa tão simples: e=mc2. . Ora bolas, até um estudante de primeiro ano de física sabe que qualquer massa possui uma energia associada e vice-versa. Grandes coisas o Einstein ter elaborado uma fórmula para isso. Mas como eu não fiz isso antes dele o gênio é ele e não eu.
      É. A presidente Dilma, assim como todos os seus antecessores, desde Deodoro, são uns idiotas mesmo. Como é que eles nunca fizeram algo tão fácil para passar para a história?!
      Você tem razão. Isso tudo é fácil. Difícil mesmo é ser presidente.

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  6. nos tempos dos presidentes ancestrais, os problemas eram outros.
    por que dilma não fez?
    a) está preocupada em repartir o butim
    b) está preocupada em escapar das grades
    c) pensa que as cooperativas resolverão o problema
    d) não está ligando para a coletividade

    FHC pensava que a entrada dos bancos estrangeiros iria resolver o problema dos maus serviços. Enganou-se.
    em relação as alternativas citadas, podem ser verdadeiras mais que uma.

    uma certa preguiça nas licitações revela que ela não se preocupa com a coletividade, com o progresso do pais. Ela só faz licitações para infraestrutura quando está acuada, quando as coisas estão pretas, quando ela percebe que só conversa fiada não basta para acalmar os descontentes. Licitações para construção de estradas, ferrovias, portos e aeroportos um bom presidente faz no primeiro mes de governo.

    Os politicos não são idiotas, eles são egocentricos, pensam que só tem deveres para com os financiadores.

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