Programa de Investimento em Logística: a propaganda e os fatos
O governo federal anunciou ontem (9) “a nova etapa” do Programa de Investimento em Logística (PIL), que “terá investimentos de R$ 198,4 bilhões”.
O maior peso específico do PIL se roga nas concessões de serviços públicos ao empreendimento privado. Carrega nas ferrovias, para onde serão destinados R$ 86,4 bilhões; nas rodovias serão investidos R$ 66,1 bilhões; nos portos R$ 37,4 bilhões e os R$ 8,5 bilhões restantes irão para os aeroportos, cujo bife ancho já foi comido na última refeição, que foi, aliás, um sucesso.
As concessões se darão através de leilões: quem pagar mais leva. Claro, a maior parte dos valores para executar as obras virá, a juros e prazos específicos, do BNDES. O que faltar para a conclusão dos projetos os vencedores buscarão no mercado. Mas poderão emitir debêntures de infraestrutura que o BNDESPAR poderá comprar também, preservando ainda mais o bolso do arrematante, mas isso é melhor do que o governo ficar se metendo a fazer canteiros.
A presidente Dilma discursou que o PIL regará a grama dos jardins que o ajuste fiscal secou, interrompendo o estio; o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, opinou que o PIL “não só responderá a um grande gargalo da economia”, mas também será uma forma de “impulsionar o crescimento do país”.
Terminada a parte do marketing, onde governos, comme il faut, são capciosos, vamos aos fatos, os quais o governo, embora tenha sido honesto, preferiu escrever em letras gitas.
O plano é dividido em duas etapas: a primeira, com investimentos de R$ 69,2 bilhões, será executada entre 2015-2018, e a segunda, com investimentos de R$ 129,2 bilhões, será executada a partir de 2019, ou seja, ao mandato da presidente Dilma Rousseff caberá a menor parte da ceva (R$ 69,2 bilhões). Os R$ 129,2 bilhões restantes, então, não passam de mera retórica afirmativa.
Mas a conta não acaba aí. Vem outra que estraga ainda mais o prazer de sorver aqueles R$ 198,4 bilhões que a propaganda caprichou em caixa alta: se vamos aplicar R$ 69,2 bilhões em 4 anos, então serão, na média, R$ 23 bilhões por ano, o que significa “meros” 0,4% do PIB de 2014 (R$ 5,5 trilhões), que, pelo andar da abóbora, não será menor que o de 2015.
Mas os fatos nus, melhores que nada, não arredam o mérito do PIL. Se o plano for, mesmo, real e imediato, será consequente, pois o Brasil precisa, rápido, dar tratamento nos gargalos da infraestrutura e isso não será equacionado sem um plano agressivo de concessões públicas.
O que eu tento demonstrar é como somos ainda, por todos os governos, em todas as esferas da Federação, tratados como imbecis pela propaganda. O anúncio do PIL é mais um exemplo de que à propaganda apenas interessa vender uma versão para garantir uma percepção e quem quiser que procure os fatos nas entrelinhas.
Sorte sua que a "presidenta" não lê esse blog. Senão o ostracismo iria continuar, aí nem CDP nem nada...
ResponderExcluirE não sou eu que adoro não precisar?
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