A Petrobras vista por um mestre em finanças corporativas dos EUA

Shot 014

Aswath Damodaran, professor de finanças corporativas da “Stern School of Business”, da Universidade de Nova York, considerado um dos maiores experts em análise de retorno dos EUA, escreveu sobre a Petrobras, também um dos assuntos mais falados nas rodas de "valuation" do setor.

Afirma Damodaran que a Petrobras enveredou por uma trilha que a depreciou em US$ 200 bilhões, mesmo antes da queda do preço do petróleo, o que o levou a opinar que a empresa “é um exemplo perfeito de como destruir valor”.

"A maneira como a Petrobras vem sendo gerida desafia tanto o senso comum e os princípios básicos das finanças corporativas que, se eu fosse adepto da teoria da conspiração, facilmente aceitaria a ideia de que tudo isso faz parte de um plano diabólico para destruir a empresa", escreveu Damodaram.

A análise é de viés gerencial e não considera os episódios de corrupção que estão sendo apurados. Abaixo os principais pontos que, segundo Damodaram, fizeram a empresa perder valor de mercado:

1. A Petrobras investiu sem a menor preocupação com a qualidade dos investimentos e com o retorno deles, coisa primária na estratégia de valoração empresarial. Entre 2009 e 2014, a Petrobras intensificou suas despesas de capital e custos de exploração além de 35% das receitas, bem acima dos 15-20% investidos por outras empresas petrolíferas.

2. A Petrobras viu as suas receitas crescerem de US$ 17,4 bilhões em 1997, para US$ 135,8 bilhões em 2014, mas as margens de lucro caíram drasticamente, tendo o governo contribuído para este crescimento disfuncional, ao colocar pressão sobre a empresa para vender a gasolina a preços subsidiados.

3. O governo trata a Petrobras como uma empresa de serviços públicos e o seu fluxo de caixa é direcionado, desde a década de 90, para o pagamento de altos dividendos, o que não é recomendável para empresas em processo de crescimento disfuncional como ela experimentava.

4. Em 2010, a Petrobras levantou US$ 79 bilhões em patrimônio líquido, mas tem se tornado dependente da dívida e do seu financiamento. Como consequência, fechou 2014 devendo US$ 135 bilhões, mais do que qualquer outra empresa de petróleo do mundo.

Damodaran critica a governança corporativa da Petrobras, que protege os interesses do governo a qualquer custo, direcionando as ações empresariais e os investimentos para alavancar interesses políticos.

Afirma, Damodaran, que o valor das petroleiras tem maior relação com os preços do barril de petróleo do que com o capital imobilizado, e sugere que os erros gerenciais que levaram a Petrobras ao atual cenário de deságio a tornam de retorno eventualmente arriscado se o preço do barril ficar abaixo de US$ 51,69. Nesse caso, o fluxo de caixa da empresa não seria suficiente para pagar a dívida de US$ 135 bilhões, achacando-lhe a ação para perto de zero.

Mas, observa Damodaran, em sendo a Petrobras uma das maiores produtoras de petróleo do mundo e, embora de exploração questionável, dona da quinta maior reserva petrolífera do mundo, se o preço do barril ultrapassar a média atual de US$ 51,69 e o gerenciamento dela for redirecionado empresarialmente, a estatal se reerguerá.

Ao final, sem cobrar nada, dá sete conselhos ao novo presidente da estatal, Aldemir Bendine, para recuperar a empresa:

1. Contrate um diretor operacional que entenda de óleo e gás;

2. Demita qualquer alto executivo com algum elo político; (Ui!)

3. Busque se alinhar aos conselheiros que representam minoritários e defenda um conselho com maior independência e transparência;

4. Recuse-se a subsidiar combustíveis; (Ui2!)

5. Defenda que a Petrobras tenha apenas uma classe de ações, equilibrando o direito a voto e acompanhe esta atuação zerando o pagamento de dividendos; (Ui3!)

6. Reduza o foco no crescimento, tirando os investimentos em exploração do piloto automático; (Essa providência a Petrobras já tomou)

7. Comece a pagar as dívidas. (Sem perspectivas imediatas)

O professor Damodaran entende de “valuation”, afinal é dono de tal cátedra, mas não entende de política brasileira e não intui que as nossas estatais se comportam como meros braços políticos de qualquer governo.

Para que os sete pontos sejam implementados, é necessário uma palavra que para o atual governo, e para os protonacionalistas, é sacrilégio apenas sugerir: privatização.

Comentários

  1. Francisco Marcio09/04/2015, 13:48

    Vossa Excelência tem coragem de propor isto ao seu amigo do peito: Renan Calheiros?!?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu já lhe disse que só tremo de medo quando a Dona Ann me chama de Parsifal, porque é sinal que o tempo fechou.

      Excluir
  2. Francisco Márcio10/04/2015, 12:43

    Dei-me essa canja, depois de tantos anos de casado, o tempo ainda fecha com a dona Ann? Pensei que quando atingisse o seu tempo de casado, o tempo seria sempre de céu de brigadeiro...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Exatamente porque o céu é sempre de brigadeiro, quando o tempo fecha eu tremo nas bases. E as vezes que já fechou foi exatamente por questões políticas e ela, em 10 das 10 vezes que trovejou até hoje, estava certa.

      Excluir

Postar um comentário

Comentários em CAIXA ALTA são convertidos para minúsculas. Há um filtro que glosa termos indevidos, substituindo-os por asteriscos.

Popular Posts

Mateus, primeiro os teus

Ninho de galáxias

O HIV em ação