Não é o fim do mundo

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Os arautos da catástrofe anunciada pululam aos quatro cantos que a derrota do governo na eleição do presidente da Câmara Federal é o apocalipse do Planalto.

Isso vindo de leigos no processo político é aceitável, mas vindo de articulistas políticos fornidos nas alcovas brasilianas é no mínimo alarmismo e no máximo má fé.

O governo perdeu a eleição na Câmara Federal porque titubeou em bater de forma aberta contra um candidato do PMDB, maior partido da sua base aliada e fez o jogo tardio de peitá-lo depois que teve do PMDB a garantia de que o deputado Eduardo Cunha não seria a ovelha que colocaria o rebanho todo a perder.

Todavia, o governo, envolvido em uma campanha de reeleição, não percebeu que o PMDB só lhe deu aquela garantia depois de ter certeza de que Eduardo Cunha estava consolidado na disputa e a única forma de perder seria não disputar.

Achar que o PMDB desprezaria Eduardo Cunha no chapadão, de vera, seria um equivoco elementar e no gabinete presidencial e ilhargas não habitam néscios. Néscios, a propósito, não chegam em Brasília, portanto, o Planalto entendendo o jogo, meramente resolveu ceder à pressão do PT, que exigia um candidato chapa branca.

O Planalto entrou na liça apenas para dar uma satisfação ao PT, mesmo com a clareza de que, em todas as contagens e recontagens, Cunha era o franco favorito. Portanto, quem perdeu a eleição na Câmara não foi o governo, mas o PT, pois governos sempre ganham eleições legislativas, mesmo quando perdem.

Por seu turno, em Eduardo Cunha já tendo conseguindo o seu intento (ser o interlocutor da Câmara Federal com o Planalto), não vai se vestir de cavaleiro do derradeiro selo, pois se atear fogo na Praça dos Três Poderes será ele mesmo uma das vítimas pelo mero fato de morar nela.

A eleição de Cunha para presidente da Câmara, portanto, não é a tragédia que pregam para o Planalto, mas uma reordenação na correlação de forças na República e a presidente Dilma tem a clareza de que, doravante, não deve encomendar apenas para o presidente do Senado as empreitadas que demanda ao Poder Legislativo, mas também chamar o presidente da Câmara Federal, que saiu do piloto automático e passa a ter timoneiro dotado de caprichos.

Nenhum desses caprichos, todavia, é de tamanho tão grande que possa resistir aos afagos do governo, que já corre para fazer as devidas vênias, cujo primeiro ato foi uma ligação da própria presidente, em tom cordialíssimo, ao deputado Eduardo Cunha, parabenizando-o pela vitória, que, gentilmente, agradeceu colocando-se à disposição de Sua Excelência.

Parafraseando James Carville, “é a política, estúpido!”

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