De ministros, oráculos, gastrites e refluxos

O engenheiro naval Joaquim Levy, que já manejava o timão do Ministério da Fazenda desde dezembro, recebeu ontem (5), oficialmente, o cargo.

O ex-ministro Guido Mantega, que conquistou o título de ministro da Fazenda que mais permaneceu no cargo no Brasil, não compareceu para passar o leme, que foi entregue a Levy pelo secretário executivo do Ministério, Paulo Caffarelli.

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Levy chegou esbanjando economês: avisou que “possíveis ajustes em alguns tributos serão considerados, especialmente aqueles que tendam aumentar a poupança doméstica e reduzir desbalanceamentos setoriais da carga tributária”, ou seja, bancou aquele oráculo que, ao ser indagado por um rei que se fazia à guerra, respondeu que “um grande exército pereceria”. O rei só constatou que o “grande exército” era o dele mesmo quando se viu cercado pelo inimigo.

E teve mais: “A harmonização da tributação dos instrumentos de investimento será essencial para a expansão do mercado de capitais e o financiamento interno competitivo. Essa seria a fórmula para [resolver] o baixo crescimento endêmico”.

Eu achava que harmonização era conversa de sommelier, para oferecer o vinho certo com a refeição referente. É fato que decisões de equipes econômicas são pratos feitos, mas descem sem vinho mesmo.

E Levy continuou a profecia: “de uma forma ou de outra, nossa economia se transformará”. Qual a forma que você prefere? A uma ou a outra?

“O Ministério da Fazenda está preparado para apoiar a superação de eventuais e pontuais desafios ao bom e ordenado funcionamento da economia, mas a ilusão de que a garantia financeira do tesouro pode ser o manto que suprima, adie e contorne a necessidade de se enfrentar problemas, atos ou distorções em qualquer setor não deverá encontrar guarida, porque essa ilusão apenas enfraqueceria nossa economia, cujos fundamentos hoje são saudáveis”, concluiu o novo timoneiro.

As “distorções”, que transformam o tesouro em um manto,  já começaram a ser combatidas: a limitação do seguro-desemprego e a diminuição das pensões por morte, foram recepcionadas pelo Planalto. Mas um dos atos que os novos marinheiros anunciaram para evitar “que a garantia financeira do tesouro seja um manto que contorne o enfretamento do problema”, a política do aumento real do salário mínimo, foi desautorizado pela comandante em chefe da armada.

Nos meus palpites econômico-políticos de botequim dos tempos do Corujão (bons tempos aqueles…), acho que a presidente está certa: fiscalismo demais pode dar gastrite política como efeito e refluxo eleitoral como consequência. Além do mais, por que será que todo fiscalista só quer harmonizar o paladar em cima do proletariado?

Comentários

  1. Após ler o texto do Ministro da Fazenda, atualizado, comentado e mastigado, sugiro um post do texto do Ministro da Pesca, que falou de "sinergia entre Ministérios" a "filetes e cabeças de peixes"

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    1. E você não sabe o que é sinergia? E nunca comeu um filet de peixe ou uma deliciosa sopa de cabeça de gurijuba?

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    2. Moro no Lago Azul, nunca tomei sopa de cabeça de peixe.

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    3. Então está mais fácil do que eu achei: bata na porta do seu vizinho no próximo domingo e proponha que ele lhe sirva uma sopa de cabeça de peixe. Leve o vinho branco para harmonizar.

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  2. Parsifal, o que você acha da Dilma estava fazendo o contrário do que prometeu na eleição?

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    1. É a vida real que sempre chega depois que a eleição passa.

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    2. É verdade. Mas não acha isso muito desonesto. As pessoas votaram nela tendo uma coisa em vista e tão recebendo o oposto.

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    3. É verdade. Mas você não acha pernicioso pro país ter uma eleição vencida em uma plataforma totalmente mentirosa? Os eleitores votaram tendo uma coisa em vista e tão recebendo o oposto

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    4. Sim, é pernicioso. Eis o problema nas democracias de transição, como a que vivemos: o marketing eleitoral vende candidato como quem vende sabão Omo ou TV de tela curva. E o eleitor, mesmo sabendo que ao chegar em casa o efeito do detergente vai ser o mesmo e a imagem da TV só aquela beleza de nitidez na loja, compra ambos. Há um pacto de mediocridade entre o eleitor e o eleito.
      Mas isso já foi pior. A tendência é melhorar o nível do eleitor para que melhore o nível do eleito.

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  3. ha uma ideologia econonomica feita para criar um mundo economico ao gosto dos grandes banqueiros, nesse mundo as pessoas comuns tem pouca chance de ser felizes.
    Nas finanças do governo federal nao pode haver filosofia empresarial.

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