Quatro dias antes de morrer, Ulysses Guimarães confidenciou a Reale Júnior que sairia do PMDB

Na tarde de 08.10.1992, a secretária do jurista Miguel Reale Júnior passou-lhe uma ligação: era o deputado federal Ulysses Guimarães.

O Doutor Ulysses foi direto ao ponto:

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O “Itamar” era Itamar Franco, então presidente da República; o Fernando era FHC e o Covas era Mário Covas.

Antes que Reale retrucasse algo, o Doutor Ulysses explicou o porquê do aviso para que o assunto fosse resguardado até o meio-dia:

O Itamar é muito sensível. Se ele souber que algum dos outros souberam antes, ele vai criar problema. Mas quero que os outros saibam logo. Então, lá pelo meio-dia, já terei conversado com o presidente e você poderá falar com eles."

O autor das confidências é o próprio Reale Júnior, que sonegou o diálogo à grande imprensa por 22 anos, revelando-o a poucos amigos.

Mas eis que a fatalidade impediu que Ulysses Guimarães, o ícone do PMDB, fundasse o grande partido parlamentarista que pretendia: em 12.10.1992, quando voltava de Angra dos Reis, o helicóptero que o conduzia, com a esposa, D. Mora, o ex-senador Severo Gomes, a esposa deste e o piloto, desapareceu no mar e nunca foi encontrado.

Ulysses Guimarães comandou a oposição nos duros tempos da ditadura e a sua morte se fez na perfeita tradução da definição da morte dos soldados dada  por uns dos mais cultuados comandantes da Segunda Guerra, o General Douglas MacArthur, no seu magnífico discurso quando recebeu a mais alta condecoração dos EUA, concedida pelo Congresso:

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As crônicas da tragédia de Ulysses contam que ele insistiu em decolar de Angra dos Reis em uma segunda-feira de tarde nublada, mesmo com o apelo dos amigos que temiam o mau tempo.

Reale debita a ansiedade dele em ignorar o aviso, à resolução de comunicar Itamar Franco, com quem tinha uma audiência na terça (13), às 9 da manhã, a decisão de mudar o cenário político nacional com a criação de um partido parlamentarista.

A decisão de Ulysses não era aleatória, mas de interesse político legitimamente republicano: ele não conseguira unir o PMDB na defesa incondicional do parlamentarismo no plebiscito que seria votado em 1993 e por isso começou a maquinar a formação de uma ampla frente de políticos, juristas e condestáveis da República que defendiam o regime parlamentarista.

A proximidade do plebiscito, a convicção parlamentarista, a mágoa com o PMDB que, em 1989, desprezou-o no chapadão da eleição presidencial, e o isolamento partidário ao qual foi renegado, depois de comandar a oposição à ditadura e promulgar a Carta de 1988, pesaram na decisão de Ulysses.

Ulysses já era um poço até aqui de mágoas com o PMDB, que lhe preteriu e elegeu Orestes Quércia para presidir o partido, o que teve como efeito ver os seus principais aliados deixarem a legenda para, em 1988, formarem o PSDB.

É fato que se o helicóptero que conduzia Ulysses tivesse pousado no Rio de Janeiro a história política nacional seria diferente hoje. Se Ulysses contava com 60 deputados na empreitada, o levante não sairia apenas do PMDB, mas também do PSDB, onde já estavam perfilados os principais membros da resistência ao regime militar e isso, por si só, já faria surgir um partido de escol.

Reale supõe que os próprios líderes do PSDB poderiam aceitar a fusão da sigla com o novo partido:

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José Serra manifestou-se sobre a fala de Reale Júnior:

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Pedro Simon (PMDB-RS) que, aos 84 anos, despediu-se do Senado na semana passada, após quatro mandatos seguidos de senador, declarou que não chegou a ser contatado por Ulysses sobre o assunto, mas que a ideia seria bem-vinda.

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A expectativa do parlamentarismo no Brasil afogou-se junto com Ulysses Guimarães, pois somente ele teria envergadura para comandar os próceres que defendiam o regime em uma frente nacional capaz de influenciar a nação no plebiscito.

Na falta de Ulysses, uma mofina frente foi comandada pelo ex-governador paranaense José Richa, que não tinha o carisma do "Senhor Diretas".

No plebiscito, o presidencialismo foi apoiado por Lula, Paulo Maluf e Leonel Brizola, todos pré-candidatos ao Planalto, pregando que apenas o presidencialismo permitiria ao povo continuar realizando o sonho de votar para presidente, depois do longo jejum da ditadura.

E assim segue o presidencialismo de coalização, um dos óbices a uma governança menos depauperada e mais eficaz, onde o PT e o PSDB, totalmente desvirtuados da essência que os criou, se revezam no poder.

O PMDB, que sustentou o muque da resistência e fez capilaridade no território nacional, transformando-se no maior partido do Brasil, ao invés de se valer do seu tamanho para romper a polarização instalada na República, dele se vale para ser o pêndulo da governabilidade, o que o torna tão distante da sua origem quanto os polos que eventualmente sustenta.

Comentários

  1. Em época onde a imprensa brasileira, principalmente a grande mídia insiste em falar de golpe, vale lembrar que bem próximo do início da ditadura militar de 1964, quando da renúncia renúncia de Jânio Quadros, o presidente João Goulart só assumiu o governo, com a mudança do Brasil para o parlamentarismo. Por sinal o primeiro ministro nesta rápida passagem foi nada menos do que Tancredo Neves.

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  2. O sr. tem razão. Porque o PMDB se presta a ser muleta do PT? O PT diz que o governo é dele, mas quem colocou o PT na Presidência foi o PMDB. Explique essa aliança do PMDB com o PT porque de politica não tem nada. Porque o PMDB se satisfaz a ser mero figurante, quando é ele que enche a bilheteria?

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    1. Falta de uma liderança nacional que una os reinos.

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  3. Claro que na política, felizmente, ainda há honrosas exceções. Deus é brasileiro, né? A política, há anos frequenta mais as páginas policiais que as que eventualmente exaltem os bons exemplos. Estabeleceu-se, e não é só no âmbito deste governo federal, o coalizão pela tal governabilidade, que mais é uma coalizão de resultado$, com cifrão mesmo. Prefeituras, Estados e a União são reféns de uniões espúrias que assaltam diuturnamente os cofres públicos. Como é difícil explicar batom na cueca, flagrados em ilícitos, políticos caem de pau na tal " grande imprensa ". Acontece que não foi a imprensa que construiu o Mensalão e o Petrolão. Esses escândalos não são invenções subversivas, como o Lula quis fazer as pessoas acreditarem. Políticos de alto coturno foram condenados e cumprem, ou cumpriram penas por corrupção. Corrupção, senhores! Ao que consta, os veículos da tal "grande mídia " não foram acionadas judicialmente e condenadas por conspiração. Cabe tão somente aos políticos reverterem essa percepção que o Congresso Nacional e as Casas Legislativas nos Estados e Municípios não são apenas lugares para acoitarem malfeitorias. Nesse sentido, é incompreensível a postura submissa, agachada e servil do PMDB. Falta coragem ao Partido purgar seus pares useiros e vezeiros em maracutaias que nos assombram a cada dia, e não darem sustentação política aos roubos que vemos todo santo dia. Essa promiscuidade entre financiadores e políticos emperra o desenvolvimento, propicia o surgimento de tenebrosas notícias, e o dinheiro, tão escasso hoje em dia, face à estagnação do país, falta à saúde, à educação e à segurança. Aqui em Tucuruí há um caso emblemático desse conluio entre empresas, Governo e a cumplicidade de políticos. Ao custo estimado em dois bilhões de reais construiu-se uma eclusa na hidrelétrica de Tucuruí, inaugurada com pompa há três anos pelo Lula, em companhia da Dilma, mas até hoje, nenhuma canoa foi beneficiada com essa obra, necessária, é verdade, mas os sábios se esqueceram que para a eclusa funcionar plenamente é necessário o derrocamento do Pedral do Lourenço. Movidos apenas pelo interesse financeiro em alimentar os bolsos de muita gente, o governo mandou executar a obra e a Camargo, talvez de braços dados com suas fraternas irmãs, embolsaram uma grana preta, que se procurar direitinho, parte vai ser encontrada em paraísos fiscais ou nos bolsos de algum laranja. Doutor Ulysses deve estar se revirando no fundo do mar que lhe serviu de leito de morte, decepcionado com os rumos que o PMDB tomou. O PMDB se apequena, se agacha e é triste ver Renan. Sarney, Jucá, a cara de paisagem do Temer e outros espécimes capitaneando o Partido. É triste, lamentável ver um homem da estatura moral de Pedro Simon ser uma voz isolada no Partido a denunciar aleivosias. Depois, os políticos acham estranho que a sociedade lhe dê tão pouco crédito.

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  4. Pelo final da postagem dá para perceber que o proprietário do espaço, pretende se distanciar dos petistas. Lembrando apenas que durante o último período eleitoral o seu pensamento era bastante diferente. Razão tem quem diz, que a política brasileira é regulada pelas circunstâncias.

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    1. Percebeu de forma equivocada. PMDB e PT são aliados e não tenho nenhuma intenção de me distanciar dos petistas. A crítica é ao PMDB que deveria providenciar uma candidatura presidencial tendo o PT próximo, com o candidato a vice, por exemplo.

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    2. HAHAHAHAHAHAHA
      O PMDB não passa de um mero subserviente do PT! O PT NUNCA vai largar o osso, meu amigo! Não sonhe com isso! O PMDB precisa se distanciar o quanto antes do Petê, pois daqui a 4 anos não tem ninguém desse partideco pra se eleger, pois, se Deus quiser, o Lula vai morrer daqui a pouco tempo!!!

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  5. Onde há uma foto de Pedro Simon eu paro pra ler. Sempre que o via em discurso pela TV senado me sentava e ia escutar. Um dos poucos políticos que admiro. Não o conheço fora de suas declarações e falas, mas acrrditando nelas respeito esse homem.

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  6. Caríssimo Parsifal, hoje aprendi a acessar a teu blog. Parabéns pelo belo trabalho que desenvolves. Espero sempre contar com as tuas valiosas e corretas informações . Abraços do teu velho amigo, Ronaldo

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    1. Olá meu amigo Ronaldo. É um prazer tê-lo por aqui e saber que tenho leitores da sua envergadura. Um grande abraço e volte sempre.

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  7. Parsifal...voce acha que já estão quebrando a forma do politico matriz que nos acostumamos a conviver ou ainda vamos precisar de algumas gerações?

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    1. Já estão quebrando, mas ainda há um longo caminho a percorrer.

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  8. Parsifal, Já que o PMDB é dividido por te varias lideranças regionais que não se entendem nacionalmente. Para o PMDB e para a politica nacional é saudável uma divisão em dois grandes partidos

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    1. Pela sua solução teriam que ser não dois, mas 27 partidos que correspondem a 26 estados e ao DF, pois em cada uma dessas unidades há um líder forte que não aceita ser liderado por outro.

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    2. Então a situação na será resolvida o PT tem 3 tendências e não se intendente faça idéia 27.....

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  9. Para ilustrar seus comentários é só lembrar da reunião do PMDB semana passada no intuito de falarem a mesma língua em relação ao impeachment da Dilma.

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  10. Para ilustrar seus comentários basta lembrar da reunião do PMDB semana passada com o intuito de falarem a mesma língua com relação ao impeachment da Dilma.

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  11. Agora teremos o golpe do parlamento é pralamentar.

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  12. * DEMOCRACIA SEMPRE COM RESPEITO CRENÇA COMPETÊNCIA E VERDADES/#

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